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São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003

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BAHIAGATE

Para o Conselho, gravações não comprovam que pefelista tenha sido mandante

Senadores se convencem de ligação de ACM com grampo

Lula Marques/Folha Imagem
Heloísa Helena e Mercadante conversam durante o depoimento de Luiz Cláudio Cunha (à esq.)


RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os depoimentos dos jornalistas da revista "IstoÉ" Luiz Cláudio Cunha e Weiller Diniz no Conselho de Ética do Senado e a exibição do áudio de uma conversa gravada do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) com um deles foram decisivos para convencer os senadores da vinculação de ACM com os grampos telefônicos da Bahia.
Agora, o conselho ouvirá apenas o depoimento de ACM para que o relator, Geraldo Mesquita Júnior (PSB-AC), conclua seu parecer, até 22 de abril. Para Mesquita, não há necessidade de ouvir mais nenhuma testemunha nessa fase da investigação, que busca "meros indícios" do envolvimento de ACM no caso.
"Considero que tenho em mãos informações substanciais que só podem ser acrescidas por informações do senador Antonio Carlos", disse o relator.
Mesquita deverá propor abertura de processo por quebra de decoro, e a tendência dos conselheiros é aprovar o relatório.
A maioria dos senadores, no entanto, considerou que a fita exibida pelo jornalista não caracteriza que o pefelista tenha sido o mandante da escuta clandestina, apesar de ter envolvimento com a questão.
"A fita não comprova de forma acabada que o senador foi o mandante", afirmou o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), que, no entanto, considerou o depoimento "muito forte como prova testemunhal".

"Há indícios"
Usando essa brecha, o PFL vai tentar ao menos amenizar a pena a ser proposta ao baiano. Em vez de cassação, o partido vai defender a aplicação de uma punição mais branda, como a suspensão temporária do mandato.
"Há indícios de que o senador Antonio Carlos Magalhães tem envolvimento com os grampos, sim. Agora, entre ter envolvimento e ser mandante há uma enorme diferença", afirmou o líder do PFL, José Agripino (RN).
"Se associarmos a fita, na qual aparece a voz do senador, ao depoimento do jornalista, temos provas documentais do envolvimento amplo, sistêmico e organizado do senador Antonio Carlos com os grampos", declarou Mercadante.
O petista também se referia ao depoimento de Weiller Diniz, sobre as coincidências de datas, informações e até de erros de grafia entre cartas enviadas pelo senador baiano a ministros do governo Fernando Henrique Cardoso e conversas obtidas nos grampos.

Conversa com ACM
Mais forte do que a fita, foi o relato de Cunha sobre a primeira conversa que teve com ACM, na tarde de quinta-feira, 30 de janeiro de 2003. Nesse dia, segundo o jornalista, o senador lhe entregou um relatório com um resumo das transcrições de conversas telefônicas grampeadas do deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e teria confessado que mandou grampear o adversário político.
"Ele [ACM] me recebeu em seu gabinete sentado na poltrona com um calhamaço, em espiral, e com uma capa preta", disse. Sobre a confissão de ter mandado grampear Geddel, Cunha afirmou aos senadores: "Ouvi isso do senador. Foi uma declaração espontânea dele. Fiquei perplexo, surpreso."
Os principais aliados de ACM no conselho, César Borges (PFL-BA) e Rodolpho Tourinho (PFL-BA), além de João Alberto (PMDB-MA) e Sérgio Guerra (PSDB-PE), tentaram desqualificar o depoimento do jornalista, questionando a precisão com que ele reproduziu seu primeiro diálogo com o senador baiano, que não foi gravado.

Gravação
Os senadores ouviram o áudio da fita, que foi examinada pelo perito Ricardo Molina. Ao mesmo tempo, a transcrição era exibida em um telão montado no plenário do conselho. Na conversa, que durou oito minutos, Cunha pede que ACM lhe mostre a gravação dos grampos de Geddel.
O próprio jornalista apontou os momentos considerados mais comprometedores. O primeiro, quando ACM diz que Geddel não tem nenhuma prova de que foi gravado e que a revista publicar que ele deu as informações é que "vai provar" (que houve grampo). O segundo momento é quando o senador afirma que a fita foi destruída. "Eu até queria...Fiquei irritadíssimo porque destruíram...Por que aquilo não precisava destruir".
Nesse trecho, ACM cita o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Se a gente tivesse aquilo...", afirma o jornalista. E ACM responde: "Evidentemente, pra mim era bom por causa do Fernando Henrique".


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