|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUESTÃO AGRÁRIA
Sem-terra levou tiro já morto, diz laudo
FABIANA PEREIRA
da Agência Folha
O laudo necroscópico sobre as
mortes dos dois líderes sem-terra
concluiu que o trabalhador rural
Onalício Araújo Barros, o "Fusquinha", levou cinco tiros, sendo
o último no chão, à queima roupa,
quando ele já estava morto.
O laudo concluiu também que o
sem-terra Valentin Serra, o "Doutor", morreu com um único tiro
no coração.
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) acusa
funcionários e fazendeiros pela
morte dos líderes no assentamento Cedere1, em Parauapebas, sul
do Pará, na quinta-feira da semana passada.
Os fazendeiros dizem que os líderes foram mortos pelos próprios sem-terra.
O diretor-geral da Polícia Científica do Instituto Médico Legal de
Belém (PA), Luiz Malcher, que
preparou o laudo, disse que Barros levou quatro tiros à distância
(a mais de meio metro), dos quais
três o atingiram de raspão no braço e antebraço.
O quarto tiro, segundo Malcher,
foi o que matou o sem-terra. Esse
tiro o atingiu na axila e atravessou
seu corpo, rompendo artérias, parando nas costas. Ele estaria com
braços levantados, em movimento
de defesa.
Segundo o laudo, o projétil encontrado era de um revólver calibre 38. O quinto tiro, quando Barros estava no chão, foi dado no coração.
O outro sem-terra morto, Valentin Serra, foi atingido com um
tiro à distância. A bala o atingiu
seu coração e atravessou seu corpo.
"O cadáver de Valentin estava
coberto de lama e a pele enrugada
como se o corpo tivesse ficado embaixo da lama por muito tempo.
Pode-se concluir que pode ter havido uma tentativa de ocultação de
cadáver".
O laudo será apresentado na
próxima segunda-feira à Delegacia
do Interior, em Belém, que então
o enviará a Parauapebas, onde está
o inquérito policial. O laudo também será enviado ao Ministério
Público.
"Na verdade, já concluímos. Só é
preciso anexarmos as fotos. Estamos somente montando o laudo
para apresentarmos na segunda",
afirmou Malcher.
Segundo ele, nenhum dos dois
sem-terra apresentou sinais de espancamento ou de violência física.
O Instituto de Criminalística de
Belém também divulga na próxima segunda-feira o laudo de vestígios que analisa as roupas das vítimas, manchas de sangue e cápsulas e projéteis encontrados no local das mortes.
Esse laudo também será anexado
ao inquérito policial.
Prisões
A juíza de Parauapebas (PA),
Maria Vitória Torres do Carmo,
decretou ontem a prisão provisória dos fazendeiros Rafael Saldanha do Camargo e Geraldo Teotônio Jota, o "Capota", acusados de
cúmplices nos assassinatos dos
dois líderes do MST.
A Polícia Civil do Pará colocou
oito equipes a procura dos fazendeiros em Parauapebas, onde mora Carmargo, e em Marabá (PA),
onde Geraldo Jota é vice-presidente do Sindicato dos Produtores
Rurais. Até o fechamento desta
edição nenhum fazendeiro havia
sido preso.
Com os dois decretos de prisão
de ontem, subiu para 11 o número
de fazendeiros da região que têm
pedidos de prisão preventiva decretados acusados de envolvimento nos assassinato. Todos estão foragidos.
Geraldo Jota era presidente do
sindicato na época do "massacre
de Eldorado dos Carajás", ocorrido há quase dois anos.
Maria Vargas, irmã do fazendeiro Geraldo Jota, um dos principais
líderes dos fazendeiros no sul do
Pará, afirmou que os fazendeiros
envolvidos no caso vão se pronunciar na próxima semana sobre o
assunto.
Colaboraram
Ari Cipola e Luís Indriunas, da
Agência Folha em Parauapebas (PA)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|