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São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003

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PREVIDÊNCIA

José Viegas, da Defesa, se mostra contrário aos principais pontos defendidos por Berzoini e propõe regime diferenciado

Ministro contesta proposta para militares

Carlos Humberto/BG Press
Ministro da Defesa, José Viegas (dir.), ao lado do deputado Roberto Brant, em reunião da Previdência


JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em audiência ontem na comissão especial da reforma da Previdência, o ministro da Defesa, José Viegas, mostrou-se contrário aos principais pontos defendidos pelo Ministério da Previdência para reforma do regime dos militares.
Em suas declarações aos deputados, Viegas foi enfático na defesa dos direitos dos militares: "Existe um pacto entre a sociedade, o governo e as Forças Armadas. Por isso, é preciso que haja previsibilidade e regras sólidas. É responsabilidade do Estado fornecer recursos para a pensão e a aposentadoria dos militares".
Na semana passada, assessores do ministro Ricardo Berzoini (Previdência) afirmaram que já existia consenso entre Previdência e Defesa sobre três itens da reforma: o fim da pensão vitalícia para filhas de militares, o aumento do tempo de contribuição de 30 para 35 anos e o fim da contagem do tempo de academia para efeitos de aposentadoria.
Viegas contestou ontem os três pontos. O fim da pensão vitalícia para filhas de militares, segundo ele, provocará uma avalanche de ações judiciais contra o governo, que ainda será obrigado a devolver dinheiro aos militares que contribuem para esse benefício. A pensão vitalícia tem sido constantemente criticada por Berzoini.
Viegas lembrou que o benefício foi extinto a partir de 2001. "Quem ingressou na carreira militar a partir de 2001 não tem direito. Há uma regra de transição para os militares que já estavam na carreira, que passaram a contribuir com 1,5% da remuneração bruta para garantir o benefício."
Com base em projeções, Viegas acrescentou que a conta atuarial para esse tipo de benefício é superavitária até 2036. "Hoje a arrecadação é de cerca de R$ 120 milhões, e o pagamento de benefícios é de R$ 5 milhões", afirmou.

Contribuição
O ministro também demonstrou resistência aos outros dois pontos considerados importantes por Berzoini e sua equipe.
"O militar contribui até a morte porque continua contribuindo na reserva e na reforma. O tempo de contribuição não pode corresponder à arrecadação necessária. Não se pode reduzir a conta previdenciária dos militares a um exercício atuarial. É preciso ter em conta as características específicas", defendeu o ministro.
Ele disse ainda que, por não contabilizar horas extras e estar submetido à dedicação exclusiva, o militar não contribui apenas por 30 anos na ativa. "Na verdade, esses 30 anos equivalem a 51 anos", completou o ministro.
Para ele, a proposta de acabar com a contagem de tempo na academia também deve levar em consideração que o cadete é obrigado a fazer concurso público, está sujeito à rigorosa disciplina dos códigos militares, além de colocar a vida em risco.
Na audiência, todos os deputados que se manifestaram disseram ser favoráveis a um regime previdenciário especial para os militares. Viegas destacou que já há um consenso sobre a necessidade de um regime diferenciado. Ele elencou vários países cujas Forças Armadas dispõem de sistemas próprios, entre eles China, EUA, Chile e Argentina.
Questionado pelos congressistas sobre a proposta do governo na reforma da Previdência para as Forças Armadas, Viegas limitou-se a dizer que teria um encontro ainda ontem com Berzoini para discutir o assunto.
A Folha entrou em contato com a assessoria de Berzoini para ouvi-lo sobre as declarações de Viegas, mas não obteve resposta.


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