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ELIO GASPARI
Mensagem de
jk@peixevivo.org.br
Estimado Lula,
Estive hoje com o dr. Getúlio. Ele deveria assinar esta
mensagem comigo, mas, desde
1954, se recusa tanto a escrever
cartas como a atirar. Acreditamos que lhe devemos uma ajuda. O distinto líder popular tem
uma propensão para festejar o
fracasso e uma dificuldade para
antever o sucesso.
Ambos temos grande admiração pelo senhor. Vargas considera-se responsável pela sua
vinda para São Paulo. Exagero
dele. É verdade que sua mãe lhe
trouxe de Pernambuco em 1952,
mas eu sustento que sem o meu
programa de metas, que duplicou a produção da indústria de
base brasileira, o senhor ainda
estaria vendendo tapioca no
Ipiranga. De qualquer maneira,
sem o dr. Getúlio e este seu amigo e admirador, o Brasil não teria metalúrgicos. Ambos acreditamos que temos algum crédito
quando um ex-operário disputa
a Presidência da República.
Aqui onde estamos é proibido
enganar os outros, e isso nos leva a dizer a verdade: temos horror a esse negócio que estão fazendo por aí. O Getúlio chora
quando lembra que venderam
Volta Redonda. Outro dia o
Franklin Roosevelt, de quem ele
arrancou a usina, disse que, se
fosse para vendê-la, não a teria
dado ao governo brasileiro. Eu
choro quando lembro que venderam a Usiminas a troco de
uma papelada podre saída do
meu pólo naval falido.
Nossa recomendação é simples: abandone o fracasso, ele é
contagioso. Afaste-se da ruína
de FFHH. Pare de falar que as
coisas deram, dão e darão errado. Fale só daquilo que dará certo no seu governo. Veja o caso
do Carlos Lacerda. Ele vivia do
fracasso alheio. Foi um grande
governador da Guanabara, e
ninguém se lembra disso. Só se
lembram das malfeitorias que
fez ao dr. Getúlio e a mim. Faço-lhe uma inconfidência: o "Carlos" não está mais aqui. Meteu-se numa encrenca e foi transferido.
O prezado amigo tem uma
paixão incompreensível pelo
fracasso alheio. Colecionamos
dois exemplos e gostaríamos
que refletisse sobre ambos.
Em agosto de 1998, na sua última campanha, o governo dizia que o desemprego estava
acabando. O ministro do Trabalho chegou a anunciar que
não havia crise de desemprego,
mas de "empregabilidade", e
seus adversários comemoraram
uma melhoria dos índices.
Quando a percentagem de desempregados foi a 19% na Grande São Paulo, o senhor disse que
"como Deus é grande, e ainda
não foi privatizado, o desemprego subiu". No mesmo dia corrigiu-se, dizendo que cometera
um ato falho. Vá lá.
Outro dia, depois do jogo contra a Bélgica, o amigo resolveu
atacar o ministro Pedro Malan
e disse que "os fundamentos do
futebol para o Felipão são mais
ou menos iguais ao fundamento
da economia do Malan: todo
mundo sabe o que tem que fazer
e não faz". E agora?
Se a analogia é procedente, o
Malan vai desfilar em carro
aberto segurando uma caveira e
será aplaudido, porque nosso
querido povo festejará ainda
por muito tempo qualquer coisa
que esteja ligada ao Felipão. O
amigo dava um tiro fácil no ministro, associando-se equivocadamente a um eventual fracasso
da seleção. Para quê? Se o Brasil
ganhasse, Lula perdia. E, se o
Brasil perdesse, Lula não ganhava.
Dr. Getúlio está particularmente preocupado com essa sua
postura. Com aquela lógica fria,
sustenta que o gênero humano
produz mais fracassos do que
sucessos. Portanto, se um cidadão sai por aí dizendo que as
coisas vão dar errado, acabará
acertando mais do que errando.
Apesar disso, ninguém haverá
de segui-lo, porque esse mesmo
gênero humano não busca a
precisão de julgamento, mas o
êxito. Segue a esperança. Torce
por uma seleção que perdeu para Honduras e vive a delícia da
vida ao ver que a Copa é nossa.
Outro dia jantamos com o
Churchill. Ele nos contou que
assumiu o governo inglês convencido de que seu exército seria
dizimado em Dunquerque. Prometeu sangue, suor, lágrimas e
trabalho duro para a vitória,
não para azucrinar o fracasso
de seus amigos conservadores.
Veja o que eu disse na fundação de Brasília: "Deste planalto
central, desta imensidão, que
em breve se transformará no cérebro das altas decisões nacionais, lanço os meus olhos sobre o
amanhã do meu país e antevejo
esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem
limites no seu grande destino".
Anteveja, Lula.
Despeço-me do ilustre patrício, pois vou levar o Garrincha
para jantar com o dr. Getúlio.
Aquele garoto, como você, tinha
tudo para dar errado. Chegou a
um grande destino porque teve
uma fé inquebrantável e uma
confiança sem limites nas suas
pernas tortas.
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