São Paulo, sábado, 04 de março de 2000


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PRIVATIZAÇÕES
Declarações contrárias à participação da Petrobras no setor petroquímico causam "mal-estar"
Crítica de Gros preocupa Minas e Energia

FELIPE PATURY
da Reportagem Local

O novo presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Francisco Gros, abriu sua primeira linha de confronto no governo no seu discurso de posse, na última quinta-feira.
Suas críticas à participação da Petrobras na reestruturação do setor petroquímico provocaram "mal-estar" na estatal e no Ministério de Minas e Energia, segundo a Folha apurou.
As declarações de Gros preocuparam os dirigentes da estatal e do ministério porque a Petrobras está negociando financiamentos com bancos para sua participação de R$ 167 milhões no pólo gás-químico do Rio. Eles temem que as críticas sejam interpretadas como um sinal de indecisão do governo e da empresa. Como presidente do BNDES, Gros integrará o conselho de administração da empresa.
Na quinta, ele disse "não enxergar lógica" nas negociações feitas pela Petrobras para ingressar no setor petroquímico. A estatal já participa do pólo petroquímico de Paulínia, em São Paulo, do pólo gás-químico do Rio e articula a compra da Copene (Companhia Petroquímica do Nordeste), na Bahia.
Publicamente, o presidente da Petrobras, Henri Philippe Reichstul, preferiu não reagir às declarações de Gros. Mas, a amigos e interlocutores do governo, Reichstul disse que "não entendeu" por que o presidente do BNDES se envolveu na polêmica sobre o futuro da petroquímica no seu primeiro dia no cargo.
O Ministério de Minas e Energia também não quis fazer nenhum comentário oficial às críticas de Gros, alegando que só o ministro Rodolpho Tourinho poderia se pronunciar sobre o assunto. Tourinho passa o Carnaval na Bahia.
A Folha apurou que a estatal, o ministério e mesmo a diretoria e os técnicos do BNDES consideram a participação da Petrobras na petroquímica uma decisão não só da empresa como do governo.
O ingresso da Petrobras no pólo gás-químico do Rio, por exemplo, foi articulado por Rodolpho Tourinho e incentivado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, que queria garantir o sucesso da nova indústria.
As críticas feitas por Gros contrariam até as declarações de seu chefe, o ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias. Após a indicação de Gros para o BNDES, Tápias garantiu que o governo não alteraria sua política com relação à petroquímica.
Desde o governo passado, a Petrobras planeja adquirir participações no setor petroquímico. A estratégia definida pela empresa inclui a participação em todos os estágios da cadeia produtiva. Com isso, a estatal pretende criar um mercado cativo e agregar valor a seus produtos.
Além de sua participação no pólo gás-químico do Rio e em Paulínia, a Petrobras negocia desde janeiro uma participação na Copene, o maior pólo petroquímico do país. Há três grupos interessados em adquirir o controle do pólo: o gigante americano Dow Chemical, o paulista Ultra e a Copesul, que reúne a Odebrecht e o grupo Ipiranga.
A Petrobras discute propostas do grupo Ultra, do empresário Paulo Cunha, e da Copesul, controlada pela Odebrecht e pelo grupo Ipiranga. Até agora, nenhuma das partes apresentou um plano de participações acionárias e programa de investimentos, mas a estatal já avisou que só continua as conversas se garantir um lugar no comando da Copene.
Oficialmente, a Petrobras e o Ministério de Minas e Energia preferiram não se manifestar sobre as declarações de Gros.


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