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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Lula defende Constituinte para fazer reforma política
Para presidente, Congresso não poderia votar proposta, porque agiria em causa própria
Comissão de advogados fez sugestão a petista; Tarso diz que para levar idéia adiante, será necessário o apoio de
mais setores da sociedade
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que
defende uma Assembléia Constituinte para tratar da reforma
política porque acredita que o
Congresso Nacional não seja
capaz de apresentar uma proposta que satisfaça a sociedade.
"Eu vejo com muita simpatia
essa tese [de convocar uma
Constituinte exclusiva para a
reforma]. Ou seja, eu tenho dúvida se o Congresso Nacional
consegue aprovar uma reforma
política que possa contentar os
anseios da sociedade, porque
normalmente o Congresso pode votar uma legislação, uma
reforma política que atenda aos
interesses do próprio Congresso", disse Lula, em entrevista
ao telejornal "SBT Brasil".
À tarde, Lula havia recebido
de um grupo de advogados, entre eles quatro ex-presidentes
da OAB (Ordem dos Advogados
do Brasil), a proposta de convocação de uma Constituinte. O
presidente pediu, porém, que
antes a OAB consiga apoio de
outras parcelas da sociedade.
Os advogados foram até Lula
levar uma proposta para limitar os poderes das CPIs, mas,
no decorrer da conversa, propuseram a convocação de uma
Constituinte. Foram correspondidos pelo presidente, que,
no entanto, pediu que antes a
Ordem dos Advogados do Brasil consiga apoio de outras entidades e parcelas da sociedade.
"Se tivesse um forte movimento da sociedade, com os demais Poderes da República, o
presidente remeteria um projeto de emenda constitucional", diz o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais).
Se houver realmente esse impulso que o presidente e a OAB
imaginam, será enviada ao
Congresso uma proposta de
convocação de Constituinte,
mas só após as eleições.
Nunca foi realizada no país
uma Assembléia Constituinte
específica para um tema. A última Constituinte, que fez uma
revisão total, foi em 1988 e resultou na atual Carta.
Ferida
No primeiro final de semana
de campanha, Lula já tinha culpado o sistema pela corrupção
e dito que o único meio de acabar com o problema seria uma
reforma política. "Nós precisamos mexer nessa ferida chamada política brasileira", disse ele
em Olinda, em 23 de julho.
A reforma política era uma
das promessas de campanha de
Lula -e de outros candidatos
nos últimos 15 anos-, mas não
saiu do papel. Questionado ontem sobre isso, Tarso afirmou
que faltava um consenso na sociedade, que só surgiu com o
atual nível recorde de escândalos envolvendo políticos.
O presidenciável Geraldo
Alckmin (PSDB) criticou ontem a proposta de convocação
de uma Constituinte para tratar exclusivamente da reforma
política. O tucano classificou a
idéia como "sem pé nem cabeça". "Imagine, fazer uma outra
Assembléia Constituinte? Mudar a carta magna? Precisamos
ter estabilidade nas regras, preservar a Constituição, a reforma política é preservar a fidelidade partidária."
A reforma política tem implicação direta nos escândalos de
hoje. Muitos dos casos de corrupção estão relacionados com
o financiamento de campanhas
e com o troca-troca partidário,
dois assuntos que teriam suas
regras alteradas.
Fundeb
Na entrevista ao SBT, feita
no Palácio do Alvorada, Lula
disse, em mais uma alfinetada
no Congresso, que a principal
frustração de seu governo foi
não quer ter aprovado o Fundeb (fundo para o ensino fundamental). O projeto, aprovado
recentemente no Senado, permanece parado na Câmara. "O
que eu estou frustrado é não ter
ainda concluído o processo de
votação do Fundeb, porque nós
poderíamos já ter gasto, desde
o começo do ano, R$ 1,5 bilhão
em educação e não gastamos
porque ainda não foi aprovado."
(PEDRO DIAS LEITE, EDUARDO SCOLESE E SILVIO NAVARRO)
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