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VIAGEM PRESIDENCIAL
Chefes de Estado produzem em Berlim documento que vai contra o chamado "Consenso de Washington"
Reunião defende controle sobre mercados
RICARDO GRINBAUM
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
Quatorze chefes de Estado, incluindo o presidente Fernando
Henrique Cardoso, defenderam
ontem em Berlim maior controle
dos governos sobre os mercados
com o objetivo de combater a pobreza e a injustiça social, além de
criar mecanismos para acabar
com o desemprego.
Depois de um dia de debates em
Berlim, os presidentes de centro-esquerda produziram um documento que aponta na direção
contrária ao "Consenso de Washington", que estabeleceu as bases, no início da década de 90, para as políticas neoliberais, de predomínio dos mercados e de redução do Estado.
"Queremos crescimento econômico com justiça social", disse
ontem o presidente norte-americano, Bill Clinton, no final da reunião sobre "governança progressiva" -nome dado a um novo estilo de governo- no próximo século.
"Temos de reduzir a desigualdade na distribuição de renda",
completou Clinton.
O presidente dos Estados Unidos disse que medidas práticas
para levar adiante o consenso político acertado em Berlim serão
debatidas no próximo encontro
do G-7 (que reúne os sete países
mais ricos do mundo) e a Rússia,
no mês que vem, em Okinawa, no
Japão.
Mais proteção social
O final do encontro entre os
chefes de Estado foi marcado por
um tom de entusiasmo em torno
do que os presidentes e primeiros-ministros chamaram de novo
discurso progressista.
A base da nova cartilha de esquerda é o que o sociólogo inglês
Anthony Giddens chama de
"atualização da social-democracia".
No documento final, os chefes
de Estado dizem que os países devem garantir a estabilidade econômica, ajustando as contas públicas e combatendo a inflação,
mas também devem buscar mais
justiça social.
Os 14 chefes de Estado defenderam políticas de pleno emprego e
uma bandeira que há muito tempo não era desenrolada: a defesa
das políticas de bem-estar social,
típicas da social-democracia européia.
"Os sistemas de bem-estar social precisam ser melhorados e
adaptados. Melhores redes de
proteção social nos países em desenvolvimento podem prevenir o
aumento da pobreza e da desigualdade tanto para as mulheres
quanto para os homens", afirma o
documento elaborado durante a
reunião.
Os chefes de Estado, incluindo
cinco dos sete países mais ricos do
mundo, também querem ordenar
o fluxo dos investimentos financeiros que circulam rapidamente
de um país para outro gerando
desequilíbrios econômicos.
"Não queremos que os mercados financeiros predominem sobre os governos", disse o anfitrião
do encontro, o chanceler alemão
Gerhard Schroeder.
Esquinas mundiais
Já o primeiro-ministro francês,
Lionel Jospin, defendeu no encontro uma nova ordem mundial
em que se leve em conta a redução
das diferenças entre os países ricos e pobres.
"Precisamos olhar para todas as
esquinas do mundo, temos uma
responsabilidade global", disse o
socialista Jospin.
Participaram da reunião em
Berlim os chefes de Estado e de
governo dos Estados Unidos, Alemanha, França, Itália, Holanda,
Brasil, Argentina, Chile, África do
Sul, Portugal, Suécia, Nova Zelândia e Grécia.
O primeiro-ministro do Reino
Unido, Tony Blair, um dos idealizadores da chamada Terceira Via,
não foi ao encontro de Berlim por
motivos pessoais. Ele ficou em casa cuidando do quarto filho, recém-nascido.
Nova reunião deverá ser realizada em Nova York, antes do fim do
mandato do presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton.
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