São Paulo, domingo, 04 de junho de 2000


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ELEIÇÕES
Pré-candidato petista à Prefeitura de São Bernardo busca apoio e dinheiro de empresários para a sua campanha
"Novo Vicentinho" quer ajuda de patrões

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Pré-candidato do PT à Prefeitura de São Bernardo do Campo (SP), o sindicalista Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, está de volta às portas de fábrica -desta vez, atrás do apoio, inclusive financeiro, dos empresários.
Presidente licenciado da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicentinho, 43, definiu como "alvos prioritários" de sua campanha os presidentes e diretores das empresas sediadas na cidade.
Os objetivos declarados do sindicalista são três: amenizar a imagem negativa que 20 anos de defesa de greves e manifestações deixaram junto ao empresariado; obter o compromisso deles de que não vão sabotar sua pretensão de ser prefeito; e firmar com os patrões um "pacto pela governabilidade", caso seja eleito.
Outras metas do "novo Vicentinho" são mais sutis e ambiciosas: conseguir apoio de empresários à campanha -não apenas declarações de voto e manifestações de simpatia, mas também dinheiro.
"Vamos pedir aos empresários apoio, declaração de voto e dinheiro também, se for contribuição dentro das regras. Só assim para enfrentar a máquina da prefeitura", disse Vicentinho à Folha. O oponente dele, Maurício Soares (PPS), 59, é o atual prefeito e pré-candidato à reeleição. Maurício tem 46% das intenções de voto contra 22% de Vicentinho, conforme pesquisa Datafolha de 27 de maio, em um dos cenários.
O sindicalista conta com o apoio de indústrias "médias, pequenas e grandes". Segundo a Folha apurou, a campanha de Vicentinho já tem promessas de doações de pelo menos três empresas, todas metalúrgicas.
O petista iniciou sua maratona de contatos com empresários há dois meses. No último dia 23 de maio, teve reunião com 30 diretores de empresas, dos ramos metalúrgico e químico, entre outros. Entre elas, Volkswagen, Mercedes-Benz, Basf e Toshiba.
O encontro teve um tema principal: a fuga de indústrias de São Bernardo, causada, entre outros fatores, pela forte atuação do movimento sindical.
"Vicentinho é respeitado como negociador, mas a imagem que muitos empresários têm dele ainda é de um líder grevista. Será essa a pessoa indicada para liderar o resgate econômico da cidade?", pergunta um dos empresários presentes à reunião.
Vicentinho admite que seu maior problema durante a campanha será de imagem.
Afinal, referências ao "velho Vicentinho" -o líder grevista que organizou incontáveis piquetes em portas de fábricas- deverão ser uma das armas de seu oponente na eleição.
Ele admite que mudou -"todos nós mudamos"-, mas declara que continua "coerente com seus princípios".
"É injusto me julgar hoje pelos meus atos dos anos 80. Era uma época muito radicalizada, em que havia pouco espaço para negociação e tínhamos de recorrer à greve, diferente de hoje", afirma ele, que faz questão de ressaltar que continua achando a greve "um direito constitucional".
Para reduzir sua rejeição entre os empresários, Vicentinho dá curso também a um processo de "polimento" em sua imagem.
A operação começou, na verdade, há dois anos, quando ele se matriculou no curso de direito em uma universidade de São Bernardo. Ele promete continuar a assistir às aulas mesmo quando a campanha estiver no auge.
Nos últimos meses, o petista começou a fazer viagens ao exterior, para, segundo ele, buscar idéias para seu programa de governo.
A "globalização" do sindicalista incluiu viagens à Europa, aos EUA e, na última semana, à África do Sul, onde se encontrou com Nelson Mandela -agraciado com o título de "cidadão são-bernardense". Vicentinho diz que tem conversado, entre outros, com o primeiro-ministro da Holanda, Wim Kok: "Meu amigo pessoal e exemplo de líder trabalhista que chegou ao poder".
"Eu quero reunir as melhores idéias para pôr em prática em São Bernardo. Esta cidade precisa de soluções criativas", diz.


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