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ENCONTRO A CÉU ABERTO
Vendedora de bala faz da esquina sala de visitas
DA REPORTAGEM LOCAL
O encontro da família acontece num final de tarde do início
da primavera paulistana, com a
temperatura um pouco abaixo
dos 20C e um começo de garoa.
Sete crianças correm e brincam
ao redor, enquanto a matriarca
conversa com um de seus filhos.
Mas não há mesa, não há cadeira, não há parede. A reunião
familiar toma lugar na esquina
da avenida Henrique Schaumann com a rua Artur de Azevedo, em Pinheiros (zona oeste).
A matriarca, com 68 anos, 12
filhos e inúmeros netos, foi costureira e moradora de uma favela na Barra Funda (zona oeste).
Hoje, é vendedora de balas no
sinal e vive em um Cingapura,
em São Mateus, extremo leste de
São Paulo.
Quatro dos sete netos que ali
estão são filhos de um dos filhos,
de 26 anos. Morador de um albergue, normalmente ele pega
os quatro -dois na escola e dois
na creche- e segue para casa.
Mas nesse dia, quarta-feira, foi
ver a mãe, que não encontrava
havia duas semanas.
A matriarca, dona G., conta
que abandonou a costura de bonecas "quando a vista ficou
ruim", há muitos anos. Depois,
abriu uma venda em casa, mas
uma hora ficou sem dinheiro até
para repor as mercadorias. "Vai
acabando, né?"
A última vez em que "acabou"
foi há seis anos, quando passou
a vender balas na rua. Por R$ 15,
vende uma caixa a cada dois dias
para tentar amenizar a própria
fome e a de mais cinco.
Longe dali, no Glicério (região
central), uma outra família se
reúne à noite. O casal de nordestinos chegou a São Paulo há cinco anos. A diversão do único filho, de oito anos, é brincar com
uma criança de um ano e nove
meses, que chegou à praça no
domingo.
(PEDRO DIAS LEITE)
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