São Paulo, sábado, 04 de janeiro de 2003

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Governo dos EUA diz que decisão não interfere nas relações com o Brasil

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

A decisão do governo Luiz Inácio Lula da Silva de postergar até 2004 a licitação para a compra de 12 caças FX pode esfriar a escalada armamentista na região iniciada em 2001, quando os EUA autorizaram o Chile a comprar dez caças F-16 de alta performance.
Anteriormente, esses jatos, considerados de última geração, não podiam ser exportados para a América Latina por diretriz da Casa Branca. Desde a aquisição chilena, militares brasileiros, peruanos e chilenos mostram-se preocupados com um eventual desequilíbrio bélico na região e pressionam seus governos a realizarem aquisições semelhantes.
O fabricante dos F-16 chilenos é a Lockheed Martin, mesma companhia que concorre à licitação brasileira suspensa por Lula.

Departamento de Estado
Oficialmente, os EUA disseram ontem que a decisão do governo Lula não interfere na relação entre os dois países.
"Cabe ao governo brasileiro tomar suas próprias decisões considerando suas prioridades", afirmou à Folha Charles Barclay, porta-voz do Departamento de Estado americano.
Barclay não quis comentar o impacto da decisão brasileira sobre a relação entre os países e uma possível corrida armamentista na América Latina.

Interesses americanos
De acordo com analistas americanos, a sobriedade americana tem vários motivos.
O principal deles é que a decisão brasileira pode reduzir tensões nas Forças Armadas de outros países sem que os interesses comerciais americanos sejam diretamente prejudicados: depois do acordo entre a Embraer e a empresa francesa Dassault, a americana Lockheed Martin avalia não ter chances de ganhar a licitação brasileira.
A suspensão da licitação foi anunciada pelo ministro da Defesa, José Viegas. Segundo o ministro, o início do novo governo vai caracterizar-se pela canalização dos recursos ao combate à fome. Nesse contexto, a compra dos aviões deixou de ser prioritária nesse primeiro momento.
Sem entrar no mérito da decisão brasileira, Barclay fez questão de lembrar que os EUA apreciam seriamente a intenção de Lula de "elevar a qualidade de vida dos brasileiros".
A declaração reforça a postura americana de elogiar Lula e evitar conflitos que possam contaminar a onda positiva que caracteriza as relações bilaterais depois do encontro entre o presidente brasileiro e George W. Bush.

Fidel
Ontem, o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, disse que os EUA não vêem como problema a presença marcante dos presidentes cubano, Fidel Castro, e venezuelano, Hugo Chávez, na posse do brasileiro.
Desafetos de Washington, os dois encontraram-se a sós com o presidente brasileiro.
"Não cabe ao governo americano comentar com quem pessoas estiveram acompanhadas numa refeição", disse Boucher. "Temos excelentes relações com o Brasil", afirmou o porta-voz.


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