São Paulo, sábado, 03 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ REMESSAS SUSPEITAS

Ministério Público Federal suspeita que remessas feitas à Trade Link Bank expliquem origem de empréstimos intermediados por Valério ao PT

Transações com offshore são foco de operação

DO ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
E LONDRINA


A operação de apreensão de documentos foi detonada pela Polícia Federal para tentar obter provas que confirmem delação premiada do doleiro Odilon Cândido Bacellar Neto, 48, ex-funcionário do Banco Rural.
À PF, Odilon revelou o "modus operandi" pelo qual o banco alienaria dólares à coligada IFE Rural Uruguay, realizando vendas simuladas a bancos paraguaios e fazendo remessa de lucros para contas do Rural no exterior.
O alvo do Ministério Público Federal são as transações com a offshore Trade Link Bank. Suspeita-se que as remessas poderão explicar a origem de recursos intermediados por Marcos Valério de Souza no escândalo do "mensalão" e nas transações em que o Rural se envolveu nas campanhas do PT. Odilon se dispôs a ajudar o MPF durante as investigações na ação penal contra dirigentes do Rural denunciados, em julho, por gestão fraudulenta e formação de quadrilha. Essa ação criminal tramita na 4ª Vara Federal de Belo Horizonte, especializada em crimes de lavagem de dinheiro.
A operação da PF coincidiu com o interrogatório de Cláudio Custódio da Silva, gerente de câmbio do Rural na época, hoje diretor do banco na Europa. Cláudio foi o último réu ouvido pelo juiz federal Jorge Gustavo de Macêdo Costa.
A operação desencadeada em Minas e no Rio teve origem na Justiça Federal do Paraná em investigação sobre sonegação e evasão de divisas. Como há troca de dados entre procuradores da força-tarefa no combate à lavagem de dinheiro, depoimentos de Odilon foram enviados a Curitiba e anexados no processo em BH como "prova emprestada".

O doleiro
Odilon já teve custódia decretada em 1998 e está indiciado em vários inquéritos. Responde a 19 ações penais e foi condenado em dois processos. Em um, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região confirmou a condenação. Seu objetivo é ter as penas reduzidas.
Economista, Odilon trabalhou no Bemge (Banco do Estado de Minas Gerais), onde atuava na mesa de câmbio e operou ligado a José Roberto Salgado, vice-presidente do Rural e considerado pelo MPF o "idealizador" do esquema de "operações não-convencionais" através de contas CC5.
Odilon e Salgado foram para o Rural no mesmo dia. Odilon desligou-se do Rural em 1996. Segundo a denúncia do MPF, após deixar o banco, Odilon intermediava operações, em nome próprio e do Rural, aliciando laranjas.
Odilon afirmou em depoimento que ele e Salgado "foram contratados para atuar com "operações especiais" ou "não convencionais" de câmbio, em local não aberto ao público, no Edifício Tratex [sede do Rural, em Belo Horizonte]".
Disse que Salgado era o responsável pela remessa dos lucros obtidos pelo banco para o exterior e que o lucro ficava no Uruguai, mas a venda dos dólares naquele país já era contratada desde o início da transação no Tratex.
Em seu depoimento, Odilon detalhou como era feita a principal manipulação com contas CC5 na mesa de câmbio do Rural. Disse que, depois que o valor do depósito era convertido em dólares e transferido para não-residente no exterior, a IFE alterava o destino do dinheiro. Com base nas informações de Odilon, o MPF espera obter das autoridades bancárias americanas informações sobre operações realizadas com quatro bancos que não foram localizados em Nova York.


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