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DEFESA
Ministro confirma decisão de concentrar gastos nas áreas sociais, mas diz que Forças Armadas não serão desprestigiadas por Lula
Governo adia compra de caças para a FAB
WILSON SILVEIRA
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dia depois de assumir o Ministério da Defesa, o ministro José
Viegas Filho passou ontem pelo
constrangimento de ter de anunciar uma decisão da sua área que
já havia sido divulgada como uma
possibilidade pelo Palácio do Planalto no dia anterior.
O governo Luiz Inácio Lula da
Silva adiou para 2004 a decisão
sobre a licitação internacional de
cerca de US$ 700 milhões (R$ 2,4
bilhões) destinada à compra de 12
novos caças supersônicos para a
FAB (Força Aérea Brasileira).
A possibilidade do adiamento
foi antecipada por Lula por meio
de seu porta-voz, André Singer,
anteontem. Indagado se havia sido informado previamente, Viegas foi evasivo: "O presidente sinalizara nesse sentido, mas não
havia me dito a data da decisão".
Indagado novamente sobre
quando soube da decisão presidencial, voltou a não responder,
devolvendo uma pergunta: "Esse
anúncio foi feito ontem [anteontem" à noite, não é?".
Embora nenhum militar ouvido
pela Folha tenha concordado em
dar entrevista formal sobre as reações nos bastidores das Forças
Armadas, o episódio foi dado como uma demonstração de que o
Ministério da Defesa poderá continuar pouco prestigiado no governo Lula, assim como já ocorreu na administração de FHC.
Anteontem pela manhã, Viegas
recebera o cargo de seu antecessor, Geraldo Quintão, e o programa de compra dos caças era dado
como certo. Em seu discurso,
Quintão chegou a dizer: "Deixo
para Vossa Excelência, então em
curso, o Programa de Reequipamento da Força Aérea, já entrando em sua segunda fase".
Apesar do constrangimento de
não ter anunciado a decisão de
suspender a licitação, Viegas se
manteve fiel a Lula em suas declarações. Disse que o cancelamento
"se deve fundamentalmente ao
fato de que há uma necessidade
mais premente de concentração
de gastos nas áreas sociais, sobretudo no início do governo, que se
caracteriza pelo combate à fome e
pelos projetos sociais".
Viegas afirmou que a decisão foi
"muito bem recebida" na Aeronáutica. "Estamos trabalhando
com o governo e não contra o governo", declarou em uma de suas
várias entrevistas ao longo do dia
sobre o mesmo tema.
O novo comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos Bueno, também deu declarações protocolares, sem demonstrar animosidade: "Não tem problema algum, a
gente já havia até estudado isso".
À tarde, durante uma cerimônia
no Comando da Marinha, Viegas
comentou a hipótese de a FAB
alugar caças enquanto não puder
comprar aviões novos.
"Esse é um assunto que será estudado. Eu me basearei, para a
decisão que deverá ser tomada,
no relatório e nos depoimentos
do brigadeiro Bueno a esse respeito", disse o ministro.
Como o comandante Bueno estava ao lado do ministro da Defesa, foi então indagado pela Folha
sobre sua opinião a respeito da hipótese de alugar aviões. Em sua
resposta, demonstrou-se surpreso com o que acabara de ouvir:
"São as primeiras instruções que
estamos recebendo do sr. ministro. Tão logo as instruções sejam
trabalhadas nós poderemos avisar por intermédio do Ministério
da Defesa as soluções que poderão ser administradas e seguidas".
Apesar do constrangimento,
Viegas disse que o adiamento não
significa que o projeto tenha sido
abandonado ou arquivado nem
que "as necessidades e as premências da Força Aérea Brasileira fiquem desatendidas". O ministro
afirmou que Lula "tem dado e dará manifestações concretas no seu
propósito de prestigiar e valorizar
as Forças Armadas".
Sobre o fato de que o caças seriam comprados com recursos
procedentes de empréstimo externo e não com dinheiro do Orçamento, Viegas afirmou que se
trata de uma economia de gastos
futuros. "O governo se caracteriza
por uma atitude de planejamento
plurianual. Por isso, nós evitamos
que haja um comprometimento
prematuro de dinheiro nessa
questão e preservamos maior flexibilidade do governo."
Até 2002, a Aeronáutica planejava alugar caças israelenses Kfir
para substituir os Mirage da Base
Aérea de Anápolis, enquanto não
se concluíam as negociações para
a compra dos novos caças. Calcula-se que haja um intervalo de
dois a três anos entre o anúncio
do resultado da licitação e a efetivação da compra. Os Mirage deverão ser "aposentados" em 2005.
Segundo Viegas, se o governo
optar por alugar caças, eles não
serão necessariamente de Israel.
O comandante da Aeronáutica
disse que os outros projetos em
andamento na sua área estão integralmente mantidos. Citou a reforma de 54 caças F-5, que devem
começar a ser entregues renovados pela Embraer no fim de 2004.
Segundo Bueno, os 18 caças Mirage em operação estão ultrapassados e perderam sua função primordial, que é a interceptação de
qualquer aeronave agressora que
invada o espaço aéreo de Brasília
-o chamado "guarda-chuva".
Na licitação, que foi aberta em 1º
de agosto de 2001 e agora suspensa, os candidatos são o francês
Mirage 2000BR, o russo Sukhoi-35, o sueco Gripen, o americano
F-16 C/D e o russo MiG-29.
O consórcio russo-brasileiro
Rosoboronexport/Avibrás também oferece caças Sukhoi-27SK
seminovos. A Embraer não se
pronunciou sobre o assunto.
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