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JUSTIÇA
Valor atual da área, hoje ocupada pelo parque Villa-Lobos, é estimado em R$ 200 mi por subprocurador que atua no caso
São Paulo vai pagar R$ 1,38 bi por terreno
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo de São Paulo irá pagar, em dez prestações, R$ 1,38 bilhão à família Abdalla pela desapropriação da área onde foi instalado o parque Villa-Lobos, junto à
marginal Pinheiros (zona oeste da
capital). Em 1988, quando o projeto foi idealizado, a previsão de
custo pela legalização e instalação
do parque era de R$ 42,2 milhões.
Procuradores do Estado ouvidos pela Folha apontam irregularidades ocorridas desde a escolha
do terreno, em 1988, até a conclusão do processo nos tribunais.
Na época em que decretou a desapropriação do terreno, que pertencia à S.A. Central de Imóveis e
Construções, cujo maior acionista
era Antônio João Abdalla Filho, o
ex-governador Orestes Quércia
(PMDB) foi acusado de favorecer
o empresário (leia texto abaixo).
Além do R$ 1,38 bilhão que o
Estado terá de desembolsar, outros R$ 257 milhões já foram depositados em favor da família Abdalla. "O valor dessa área seria hoje algo em torno de R$ 200 milhões. Todo o restante é a correção de juros moratórios e compensatórios", disse o subprocurador José Roberto de Moraes, responsável pelo caso desde 1995.
A primeira ordem judicial em
favor da família Abdalla foi concedida no governo de Luiz Antônio Fleury Filho (1991-1994), sucessor de Quércia e hoje deputado
federal pelo PTB. O processo foi
concluído em primeira instância.
Em 1997, já no governo de Mário Covas e quando Abdalla tentava um novo acordo com o Estado,
uma nova decisão judicial determinou que ao valor total da dívida
fosse aplicada a correção de
84,32%, relativa à inflação expurgada pelo Plano Collor (1990).
A ordem judicial foi feita por
meio de um ofício que solicitava a
inclusão, no mesmo precatório,
da diferença a ser paga. Segundo o
Manual de Precatórios, quando o
Estado não é regularmente citado,
deve pedir a nulidade do processo, o que não foi feito na época.
"É evidente que essa desapropriação traz um prejuízo enorme
aos cofres públicos. E quem paga
por isso é o contribuinte", afirmou o advogado Carlos Perin Filho, que, há cerca de três semanas,
entrou com ação popular pedindo o bloqueio do precatório.
"O valor está superavaliado. É
só buscar um jornal da época para
saber quanto valia o terreno. Com
certeza, não chega perto do que o
Estado vai pagar", disse.
Bloqueio
Em 31 de agosto passado, o Estado depositou a primeira parcela
(R$ 138,69 milhões) do total de
dez que terá de pagar, mas o valor
foi bloqueado pela 3ª Vara da Fazenda Pública como uma medida
de precaução em razão dos altos
valores envolvidos.
A primeira parcela só não foi sacada antes pela família Abdalla
por causa da greve do Judiciário,
que durou 80 dias e foi encerrada
no dia 19 de novembro.
Depois de ter conhecimento do
bloqueio, a Procuradoria Geral do
Estado, que autorizou todos os
depósitos, enviou à Justiça um
ofício que levanta dúvidas em relação à titularidade do precatório.
Ao ofício, de 30 de novembro, a
procuradoria anexou uma certidão de 1972, em que a Central
vendia o terreno (inclusive a área
onde está o parque), e um documento de 1994, com o registro de
liquidação da empresa.
O subprocurador José Roberto
de Moraes disse que o órgão conhecia os documentos, mas que
isso "não alterava a necessidade
de o Estado fazer os depósitos".
Por esses documentos, a procuradora estadual Fátima Fernandes Catellani, que assinou o ofício,
concluiu que a Central não deveria receber mais nada. "A S.A.
Central de Imóveis nada mais tem
a ver com o presente feito, não devendo mais ser deferido qualquer
levantamento a seu favor."
Em 1996, o governador Geraldo
Alckmin (PSDB), então vice de
Mário Covas, disse que o valor a
ser pago à Central era um "escândalo". Na época, Alckmin apresentou um estudo da Companhia
Paulista de Obras e Serviços e da
Nossa Caixa, segundo o qual o valor do terreno "não chegava a R$
150 milhões". O subprocurador
disse que desconhecia a avaliação.
O juízo da 3ª Vara da Fazenda
Pública informou que tem pouco
a fazer no caso e que o pagamento
do megaprecatório é uma questão
de tempo, já que o Estado depositou a primeira parcela sem se
opor. O ofício apresentado pela
procuradoria, após cerca de 12
anos do início da ação, não altera
a ordem de pagamento.
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