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São Paulo, sexta-feira, 03 de outubro de 2003

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BASE DA PIRÂMIDE

Escalada dos menores municípios em qualidade de vida não tira atraso de mais de uma década

Em meio à má distribuição de renda, pequenos crescem mais

EM SÃO PAULO

A distribuição de renda piorou em 66,3% dos municípios brasileiros de 1991 a 2000, ou seja, em 3.654 cidades. Em outras 370 (6,7%), a desigualdade de renda ficou inalterada e, em 1.483 (29,6%), houve queda.
No país, a concentração de renda medida pelo índice de Gini subiu, pulando de 0,63 (1991) para 0,65 (2000). O índice varia de 0 a 1 -quanto mais perto de zero, mais bem distribuída é a renda, e, quanto mais próxima de um, mais concentrada.
Em 1991, a razão entre a renda dos 10% mais ricos da população e os 40% mais pobres era de 30,43. Em 2000, havia subido para 32,93.
Em 23 unidades da federação, a renda ficou mais concentrada. Só Roraima reduziu a concentração de renda. Em Rondônia, no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, a situação ficou estável. A maior concentração está em Alagoas.
Pelos dados do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o Brasil tem a sexta pior distribuição de renda do mundo.
Um retrato da desigualdade brasileira está na situação dos pequenos municípios, com menos de 50 mil habitantes. Apesar de terem tido o melhor aumento no índice de qualidade de vida, eles seguem com quase uma década de atraso em relação ao Brasil.
Em média, o IDHM dessas cidades cresceu 15,9%, quando, no país todo, o crescimento foi 10%. Mesmo assim, seu índice há três anos ainda era de 0,693 -inferior à marca de 0,696 verificada no Brasil em 1991.
Em geral, a melhora desses municípios é impulsionada pela educação e pela expectativa de vida, apesar de a renda evoluir pouco.
Dos 30 piores índices de qualidade de vida no país, todos são de municípios com menos de 50 mil habitantes. Vinte e cinco deles ficam no Nordeste, região em que a qualidade de vida é a mais baixa, e 11 estão no Maranhão, Estado com a pior qualidade de vida.
O pior IDHM está no município pernambucano de Manari: 0,467 -comparável ao do Haiti, 150º ao ranking do IDH mundial.
Em Manari, a renda per capita caiu em relação a 1991 e, em 2000, era de apenas R$ 30. A concentração de renda subiu 71,4%.
Nesse município, 90% da população é pobre, ou seja, tem renda domiciliar per capita inferior a R$ 75,50 (metade do salário mínimo vigente em agosto de 2000).
Foi também um município pequeno, São Félix do Tocantins, que conseguiu a maior evolução do IDHM, 67,4%. Houve aumento da renda e da esperança de vida, mas o avanço foi impulsionado pela educação. O analfabetismo caiu de 75% para 20%.
Apenas cinco municípios brasileiros perderam qualidade de vida: Amajari e Uiramutã, em Roraima, São Sebastião do Uatunã, Silves e Uarini, no Amazonas.
Para François Bremaeker, técnico do Ibam (Instituto Brasileiro de Administração Municipal), faltam para os pequenos municípios projetos de emprego e renda.
"Nesses municípios, parte da população migrou porque não havia emprego. Hoje quase não há mão-de-obra adulta nesses lugares, e a renda cai", afirma. (FERNANDA DA ESCÓSSIA)

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