São Paulo, quinta-feira, 03 de agosto de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Alckmin diz que "vai morrer gente" no combate ao crime

Em reunião fechada, tucano prega política de segurança "sem medo de reação'

Candidato vai a jantar com intelectuais e artistas no Rio e prevê campanha pasteurizada e eleição decidida por empatia

CRISTINA TARDÁGUILA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Em reunião com intelectuais, artistas e integrantes da elite econômica na avenida Vieira Souto, em Ipanema, zona sul do Rio, o candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, pregou a linha dura no combate à crise de segurança pública
"Vai ter problemas, vai morrer gente, vai pôr o dedo na ferida, mas não pode ter medo da reação. Tem de ir para cima e asfixiar o crime", disse.
Alckmin classificou como natural que os detentos se organizem e que respondam duramente quando perdem sua cúpula, isolada em penitenciárias de segurança máxima por meio do Regime Disciplinar Diferenciado. "Mas, quando isso acontece, não podemos retroceder. Temos de agüentar."
Insistiu que é necessária uma ação nacional na crise da segurança pública. "O governo federal tem que enfrentar essa questão. Tem que entrar para valer nesse meio." Segundo ele, por trás de todo crime, "estão o tráfico de drogas, o tráfico de armas e a lavagem de dinheiro, três atribuições federais".
O tucano ficou por duas horas diante de uma audiência que, em pé, bebia champanhe, uísque e caipirinha, comia penne al pesto com tomate cereja, no apartamento de frente para o mar da produtora de cinema Eva Mariani. A Folha teve acesso ao jantar, organizado anteontem pelo ex-ministro da Cultura Francisco Weffort e por sua mulher, Helena Severo, diretora do Teatro Municipal do Rio. O candidato tucano discursou e depois foi sabatinado com perguntas que foram do planejamento familiar à falta de controle do Judiciário.
Alckmin insistiu em que a campanha só começará no dia 15, com o início do horário eleitoral no rádio e na televisão.
Apostou no discurso pasteurizado. "Todos os candidatos vão falar coisas iguais por causa das pesquisa qualitativas e da atuação dos marqueteiros", analisou. "Os discursos vão ficar todos iguaizinhos. Por que votar nele e não no outro? Acho que vai ser pela empatia, aquela coisa que não dá para explicar, mas que conta."
Acompanhado do senador pernambucano José Jorge (PFL), candidato a vice-presidente em sua chapa, Alckmin reconheceu a fraqueza de sua candidatura no Nordeste, mas tentou não se mostrar preocupado. "Ou vou subir onde estou mal ou vou cair onde estou bem. Não acredito que essa disparidade entre o Sul e o Nordeste vá se manter", analisou.

A sabatina
Entre os cerca de 50 presentes, estavam o antropólogo Roberto Da Matta, que o questionou sobre a falta de respeito e ética que paira sobre o Brasil, o humorista Marcelo Madureira, que criticou o Judiciário, e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que perguntou sobre pobreza. Entre os presentes estavam ainda os escritores Ferreira Gullar e Nélida Piñon, Vivi Nabuco (Banco Icatu), Pio Borges (ex-presidente do BNDES) e o economista Luiz Antônio Vianna (ex-presidente da BR Distribuidora).
Alckmin afirmou que fez um levantamento sobre as promessas de Lula pelos jornais desde 2002 e classificou como "impressionante" o número de não cumpridas. "A pior coisa é criar frustração nos eleitores. Nós não vamos fazer mágica, mas dá para avançar", prometeu.
O tucano, que recusou a cadeira oferecida pelos anfitriões e preferiu ficar em pé durante toda a noite, só começou a jantar e a beber quando o círculo de ouvintes se desfez, por volta das 23h. Usando blazer sem gravata e tentando manter um clima de informalidade, ele encerrou sua fala lembrando que para fazer o que se propunha precisava de "um detalhe": "É preciso ganhar a eleição".


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