São Paulo, sexta, 3 de abril de 1998

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DIREITOS HUMANOS
Decisão foi saída para pressão sofrida por FHC
General acusado de ajudar tortura pede afastamento

da Sucursal de Brasília

O general Ricardo Agnese Fayad, 57, subdiretor de Saúde do Exército, pediu afastamento por seis meses das funções militares. Na prática, significa que ele será exonerado do cargo.
Desde o início de março, o presidente Fernando Henrique Cardoso vinha sendo pressionado por diversos segmentos da sociedade civil para afastar Fayad do cargo. O presidente disse que não tomaria qualquer decisão, mas pressionou de diversas formas para que o Exército e o próprio Fayad buscassem um desfecho que terminasse com o afastamento do general.
Fayad é acusado por grupos de defesa dos direitos humanos de ter sido conivente com sessões de tortura durante o regime militar (64-85). Ele serviu como médico no quartel da rua Barão de Mesquita, na Tijuca (zona norte do Rio), e, segundo as denúncias, sua tarefa era verificar as condições dos presos para suportar torturas.
Saída negociada
Duas semanas atrás, o Alto-Comando do Exército discutiu a exoneração de Fayad, exigida pelo Planalto. O ministro do Exército, general Zenildo Lucena, tratou do assunto com outros oficiais-generais ao longo desse tempo.
O chefe da Casa Militar da Presidência, general Alberto Cardoso, se envolveu no assunto a pedido de FHC. Chegou a ir ao Rio para conversar com alguns oficiais-generais. Ele também se reuniu com o Alto-Comando, que não queria que a saída de Fayad ficasse caracterizada como uma derrota do Exército frente a entidades de direitos humanos.
A saída encontrada por Fayad foi a de pedir licença especial por seis meses, um direito concedido a todos os militares. Com isso, ele continuará recebendo o soldo básico -no caso dele, de general-de-brigada (duas estrelas), equivalente a aproximadamente R$ 3.800-, mas ficará afastado das obrigações militares.
A carta com o pedido foi entregue por Fayad ao ministro do Exército na residência dele, na noite de anteontem (leia texto ao lado). Em seis meses, Fayad terá de optar entre retornar ao Exército ou pedir sua passagem para a reserva. Se não voltar, será considerado desertor. Se voltar, deve assumir função burocrática.



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