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JANIO DE FREITAS
O teste do erro
O problema dominante é a fuga dos valores que fazem agir de acordo com certezas, e não com interesses
NA IMPOSSIBILIDADE de adivinhar intenções, embora reconheça que esse poder convive bem com a prática do jornalismo, deixo à sua intuição de leitor criterioso a decisão sobre dois atos de
Renan Calheiros, cujas conseqüências, se consumadas, levarão as manobras em defesa do senador ao cúmulo do golpe baixo parlamentar
-algo além de tudo o que já se viu
por lá. Hoje se verá, na prevista reunião do conselho, se tal possibilidade é efetivada ou repelida.
Pedido pelo presidente do Conselho de Ética (o senador Leomar
Quintanilha dos inúmeros inquéritos e processos criminais), o parecer
da Consultoria do Senado opina por
falhas graves de procedimentos já
realizados no caso Calheiros. Aí já
temos mais uma evidência da incompatibilidade entre a permanência do senador na presidência e as
obrigações do Senado a seu respeito:
os autores do parecer são subordinados a Renan Calheiros. Relevemos o pormenor. No momento, importa mais o parecer.
Duas, entre outras afirmações dos
consultores, têm significado especial. Uma delas conclui que Renan
Calheiros errou ao mandar a exame
do Conselho de Ética, assumindo
atribuição da Mesa Diretora do Senado, a representação contra ele
apresentada pelo PSOL. A outra
conclui que houve erro em pedir à
Polícia Federal, como fez o então
presidente do conselho por sugestão
desde logo atribuída a Renan Calheiros, o exame preliminar de notas
fiscais das vendas de gado que produziriam os recursos dados a Mônica Veloso.
Os dois erros justificariam o recomeço de todo o procedimento, a partir de representação do PSOL, com
as delongas que mais convêm a Renan Calheiros, inclusive a elaboração de um regimento do conselho
que os senadores de ontem e de hoje
não se lembraram ou não quiseram
fazer. Renan Calheiros chegaria assim à perfeição de ser beneficiado
por erro seu -caso tenha sido erro, e
não ato inicial de uma seqüência articulada, para anular o processo, por
alguém que conhece todas as regras
e todos os desvãos do Senado.
Fica à sua intuição de leitor preferir entre o erro e o ato intencional.
Os integrantes do Conselho de Ética
estão convocados para tomar logo
mais a mesma decisão, mas guiados
por impulsos que nada têm com a
percepção intuitiva. Todos ali têm
certezas. O problema dominante é a
fuga daqueles valores que fazem agir
de acordo com as certezas, e não
com os interesses. Mesmo os piores.
Mal apagada
A CPI do Apagão Aéreo tem merecido atenções apenas erráticas
do jornais e da TV, só um ou outro
trecho de depoimento de militar.
Mesmo a TV Senado, ou por obrigação de dar prioridade a muito
besteirol do plenário ou também
por menor atenção, não vem transmitindo com regularidade os teipes
das sessões da CPI. É pena, porque
lá se tem exposto informação de
muito interesse público.
Há pouco, por exemplo, uma das
transmissões esporádicas de teipe
exibiu um depoimento extraordinário, pela coragem, firmeza e até
documentação com que a empresária Silvia Pfeiffer falou de corrupção na Infraero (não envolvido em
pessoa o atual presidente, nem, ao
que pareceu, o anterior). Depoimento precioso também por demonstrar a corrupção que lastra
entre os níveis médio e superior da
administração pública, cuja soma,
no mínimo, nada deve aos valores
da corrupção que faz manchetes.
O relator Demóstenes Torres está apresentando mais um relatório
parcial, com dados importantes sobre a derrubada do avião da Gol pelo Legacy.
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