São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2004

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ELEIÇÕES 2004/CAMPANHA

Servidores da Unifesp em greve queriam ler manifesto contra o governo federal; horário impediu participação de prefeita, diz assessoria

Marta cancela debate para evitar protesto

CATIA SEABRA
REPORTAGEM LOCAL

A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), cancelou ontem uma atividade de campanha -descrita em sua agenda como "debate com a comunidade acadêmica"- para evitar manifestação de servidores contra o governo federal e a acusação de uso eleitoral de espaço público.
Segundo relato do reitor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ulysses Fagundes Neto, aos funcionários que esperaram em vão, Marta chegou a expor irritação ao ser consultada sobre a hipótese de leitura de um manifesto dos professores federais, em greve desde o dia 5.
"Ela, aí, deu um pulo: "Não. isso, não". Ela, que estava muito cordial e estava leve, teve um momento de grande contrariedade. Até de dizer "Não sei o que vim fazer aqui". Ficou realmente muito contrariada", contou Fagundes Neto, com quem a prefeita se reuniu por cerca de uma hora e 15 minutos.
Pela programação original, Marta conversaria com Fagundes Neto e os pró-reitores da universidade das 12h30 às 13h30. De lá, iria até o auditório da instituição, no quarteirão vizinho, para um debate. As perguntas seriam por escrito. Ela ficaria até as 14h30.
Dez minutos antes de sua chegada, uma professora procurou o reitor pedindo autorização para a leitura do manifesto. Como o acordo proibia manifestação verbal no auditório, já no fim da audiência, o reitor perguntou a Marta se ele mesmo poderia ler o documento. Ela não aceitou. Mas concordou em receber a associação de professores.
Como o encontro não foi possível, gravou depoimento para a TV da universidade em que diz serem justas as reivindicações. Mas não quis ficar para o debate. "Ela entendeu que não seria produtivo. Poderia ser prejudicial para a campanha", disse o reitor.
Segundo a assessoria da prefeita e o senador Eduardo Suplicy, que a acompanhava, Marta não foi ao auditório porque a audiência se estendera e ela tem reservado apenas o horário de almoço para a campanha. "Ela leu o manifesto. O diálogo foi prolongado além do almoço", disse Suplicy.
Esse foi um dos argumentos da assessoria de Marta. Mas, segundo o reitor, existia, desde a véspera, o risco. Na noite de quarta, relatou ele, um assessor da prefeita telefonou-lhe avisando que a visita estava cancelada por causa da denúncia de que jogariam ovos na prefeita. O reitor teria chamado de fantasiosa a hipótese.
Participante da reunião, o deputado Jamil Murad (PC do B) contou que, na reitoria, um dos professores recomendou que Marta fosse embora porque, passado o horário de almoço, poderia ser acusada de uso de prédio público para a campanha. "O PSDB armou uma cilada para Marta. Concordamos com o debate, mas não com armadilhas", disse Murad.


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