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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ REMESSAS SUSPEITAS
Ministério Público Federal suspeita que remessas feitas à Trade Link Bank expliquem origem de empréstimos intermediados por Valério ao PT
Transações com offshore são foco de operação
DO ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
E LONDRINA
A operação de apreensão de documentos foi detonada pela Polícia Federal para tentar obter provas que confirmem delação premiada do doleiro Odilon Cândido
Bacellar Neto, 48, ex-funcionário
do Banco Rural.
À PF, Odilon revelou o "modus
operandi" pelo qual o banco alienaria dólares à coligada IFE Rural
Uruguay, realizando vendas simuladas a bancos paraguaios e fazendo remessa de lucros para
contas do Rural no exterior.
O alvo do Ministério Público
Federal são as transações com a
offshore Trade Link Bank. Suspeita-se que as remessas poderão explicar a origem de recursos intermediados por Marcos Valério de
Souza no escândalo do "mensalão" e nas transações em que o
Rural se envolveu nas campanhas
do PT. Odilon se dispôs a ajudar o
MPF durante as investigações na
ação penal contra dirigentes do
Rural denunciados, em julho, por
gestão fraudulenta e formação de
quadrilha. Essa ação criminal tramita na 4ª Vara Federal de Belo
Horizonte, especializada em crimes de lavagem de dinheiro.
A operação da PF coincidiu com
o interrogatório de Cláudio Custódio da Silva, gerente de câmbio
do Rural na época, hoje diretor do
banco na Europa. Cláudio foi o último réu ouvido pelo juiz federal
Jorge Gustavo de Macêdo Costa.
A operação desencadeada em
Minas e no Rio teve origem na
Justiça Federal do Paraná em investigação sobre sonegação e evasão de divisas. Como há troca de
dados entre procuradores da força-tarefa no combate à lavagem
de dinheiro, depoimentos de Odilon foram enviados a Curitiba e
anexados no processo em BH como "prova emprestada".
O doleiro
Odilon já teve custódia decretada em 1998 e está indiciado em vários inquéritos. Responde a 19
ações penais e foi condenado em
dois processos. Em um, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região
confirmou a condenação. Seu objetivo é ter as penas reduzidas.
Economista, Odilon trabalhou
no Bemge (Banco do Estado de
Minas Gerais), onde atuava na
mesa de câmbio e operou ligado a
José Roberto Salgado, vice-presidente do Rural e considerado pelo
MPF o "idealizador" do esquema
de "operações não-convencionais" através de contas CC5.
Odilon e Salgado foram para o
Rural no mesmo dia. Odilon desligou-se do Rural em 1996. Segundo a denúncia do MPF, após deixar o banco, Odilon intermediava
operações, em nome próprio e do
Rural, aliciando laranjas.
Odilon afirmou em depoimento
que ele e Salgado "foram contratados para atuar com "operações
especiais" ou "não convencionais"
de câmbio, em local não aberto ao
público, no Edifício Tratex [sede
do Rural, em Belo Horizonte]".
Disse que Salgado era o responsável pela remessa dos lucros obtidos pelo banco para o exterior e
que o lucro ficava no Uruguai,
mas a venda dos dólares naquele
país já era contratada desde o início da transação no Tratex.
Em seu depoimento, Odilon detalhou como era feita a principal
manipulação com contas CC5 na
mesa de câmbio do Rural. Disse
que, depois que o valor do depósito era convertido em dólares e
transferido para não-residente no
exterior, a IFE alterava o destino
do dinheiro. Com base nas informações de Odilon, o MPF espera
obter das autoridades bancárias
americanas informações sobre
operações realizadas com quatro
bancos que não foram localizados
em Nova York.
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