São Paulo, sexta, 3 de abril de 1998

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QUESTÃO AGRÁRIA
Sem-terra levou tiro já morto, diz laudo

FABIANA PEREIRA
da Agência Folha

O laudo necroscópico sobre as mortes dos dois líderes sem-terra concluiu que o trabalhador rural Onalício Araújo Barros, o "Fusquinha", levou cinco tiros, sendo o último no chão, à queima roupa, quando ele já estava morto.
O laudo concluiu também que o sem-terra Valentin Serra, o "Doutor", morreu com um único tiro no coração.
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) acusa funcionários e fazendeiros pela morte dos líderes no assentamento Cedere1, em Parauapebas, sul do Pará, na quinta-feira da semana passada.
Os fazendeiros dizem que os líderes foram mortos pelos próprios sem-terra.
O diretor-geral da Polícia Científica do Instituto Médico Legal de Belém (PA), Luiz Malcher, que preparou o laudo, disse que Barros levou quatro tiros à distância (a mais de meio metro), dos quais três o atingiram de raspão no braço e antebraço.
O quarto tiro, segundo Malcher, foi o que matou o sem-terra. Esse tiro o atingiu na axila e atravessou seu corpo, rompendo artérias, parando nas costas. Ele estaria com braços levantados, em movimento de defesa.
Segundo o laudo, o projétil encontrado era de um revólver calibre 38. O quinto tiro, quando Barros estava no chão, foi dado no coração.
O outro sem-terra morto, Valentin Serra, foi atingido com um tiro à distância. A bala o atingiu seu coração e atravessou seu corpo.
"O cadáver de Valentin estava coberto de lama e a pele enrugada como se o corpo tivesse ficado embaixo da lama por muito tempo. Pode-se concluir que pode ter havido uma tentativa de ocultação de cadáver".
O laudo será apresentado na próxima segunda-feira à Delegacia do Interior, em Belém, que então o enviará a Parauapebas, onde está o inquérito policial. O laudo também será enviado ao Ministério Público.
"Na verdade, já concluímos. Só é preciso anexarmos as fotos. Estamos somente montando o laudo para apresentarmos na segunda", afirmou Malcher.
Segundo ele, nenhum dos dois sem-terra apresentou sinais de espancamento ou de violência física.
O Instituto de Criminalística de Belém também divulga na próxima segunda-feira o laudo de vestígios que analisa as roupas das vítimas, manchas de sangue e cápsulas e projéteis encontrados no local das mortes.
Esse laudo também será anexado ao inquérito policial.

Prisões
A juíza de Parauapebas (PA), Maria Vitória Torres do Carmo, decretou ontem a prisão provisória dos fazendeiros Rafael Saldanha do Camargo e Geraldo Teotônio Jota, o "Capota", acusados de cúmplices nos assassinatos dos dois líderes do MST.
A Polícia Civil do Pará colocou oito equipes a procura dos fazendeiros em Parauapebas, onde mora Carmargo, e em Marabá (PA), onde Geraldo Jota é vice-presidente do Sindicato dos Produtores Rurais. Até o fechamento desta edição nenhum fazendeiro havia sido preso.
Com os dois decretos de prisão de ontem, subiu para 11 o número de fazendeiros da região que têm pedidos de prisão preventiva decretados acusados de envolvimento nos assassinato. Todos estão foragidos.
Geraldo Jota era presidente do sindicato na época do "massacre de Eldorado dos Carajás", ocorrido há quase dois anos.
Maria Vargas, irmã do fazendeiro Geraldo Jota, um dos principais líderes dos fazendeiros no sul do Pará, afirmou que os fazendeiros envolvidos no caso vão se pronunciar na próxima semana sobre o assunto.


Colaboraram Ari Cipola e Luís Indriunas, da Agência Folha em Parauapebas (PA)


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