São Paulo, domingo, 03 de junho de 2001

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Desgaste do governo com denúncias e renúncias enfraquece Serra como candidato natural da base aliada

Crise "apaga" opção da tríplice aliança

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dois meses depois de comemorar a quase viabilização do nome de José Serra (PSDB) como candidato a presidente em 2002, os três principais partidos que sustentam o governo Fernando Henrique Cardoso estão agora sem opção definida para a sucessão.
PSDB, PMDB e PFL estavam se acostumando com a condição de José Serra como candidato natural depois da pesquisa Datafolha de 21 de março passado, na qual o ministro da Saúde tinha 10% das preferências. Bastaria que Serra batesse em 14% ou 15% em janeiro de 2002 para se consolidar como o candidato governista.
Mas de março para cá, o governo foi abalado pela crise do painel eletrônico do Senado (que resultou nas renúncias de dois senadores), pela operação abafa contra a CPI da corrupção e, mais importante, pelo risco de apagão que atingirá todos os eleitores.
Aparentemente, Serra interrompeu sua trajetória ascendente, segundo pesquisas do governo e um levantamento do Instituto Sensus, encomendado pela CNT (Confederação Nacional do Transporte). Realizada entre 18 e 24 de maio, essa pesquisa traz o tucano com, no máximo, 9,9%.
Para piorar o quadro, dentro do PSDB começam a surgir vozes discordantes mais fortes contra o nome natural de Serra. O próprio FHC, em conversa com o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB), disse contar, entre os tucanos, com três nomes para sucedê-lo: José Serra e os governadores Tasso Jereissati (Ceará) e Geraldo Alckmin (São Paulo).
A inclusão de Alckmin foi uma surpresa para Jader. Até há duas semanas, só uma ala do PFL anunciava o desejo de inflar o nome do tucano paulista, para combater a candidatura Serra. Agora, o próprio FHC cita o governador na lista de presidenciáveis.
No PMDB, a atual cúpula comandada por Jader tem dúvida se o partido terá forças para frear o avanço da candidatura presidencial de Itamar Franco, governador de Minas Gerais. Se ele for o candidato, fracassa a tentativa de reedição da aliança que elegeu FHC, uma vez que o PSDB jamais apoiará o governador mineiro.

Carlistas
No PFL, a situação é ainda menos cômoda. Os peemedebistas, em hipótese extremada, acabarão apoiando Itamar Franco e terão um candidato competitivo. Os pefelistas não têm a quem apoiar dentro do partido.
O nome de maior projeção nacional do PFL ainda é Antonio Carlos Magalhães, ex-senador que renunciou ao cargo na última quarta-feira. Mas nem ele quer sair da Bahia nem o PFL o lançaria, prevendo fortes resistências nas regiões Sul e Sudeste.
Nos últimos dias, o presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen, trabalha para atrair o prefeito do Rio, César Maia, para a sigla. Maia ainda está no PTB, mas sua saída é dada como certa antes de 30 de setembro, prazo final para filiações válidas para a eleição.
Dentro do Palácio do Planalto, a última idéia sobre a sucessão é que talvez seja necessário fazer alguns arranjos no ministério para reforçar, no PMDB e no PFL, os grupos favoráveis à manutenção da aliança. É ao longo desta semana que FHC deve tomar a decisão.


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