|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
A FAB, a Embraer e o PT
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Qualquer pessoa colocada face
ao simples dilema de comprar caríssimos aviões de caça ou investir
no "combate à fome" dificilmente
optaria por torrar dinheiro em canhões em vez de manteiga.
Mas a decisão do recém-instalado governo federal petista de
adiar a compra de caças para a
FAB (Força Aérea Brasileira) exala um nítido cheiro de populismo.
Pois os fatos não são tão simples
assim, nem é exatamente essa a
escolha.
Praticamente toda compra de
vulto de equipamento militar feita
no mundo hoje é uma espécie de
acordo de política industrial. É
completamente diferente de ir a
uma loja, apanhar a mercadoria
na prateleira e pagar em dinheiro
vivo.
O mercado está favorecendo os
compradores, pois a concorrência internacional é fortíssima, e as
indústrias estão desesperadas por
conseguir encomendas que permitam manter uma escala de produção sem a qual a atividade se
torna antieconômica.
A palavra chave é "off-set", termo que se usa para as compensações comerciais que o vendedor
do equipamento militar concede
ao país comprador.
Desde 1991 que a FAB tem a
chamada Política de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica da Aeronáutica, embora
só recentemente ela tenha começado a ser aplicada.
Modernização
O melhor exemplo ocorreu com
o programa em curso de modernização dos caças F-5. A concorrência foi vencida pela empresa
israelense Elbit, que se comprometeu a investir no país cerca de
US$ 230 milhões, incluindo a produção aqui de componentes eletrônicos para o avião.
A FAB espera o mesmo do projeto F-X -um investimento no
país pelo consórcio vencedor no
mesmo valor da compra dos caças (em torno de US$ 700 milhões), além de transferência da
tecnologia envolvida na integração dos sensores e armamentos
do avião.
A Embraer e seus sócios franceses ainda são os favoritos para
vencer a concorrência com o caça
Mirage 2000. "Compre Brasil", é o
recado que a empresa passa em
palestras, pois os franceses se dispõem a montar o Mirage 2000 no
Brasil (se as encomendas passarem dos 12 aviões previstos inicialmente) e a transferir pontos
sensíveis de sua tecnologia.
Campanha
Durante a campanha eleitoral o
agora presidente Luiz Inácio Lula
da Silva havia se declarado favorável a uma solução brasileira para a
compra dos caças, assim como
um dos nomes do PT mais versados em assuntos militares, o deputado federal José Genoino. A nova decisão é um banho de água
fria na Embraer e na FAB.
A Força Aérea Brasileira está
hoje com a maior parte de sua
aviação de combate obsoleta, em
um processo que vem de longa
data e resultou não só da falta de
verbas como também de erros gerenciais e desvio de atenção e recursos em outros aspectos do que ela chama de "poder aeroespacial", como a administração da
aviação civil.
Texto Anterior: Defesa: Governo adia compra de caças para a FAB Próximo Texto: Auxílio do Exército é disputado por Esporte, Educação e Fome Zero Índice
|