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ELEIÇÕES 2004/CAMPANHA
Servidores da Unifesp em greve queriam ler manifesto contra o governo federal; horário impediu participação de prefeita, diz assessoria
Marta cancela debate para evitar protesto
CATIA SEABRA
REPORTAGEM LOCAL
A prefeita de São Paulo, Marta
Suplicy (PT), cancelou ontem
uma atividade de campanha
-descrita em sua agenda como
"debate com a comunidade acadêmica"- para evitar manifestação de servidores contra o governo federal e a acusação de uso
eleitoral de espaço público.
Segundo relato do reitor da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ulysses Fagundes
Neto, aos funcionários que esperaram em vão, Marta chegou a expor irritação ao ser consultada sobre a hipótese de leitura de um
manifesto dos professores federais, em greve desde o dia 5.
"Ela, aí, deu um pulo: "Não. isso,
não". Ela, que estava muito cordial
e estava leve, teve um momento
de grande contrariedade. Até de
dizer "Não sei o que vim fazer
aqui". Ficou realmente muito contrariada", contou Fagundes Neto,
com quem a prefeita se reuniu por
cerca de uma hora e 15 minutos.
Pela programação original,
Marta conversaria com Fagundes
Neto e os pró-reitores da universidade das 12h30 às 13h30. De lá,
iria até o auditório da instituição,
no quarteirão vizinho, para um
debate. As perguntas seriam por
escrito. Ela ficaria até as 14h30.
Dez minutos antes de sua chegada, uma professora procurou o
reitor pedindo autorização para a
leitura do manifesto. Como o
acordo proibia manifestação verbal no auditório, já no fim da audiência, o reitor perguntou a Marta se ele mesmo poderia ler o documento. Ela não aceitou. Mas
concordou em receber a associação de professores.
Como o encontro não foi possível, gravou depoimento para a TV
da universidade em que diz serem
justas as reivindicações. Mas não
quis ficar para o debate. "Ela entendeu que não seria produtivo.
Poderia ser prejudicial para a
campanha", disse o reitor.
Segundo a assessoria da prefeita
e o senador Eduardo Suplicy, que
a acompanhava, Marta não foi ao
auditório porque a audiência se
estendera e ela tem reservado
apenas o horário de almoço para a
campanha. "Ela leu o manifesto.
O diálogo foi prolongado além do
almoço", disse Suplicy.
Esse foi um dos argumentos da
assessoria de Marta. Mas, segundo o reitor, existia, desde a véspera, o risco. Na noite de quarta, relatou ele, um assessor da prefeita
telefonou-lhe avisando que a visita estava cancelada por causa da
denúncia de que jogariam ovos na
prefeita. O reitor teria chamado
de fantasiosa a hipótese.
Participante da reunião, o deputado Jamil Murad (PC do B) contou que, na reitoria, um dos professores recomendou que Marta
fosse embora porque, passado o
horário de almoço, poderia ser
acusada de uso de prédio público
para a campanha. "O PSDB armou uma cilada para Marta. Concordamos com o debate, mas não
com armadilhas", disse Murad.
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