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São Paulo, sexta-feira, 03 de outubro de 2003

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Na contramão do país, SP vê crescer indigência e pobreza

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Se São Paulo é a locomotiva do Brasil, como gostam de apregoar os ufanistas, então o motor da máquina está precisando de reparos. O Estado mais rico da nação, com um índice de desenvolvimento humano similar ao de um país produtor de petróleo como o Kuait, é também aquele em que ocorreu o maior crescimento de indigentes e de crianças indigentes entre 1991 e 2000, como mostra o "Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - 2003". O aumento foi de 52,3% e 63,8%, respectivamente.
Na redução da indigência e da pobreza, São Paulo está na contramão do Brasil. Nesse mesmo período, a proporção de indigentes no país caiu 19,4%; eles eram 20,24% da população em 1991 e passaram a ser 16,32% em 2000. Indigente, segundo os critérios do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) são os que sobrevivem com uma renda per capita inferior a R$ 37,75.
Além de São Paulo, houve aumento da indigência e da pobreza em só dois Estados (Amapá e Amazonas) e no Distrito Federal. Mesmo com o aumento, o Estado em o segundo com o menor percentual de indigentes -5,94%, contra 5,92% em Santa Catarina. No quesito pobreza, São Paulo tem a menor proporção do país em 2001 (14,37%).
Na cidade de São Paulo, suposto motor da locomotiva, o crescimento da miséria na década passada foi ainda pior: a proporção de indigentes saltou 88% e o de pobres cresceu 51%. Foi por causa da queda de renda e de qualidade na educação que a cidade caiu do segundo para o quinto posto no ranking das 13 cidades com mais de 1 milhão de habitantes: São Paulo agora está atrás de Porto Alegre, Curitiba, Brasília e Rio.
A pergunta óbvia é: o que ocorreu com a locomotiva que produz riqueza desde o final do século 19? Entrou em decadência?

Males da globalização
São Paulo aumentou a produção de pobreza de miséria e pobreza por causa de três fatores, segundo o economista Marcio Pochman, 41, professor da Unicamp e secretário do Trabalho da prefeitura paulistana: a globalização afetou mais as cidades industrializadas, o ajuste fiscal promoveu uma "derrama" nas cidades mais ricas e a reforma administrativa cortou empregos públicos na cidade.
Dois números mostram a queda da cidade, segundo Pochman. Em 1991, de cada R$ 10 arrecadados na cidade, R$ 2 ficavam nela. Dez anos depois, para o mesmo valor coletado, só R$ 0,95 permanecem em São Paulo. O restante foi para o governo federal. O orçamento paulistano, de R$ 17 bilhões em 1992, este ano é de R$ 11 bilhões.
Então é a decadência?
"São Paulo não está decadente", responde Pochman. "O problema é que o conjunto de reformas neoliberais tirou recursos da cidade justamente no momento em que ela precisava de mais dinheiro porque a pobreza aumentava."


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