São Paulo, sábado, 04 de março de 2000


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CRIME ORGANIZADO
Em três dias, integrantes da comissão dizem ter encontrado quadro que os deixou "perplexos"
CPI deixa 30 policiais afastados no PR

WAGNER OLIVEIRA
da Agência Folha, em Curitiba


Os integrantes da CPI do Narcotráfico encerraram na madrugada de ontem os trabalhos no Paraná dizendo-se "perplexos" com as acusações de envolvimento da Polícia Civil do Estado com o crime organizado.
"Aqui extrapolou. É a polícia quem faz extorsão, controla, contrata o traficante e vende a droga. Só vi coisa igual no Acre", afirmou o presidente da CPI, deputado Magno Malta (PTB-ES).
Durante os três dias de trabalho da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Paraná, 30 policiais civis foram afastados sob acusação de liderar o tráfico de drogas e o roubo de veículos. A Justiça decretou 15 mandados de prisão.
Entre os acusados estão o ex-delegado-geral João Ricardo Kepes de Noronha e cinco delegados que ocupavam cargos de confiança na polícia do Estado.
Noronha foi exonerado da função pelo governador do Paraná, Jaime Lerner (PFL), por não atender à convocação da CPI. O ex-delegado-geral está foragido.
O secretário de Segurança Pública do Paraná, Candido Martins de Oliveira, foi o último a prestar depoimento aos parlamentares, que interrogaram ex-policiais, traficantes e usuários de drogas.
Oliveira afirmou desconhecer que a cúpula da Polícia Civil estivesse ligada ao crime organizado. Ele prometeu "recolher os cacos do que sobrou" e ajudar a comissão a combater o narcotráfico. O depoimento não convenceu todos os integrantes da comissão.
"Como o senhor não sabia das acusações contra a cúpula da polícia? Ou é conivência ou é incompetência administrativa", disse o deputado Lino Rossi (PTB-MT), ao interrogar Oliveira.
"Eu, que estou em Brasília, tão longe, fiquei sabendo de tanta coisa. Como é que ele, que está na chefia da polícia há cinco anos, não sabia?", questionou o deputado Robson Tuma (PFL-SP).
"Recebo, com toda a humildade, a observação com relação a deficiências de controle da máquina policial da estrutura da Secretaria de Segurança. Ninguém ficou mais estarrecido do que eu", disse o secretário.

Acordo
Apesar do tom incisivo dos dois deputados, Oliveira não enfrentou um duro questionamento dos outros integrantes da CPI.
Segundo o deputado Padre Roque (PT-PR), houve um acordo para evitar um bate-boca entre parlamentares e o secretário.
"Havia um certo compromisso de não melindrar politicamente, de não desestabilizar o governo."
O depoimento também desagradou a representantes do Ministério Público, que vai continuar a investigar a corrupção na polícia paranaense. Para isso, contará com um aparato especial, que inclui aviões e 15 policiais.


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