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JANIO DE FREITAS
O tempo das dengues
No mesmo ritmo em que a
temperatura decline, por força do outono e, depois, do inverno, o ciclo da dengue também entrará na fase de declínio, com intensidade mais nítida nos Estados do Sudeste,
Sul e Centro. As estatísticas
dos surtos anteriores de dengue sugerem que em mais uns
30 dias, ou começos de maio,
os registros de novos casos já
mostrem queda.
A única ressalva dos pesquisadores sanitaristas é para a
eventualidade de que El Niño
altere o movimento habitual
da temperatura nesta fase do
ano, fazendo-a mais aquecida
por umas semanas. Isso, no
entanto, apenas retardaria
um pouco o declínio da dengue pela má convivência do
seu mosquito com a friagem.
O Ministério da Saúde, por
sua vez, ainda não deixou de
conviver amistosamente com
o seu "inimigo", como o define José Serra. Vejamos se não
é assim.
Percorrer mil quilômetros
de Brasília ao Rio para posar
fazendo uns furinhos em duas
latas vadias, sem qualquer
outro propósito ou resultado
na primeira viagem ministeriosa de Serra, pode ser considerado um ato de suprema
demagogia, como não se via
desde os tempos de Adhemar
de Barros e similares, ou simplesmente como um papelão.
Fico com a segunda hipótese, em parte porque a demagogia, mesmo quando grotesca, é um modo de fazer política -à brasileira, é verdade. O
papelão é ele e nada mais. É o
que acontece quando um ministro despende um dia inteiro e viaja mil quilômetros,
com todos os custos de mordomias e outros aí envolvidos, e
não percorre os 13 quilômetros que o separavam de uma
iniciativa merecedora, ela
sim, de exame como possível
solução contra a proliferação
da dengue.
Em Niterói, a meiga, estão
reunidos os dados que levaram sua aplaudida administração municipal a importar
um inseticida específico para
o mosquito da dengue. Criado
por cientistas cubanos, como
muitos outros produtos de
êxito internacional, o inseticida permitiu a erradicação da
dengue em Cuba, onde era
persistente já por tradição
desde o sul dos Estados Unidos e pelo Caribe abaixo.
Seria nacional o proveito de
uma experiência conjunta, no
uso do inseticida, do Ministério da Saúde com Niterói, a
heróica. Mas José Serra quis
empregar o seu primeiro dia
de ministro para posar fazendo uns furinhos em latas velhas. Cena só comparável à de
Fernando Henrique Cardoso,
no começo da governo, ir de
Brasília ao interior da Bahia
para posar como se desse uma
aula a crianças da escola municipal.
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