São Paulo, domingo, 04 de junho de 2000


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VIAGEM PRESIDENCIAL
Chefes de Estado produzem em Berlim documento que vai contra o chamado "Consenso de Washington"
Reunião defende controle sobre mercados


RICARDO GRINBAUM
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM


Quatorze chefes de Estado, incluindo o presidente Fernando Henrique Cardoso, defenderam ontem em Berlim maior controle dos governos sobre os mercados com o objetivo de combater a pobreza e a injustiça social, além de criar mecanismos para acabar com o desemprego.
Depois de um dia de debates em Berlim, os presidentes de centro-esquerda produziram um documento que aponta na direção contrária ao "Consenso de Washington", que estabeleceu as bases, no início da década de 90, para as políticas neoliberais, de predomínio dos mercados e de redução do Estado.
"Queremos crescimento econômico com justiça social", disse ontem o presidente norte-americano, Bill Clinton, no final da reunião sobre "governança progressiva" -nome dado a um novo estilo de governo- no próximo século.
"Temos de reduzir a desigualdade na distribuição de renda", completou Clinton.
O presidente dos Estados Unidos disse que medidas práticas para levar adiante o consenso político acertado em Berlim serão debatidas no próximo encontro do G-7 (que reúne os sete países mais ricos do mundo) e a Rússia, no mês que vem, em Okinawa, no Japão.

Mais proteção social
O final do encontro entre os chefes de Estado foi marcado por um tom de entusiasmo em torno do que os presidentes e primeiros-ministros chamaram de novo discurso progressista.
A base da nova cartilha de esquerda é o que o sociólogo inglês Anthony Giddens chama de "atualização da social-democracia".
No documento final, os chefes de Estado dizem que os países devem garantir a estabilidade econômica, ajustando as contas públicas e combatendo a inflação, mas também devem buscar mais justiça social.
Os 14 chefes de Estado defenderam políticas de pleno emprego e uma bandeira que há muito tempo não era desenrolada: a defesa das políticas de bem-estar social, típicas da social-democracia européia.
"Os sistemas de bem-estar social precisam ser melhorados e adaptados. Melhores redes de proteção social nos países em desenvolvimento podem prevenir o aumento da pobreza e da desigualdade tanto para as mulheres quanto para os homens", afirma o documento elaborado durante a reunião.
Os chefes de Estado, incluindo cinco dos sete países mais ricos do mundo, também querem ordenar o fluxo dos investimentos financeiros que circulam rapidamente de um país para outro gerando desequilíbrios econômicos.
"Não queremos que os mercados financeiros predominem sobre os governos", disse o anfitrião do encontro, o chanceler alemão Gerhard Schroeder.

Esquinas mundiais
Já o primeiro-ministro francês, Lionel Jospin, defendeu no encontro uma nova ordem mundial em que se leve em conta a redução das diferenças entre os países ricos e pobres.
"Precisamos olhar para todas as esquinas do mundo, temos uma responsabilidade global", disse o socialista Jospin.
Participaram da reunião em Berlim os chefes de Estado e de governo dos Estados Unidos, Alemanha, França, Itália, Holanda, Brasil, Argentina, Chile, África do Sul, Portugal, Suécia, Nova Zelândia e Grécia.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, um dos idealizadores da chamada Terceira Via, não foi ao encontro de Berlim por motivos pessoais. Ele ficou em casa cuidando do quarto filho, recém-nascido.
Nova reunião deverá ser realizada em Nova York, antes do fim do mandato do presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton.


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