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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PARTIDO
Auditores da Receita visitam partido, em operação que deve ser repetida em PTB, PL e PP
PT sofre auditoria em suas contas dos últimos 5 anos
MARCELO SALINAS
DA REDAÇÃO
Dois dias depois da cassação de
uma das suas principais lideranças políticas, o deputado José Dirceu, o PT recebeu ontem mais
duas más notícias: de que está
sendo alvo de auditoria da Receita
Federal e de que os funcionários
do Diretório Nacional do partido
decidiram entrar em greve.
Dois auditores da Receita estiveram ontem na sede do PT, em
São Paulo, para pedir os dados
contábeis da legenda dos anos de
2000 a 2004. De acordo com o secretário de Finanças, Paulo Ferreira, não foi explicado ao PT o
motivo da auditoria.
Conforme a Folha já havia publicado em setembro, a Receita
decidiu fazer uma auditoria nas
contabilidades de PT, PP, PL e
PTB. Os quatro partidos estão envolvidos em denúncias de financiamento ilegal de campanha e de
compra de votos de deputados.
"Recebemos um ofício na terça-feira pedindo que entregássemos
aos auditores nossos dados contábeis de 2000 a 2004. Fizemos uma
solicitação ao TSE [Tribunal Superior Eleitoral] e, por enquanto,
recuperamos os registros do ano
de 2000, que foram entregues aos
fiscais. Assim que recebermos o
restante dos registros, entregaremos às autoridades", disse o novo
tesoureiro do partido.
Ele afirma não saber qual o motivo específico das diligências:
"Tem a ver com processos investigatórios para verificar se o partido
agiu de acordo com a lei. Nossos
livros estão à disposição".
O antecessor de Ferreira na tesouraria do PT, Delúbio Soares,
admitiu ter feito uso de um esquema de dinheiro "não-contabilizado", ou caixa dois. Delúbio operou, junto com o publicitário
Marcos Valério de Souza, um esquema de repasse de R$ 55,8 milhões a políticos da base aliada,
que, segundo ele, seria para o pagamento de dívidas de campanha.
Imunidade
A ação da Receita baseia-se numa legislação que até hoje havia
sido aplicada apenas na parte que
beneficia os partidos. A Constituição Federal proíbe a cobrança de
impostos de organizações de assistência social, templos religiosos, sindicatos e partidos.
Para fazer jus à imunidade, as
entidades têm de seguir três regras previstas no artigo 14 do Código Tributário Nacional: não distribuir qualquer parcela de seu
patrimônio ou de suas rendas, a
qualquer título; aplicar integralmente os seus recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais e manter escrituração de
suas receitas e despesas em livros
revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão.
A Receita acha que os partidos
infringiram pelo menos a terceira
regra. Comprovadas as suspeitas,
as legendas amargarão a "suspensão da imunidade tributária". Na
prática, serão tratadas como empresas convencionais. Ou seja, terão de pagar os impostos relativos
ao período contado a partir do
início da prática da infração.
"Todos conhecem as dificuldades financeiras pelas quais o PT
tem passado, mas acreditamos
que todas as pendências relativas
aos repasses de recursos do fundo
partidário para a Fundação Perseu Abramo, por exemplo, serão
equacionados até o fim do ano",
disse Ferreira. O partido tem uma
dívida estimada em R$ 60 milhões
e, apenas para a fundação, deve,
extra-oficialmente, R$ 1,5 milhão.
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