São Paulo, sábado, 03 de julho de 2004

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RETÓRICA

Presidente compara auto-estima dos brasileiros à luta dos vietnamitas

Lula diz que crescimento começou e "não terá volta"

FÁBIO GUIBU
DA AGENCIA FOLHA, EM CANAÃ DOS CARAJÁS

Mais de um ano depois de anunciar para julho de 2003 o início do "espetáculo do crescimento", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, após 18 meses de governo, que o país "entrou em uma rota de crescimento econômico que não terá volta".
"Fizemos todos os sacrifícios que tínhamos que fazer", disse ele, durante solenidade de inauguração do maior complexo de extração e beneficiamento de cobre do país, em Canaã dos Carajás (PA), da Companhia Vale do Rio Doce. "Vocês acompanharam o que nós passamos. Completamos 18 meses de governo, não reclamamos, não choramos, não lamentamos, porque não queríamos ficar apenas diagnosticando o que não tinha sido feito", disse.
Lula afirmou que seu governo preparou o Brasil "com muito sacrifício" para este momento e elogiou a auto-estima do brasileiro, comparando-a com a reação dos vietnamitas durante a guerra contra os EUA. "Todo mundo tinha em conta que era chegar lá, os americanos darem um tiro e correr para o abraço", afirmou. "Passado algum tempo, eles descobriram que (...) estavam enfrentando um povo que, acima de tudo, (...) tinha um canhão em cada gesto, em cada atitude. O final da história todo mundo sabe, e isso é um pouco do que eu vejo aqui."
A Guerra do Vietnã opôs o Vietnã do Norte (comunista) ao Vietnã do Sul, Estado organizado pela França e apoiado pelos EUA. Os primeiros 35 militares dos EUA chegaram ao Vietnã em 1951 para ajudar a França, cujas forças são derrotadas em 1954. O país é formalmente dividido em dois. Em 1960, os comunistas criam uma frente (Vietcong) para derrubar o regime do sul, levando os EUA a ampliar sua presença militar. Os americanos chegaram a manter 540.000 soldados no país, mas não tiveram êxito. Deixaram o Vietnã do Sul em 1973, que caiu em 1975.
O presidente recebeu de um representante dos empregados da Vale uma camiseta com a inscrição: "Este é o meu primeiro emprego". Lula disse: "Vocês vão ver como vai ser bom receber o primeiro salário. Vão ver também que não vai dar para pagar todas as dívidas que vocês contraíram por conta do primeiro emprego".
O presidente e sua comitiva, integrada entre outros pelos ministros José Dirceu (Casa Civil) e Dilma Rousseff (Minas e Energia), chegaram a Canaã dos Carajás às 10h40, de helicóptero. Não viram as manifestações de sem-terra e produtores rurais na rodovia de acesso à cidade. Os dois grupos, em pontos distintos, estenderam faixas dirigidas a Lula. Os lavradores pediam reforma agrária, e os produtores elogiavam a Vale.
Lula passeou em um caminhão com capacidade para transportar 240 toneladas de minérios, dirigido por uma mulher, Maurinei Rocha, 23. Depois, acionou o sistema de esteiras que transporta o minério de cobre da mina à usina.
Na solenidade, Lula também homenageou a candidata do PDT à Prefeitura de São João do Araguaia (PA), Teresa Cristina Batista Carneiro, que morreu ontem em um acidente de carro quando viajava para participar do evento.


Os jornalistas FÁBIO GUIBU e ALAN MARQUES viajaram de avião a convite da Vale o trecho Brasília-Canaã dos Carajás-Brasília


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