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São Paulo, sexta-feira, 03 de outubro de 2003

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ENCONTRO A CÉU ABERTO

Vendedora de bala faz da esquina sala de visitas

DA REPORTAGEM LOCAL

O encontro da família acontece num final de tarde do início da primavera paulistana, com a temperatura um pouco abaixo dos 20C e um começo de garoa. Sete crianças correm e brincam ao redor, enquanto a matriarca conversa com um de seus filhos.
Mas não há mesa, não há cadeira, não há parede. A reunião familiar toma lugar na esquina da avenida Henrique Schaumann com a rua Artur de Azevedo, em Pinheiros (zona oeste).
A matriarca, com 68 anos, 12 filhos e inúmeros netos, foi costureira e moradora de uma favela na Barra Funda (zona oeste). Hoje, é vendedora de balas no sinal e vive em um Cingapura, em São Mateus, extremo leste de São Paulo.
Quatro dos sete netos que ali estão são filhos de um dos filhos, de 26 anos. Morador de um albergue, normalmente ele pega os quatro -dois na escola e dois na creche- e segue para casa. Mas nesse dia, quarta-feira, foi ver a mãe, que não encontrava havia duas semanas.
A matriarca, dona G., conta que abandonou a costura de bonecas "quando a vista ficou ruim", há muitos anos. Depois, abriu uma venda em casa, mas uma hora ficou sem dinheiro até para repor as mercadorias. "Vai acabando, né?"
A última vez em que "acabou" foi há seis anos, quando passou a vender balas na rua. Por R$ 15, vende uma caixa a cada dois dias para tentar amenizar a própria fome e a de mais cinco.
Longe dali, no Glicério (região central), uma outra família se reúne à noite. O casal de nordestinos chegou a São Paulo há cinco anos. A diversão do único filho, de oito anos, é brincar com uma criança de um ano e nove meses, que chegou à praça no domingo. (PEDRO DIAS LEITE)


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