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Na contramão do país, SP vê crescer indigência e pobreza
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Se São Paulo é a locomotiva do
Brasil, como gostam de apregoar
os ufanistas, então o motor da
máquina está precisando de reparos. O Estado mais rico da nação,
com um índice de desenvolvimento humano similar ao de um
país produtor de petróleo como o
Kuait, é também aquele em que
ocorreu o maior crescimento de
indigentes e de crianças indigentes entre 1991 e 2000, como mostra o "Atlas do Desenvolvimento
Humano no Brasil - 2003". O aumento foi de 52,3% e 63,8%, respectivamente.
Na redução da indigência e da
pobreza, São Paulo está na contramão do Brasil. Nesse mesmo
período, a proporção de indigentes no país caiu 19,4%; eles eram
20,24% da população em 1991 e
passaram a ser 16,32% em 2000.
Indigente, segundo os critérios do
Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) são os que sobrevivem com uma renda per capita inferior a R$ 37,75.
Além de São Paulo, houve aumento da indigência e da pobreza
em só dois Estados (Amapá e
Amazonas) e no Distrito Federal.
Mesmo com o aumento, o Estado
em o segundo com o menor percentual de indigentes -5,94%,
contra 5,92% em Santa Catarina.
No quesito pobreza, São Paulo
tem a menor proporção do país
em 2001 (14,37%).
Na cidade de São Paulo, suposto
motor da locomotiva, o crescimento da miséria na década passada foi ainda pior: a proporção
de indigentes saltou 88% e o de
pobres cresceu 51%. Foi por causa
da queda de renda e de qualidade
na educação que a cidade caiu do
segundo para o quinto posto no
ranking das 13 cidades com mais
de 1 milhão de habitantes: São
Paulo agora está atrás de Porto
Alegre, Curitiba, Brasília e Rio.
A pergunta óbvia é: o que ocorreu com a locomotiva que produz
riqueza desde o final do século 19?
Entrou em decadência?
Males da globalização
São Paulo aumentou a produção de pobreza de miséria e pobreza por causa de três fatores, segundo o economista Marcio
Pochman, 41, professor da Unicamp e secretário do Trabalho da
prefeitura paulistana: a globalização afetou mais as cidades industrializadas, o ajuste fiscal promoveu uma "derrama" nas cidades
mais ricas e a reforma administrativa cortou empregos públicos na
cidade.
Dois números mostram a queda
da cidade, segundo Pochman. Em
1991, de cada R$ 10 arrecadados
na cidade, R$ 2 ficavam nela. Dez
anos depois, para o mesmo valor
coletado, só R$ 0,95 permanecem
em São Paulo. O restante foi para
o governo federal. O orçamento
paulistano, de R$ 17 bilhões em
1992, este ano é de R$ 11 bilhões.
Então é a decadência?
"São Paulo não está decadente",
responde Pochman. "O problema
é que o conjunto de reformas neoliberais tirou recursos da cidade
justamente no momento em que
ela precisava de mais dinheiro
porque a pobreza aumentava."
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