São Paulo, Sábado, 03 de Julho de 1999
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INVESTIGAÇÃO
Responsável por obra de fórum em SP quitou despesas com cicerone de Santos Neto nos EUA
Depoimento liga juiz a empresário

FLÁVIA DE LEON
da Sucursal de Brasília

O empresário Fábio Monteiro de Barros Filho, dono das empresas que ganharam a construção do Fórum Trabalhista de São Paulo sem ter participado da licitação, pagou duas despesas do ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo Nicolau dos Santos Neto em Miami, no valor total de US$ 86.230.
A afirmação foi feita por Lauro Bezerra Filho em depoimento prestado em Miami (EUA). Ele é um dos principais informantes da CPI do Judiciário.
Bezerra era funcionário da Host International of Miami, uma empresa que fornece serviços de cicerone (pessoas que guiam turistas e visitantes) a estrangeiros. Segundo afirmou à CPI, foi apresentado a Santos Neto em 1994 por indicação de Monteiro de Barros, a quem conhece desde 1981.
Ele contou que trabalhou para Santos Neto e sua família durante um ano. Acompanhava o juiz, sua mulher e filhas a lojas de carros, joalherias e restaurantes.
Segundo declarou Bezerra, o primeiro pagamento pelas despesas de Santos Neto com a Host,de US$ 6.230, foi feito por Monteiro de Barros por intermédio de transferência bancária no dia 8 de março de 1994. O dinheiro foi enviado à conta da proprietária da Host, Mary Babacheff.
Já o segundo, de US$ 98.052, também devido à Host, Santos Neto negou-se a pagar. Acionado por Bezerra, Monteiro de Barros enviou José Eduardo Ferraz, diretor de suas empresas, a Miami para negociar o pagamento.
Ferraz, afirmou Bezerra, contratou o advogado Carlos Battle, que conseguiu baixar a fatura para US$ 80 mil, a serem pagos em parcelas -a primeira de US$ 20 mil e outras seis de US$ 10 mil.
Quando foram à CPI, Monteiro de Barros e Ferraz entraram em contradição. Monteiro de Barros disse que Bezerra se fez passar por funcionário de sua empresa e não explicou por que a fatura das despesas de Santos Neto acabou sendo remetida a ele.
O empresário afirmou que Ferraz acabou pagando as despesas porque sua empresa havia sido envolvida sem que ele soubesse e que isso poderia trazer problemas ao grupo que dirige. Já Ferraz foi categórico: "Se alguém pagou, não fomos nós".
O advogado do juiz Nicolau dos Santos Neto, Alberto Zacharias Toron, afirmou em São Paulo que seu cliente não iria se manifestar sobre o assunto antes de conhecer oficialmente o depoimento de Bezerra.


Colaborou a Reportagem Local

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