São Paulo, terça-feira, 03 de julho de 2007

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JANIO DE FREITAS

O teste do erro

O problema dominante é a fuga dos valores que fazem agir de acordo com certezas, e não com interesses

NA IMPOSSIBILIDADE de adivinhar intenções, embora reconheça que esse poder convive bem com a prática do jornalismo, deixo à sua intuição de leitor criterioso a decisão sobre dois atos de Renan Calheiros, cujas conseqüências, se consumadas, levarão as manobras em defesa do senador ao cúmulo do golpe baixo parlamentar -algo além de tudo o que já se viu por lá. Hoje se verá, na prevista reunião do conselho, se tal possibilidade é efetivada ou repelida.
Pedido pelo presidente do Conselho de Ética (o senador Leomar Quintanilha dos inúmeros inquéritos e processos criminais), o parecer da Consultoria do Senado opina por falhas graves de procedimentos já realizados no caso Calheiros. Aí já temos mais uma evidência da incompatibilidade entre a permanência do senador na presidência e as obrigações do Senado a seu respeito: os autores do parecer são subordinados a Renan Calheiros. Relevemos o pormenor. No momento, importa mais o parecer.
Duas, entre outras afirmações dos consultores, têm significado especial. Uma delas conclui que Renan Calheiros errou ao mandar a exame do Conselho de Ética, assumindo atribuição da Mesa Diretora do Senado, a representação contra ele apresentada pelo PSOL. A outra conclui que houve erro em pedir à Polícia Federal, como fez o então presidente do conselho por sugestão desde logo atribuída a Renan Calheiros, o exame preliminar de notas fiscais das vendas de gado que produziriam os recursos dados a Mônica Veloso.
Os dois erros justificariam o recomeço de todo o procedimento, a partir de representação do PSOL, com as delongas que mais convêm a Renan Calheiros, inclusive a elaboração de um regimento do conselho que os senadores de ontem e de hoje não se lembraram ou não quiseram fazer. Renan Calheiros chegaria assim à perfeição de ser beneficiado por erro seu -caso tenha sido erro, e não ato inicial de uma seqüência articulada, para anular o processo, por alguém que conhece todas as regras e todos os desvãos do Senado.
Fica à sua intuição de leitor preferir entre o erro e o ato intencional. Os integrantes do Conselho de Ética estão convocados para tomar logo mais a mesma decisão, mas guiados por impulsos que nada têm com a percepção intuitiva. Todos ali têm certezas. O problema dominante é a fuga daqueles valores que fazem agir de acordo com as certezas, e não com os interesses. Mesmo os piores.

Mal apagada
A CPI do Apagão Aéreo tem merecido atenções apenas erráticas do jornais e da TV, só um ou outro trecho de depoimento de militar. Mesmo a TV Senado, ou por obrigação de dar prioridade a muito besteirol do plenário ou também por menor atenção, não vem transmitindo com regularidade os teipes das sessões da CPI. É pena, porque lá se tem exposto informação de muito interesse público.
Há pouco, por exemplo, uma das transmissões esporádicas de teipe exibiu um depoimento extraordinário, pela coragem, firmeza e até documentação com que a empresária Silvia Pfeiffer falou de corrupção na Infraero (não envolvido em pessoa o atual presidente, nem, ao que pareceu, o anterior). Depoimento precioso também por demonstrar a corrupção que lastra entre os níveis médio e superior da administração pública, cuja soma, no mínimo, nada deve aos valores da corrupção que faz manchetes.
O relator Demóstenes Torres está apresentando mais um relatório parcial, com dados importantes sobre a derrubada do avião da Gol pelo Legacy.


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