São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ACRE
Plano teria sido articulado pelo deputado cassado Hildebrando Paschoal

Testemunha diz que havia planos para matar Viana

Beto Barata/Folha Imagem
O governador do Acre, Jorge Viana (PT), durante entrevista


MALU GASPAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma gravação com um ex-integrante do grupo de Hildebrando Paschoal revela que o deputado cassado teria planos para matar o governador do Acre, Jorge Viana (PT), e impedir que ele assumisse.
O vídeo, a que a Folha teve acesso, está com o Ministério Público, que investiga ameaças de morte a Viana. O ex-integrante do grupo está colaborando com as investigações sobre o narcotráfico no Acre e faz parte do programa de proteção a testemunhas. O depoimento foi confirmado por dois ex-parceiros de Hildebrando.
"Em momento algum o Jorge Viana poderia assumir o governo", diz a testemunha. Depois, o plano teria sido mudado e visou "eliminar" o pai e a filha de Viana.
O pistoleiro Raimundinho, um dos principais integrantes do grupo de Hildebrando, teria desistido do crime por causa da menina. "Ele se tocou e disse: "Eu também tenho um filho'", conta a testemunha. O depoimento foi dado neste ano, mas o episódio teria acontecido em fevereiro de 1999, logo no início do mandato de Viana.
Há duas semanas, o governador pediu ao Ministério Público e à Polícia Federal que investigassem o que chamou de um "complô" para assassiná-lo. Foi uma reação a entrevistas dadas pelo traficante Valtenir Gonçalves Pereira, o Palito, uma das principais testemunhas das investigações que levaram à prisão de Hildebrando.
Seus adversários políticos e até o superintendente da PF no Acre, Glorivan Bernardes, chegaram a classificar a iniciativa do governador como "tentativa de aparecer".
Mas, na semana passada mesmo, um delegado especial, Rodney Carvalho Rocha Miranda, viajou para Rio Branco para apurar se Viana corre ou não riscos.
No início de novembro, dias após fugir da cadeia, o traficante Palito deu entrevistas à TV Rio Branco dizendo que o governador o havia forçado a mentir para incriminar Hildebrando. Seu testemunho foi considerado fundamental pelo Ministério Público para conseguir a prisão do ex-deputado e outras 40 pessoas.
Nas entrevistas, Palito dizia que falava com Viana por telefone todos os dias, recebendo orientações sobre o que deveria dizer nos depoimentos. Depois das entrevistas, Palito se apresentou à PF.
Viana acusa o dono da TV, o ex-deputado Narciso Mendes (PPR, que deu origem ao PPB), de estar tentando intimidá-lo e desmoralizar as investigações sobre o narcotráfico no Estado. Foi o próprio governador quem pediu ao Ministério Público Federal em Brasília para investigar o caso.
Para o procurador Roberto Santoro, a possibilidade de ter sido planejado um crime político contra o governador não deve ser descartada. "Esse é um Estado com histórico de crimes políticos", afirmou Santoro.
Além do líder seringueiro Chico Mendes, assassinado em 1998 pelo fazendeiro Darly Alves da Silva e seu filho Darcy Alves, houve também o caso do governador Edmundo Pinto. Ele foi morto a tiros no hotel Della Volpe, em São Paulo, em 1992.
Dias antes, o governador havia dito que revelaria a uma CPI no Congresso tudo o que sabia sobre a obra superfaturada do Canal da Maternidade, no Acre. O crime nunca foi desvendado.
"Ali tudo tem a ver com política", diz o procurador, que também participou das investigações sobre o narcotráfico no Estado.
Santoro disse ter ficado sabendo do suposto plano para matar o pai do governador enquanto investigava as denúncias de grupo de extermínio e narcotráfico. Segundo ele, as testemunhas que se dispuseram a colaborar mencionaram, mais de uma vez, ter participado de planos para matar Viana.
O Ministério Público estadual colheu ainda pelo menos outros dois depoimentos de pessoas ligadas ao grupo de Hildebrando sobre planos para matar Viana. Eles foram colhidos pelo procurador de Justiça Eliseu Buchmeier.
Segundo um dos depoimentos, dado em juízo por um acusado de assassinato de um taxista, o pistoleiro Raimundinho disse que iria matar Viana a mando do deputado José Aleksandro (PSL), que assumiu no lugar de Hildebrando.
"Ele disse que a "parada" era para matar o governador atual a mando do deputado Alex", diz um trecho do depoimento. "Comentou que ia ser difícil, mas que iam fazer", continua. Segundo o depoimento, o irmão de Aleksandro, conhecido como Nim, também participaria do caso.
O Ministério Público Estadual apurou ainda um outro plano, também abortado, que aconteceria depois de uma fuga de presos. Eles pretendiam matar, além de Viana, o senador Tião Viana (irmão do governador), a senadora Marina Silva, procuradores e outras autoridades do Estado.
A menção a esse episódio consta de um documento enviado pelo procurador Eliseu Buchmeier ao procurador-chefe do MP no Acre, Edmar Monteiro.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Governador amplia segurança após suspeitas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.