São Paulo, domingo, 04 de junho de 2000


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MILITARES
Em 95, recurso destinado à Força Aérea era de R$ 418,2 milhões contra a previsão de R$ 124,3 milhões neste ano
Investimento na FAB cai no governo FHC

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Força Aérea Brasileira teve diminuído o orçamento destinado a investimentos durante o governo Fernando Henrique Cardoso.
As verbas direcionadas à aquisição e modernização de aeronaves e ao reaparelhamento da FAB, por exemplo, caíram de R$ 418,2 milhões, em 1995, para R$ 124,3 milhões na previsão deste ano, ou seja, já foram mais de três vezes maiores do que as atuais.
A consequência mais direta é o aumento na paralisação das aeronaves por falta de peças de reposição e para manutenção.
No início do governo FHC, 32% da frota da FAB esteve paralisada, em média -índice próximo da meta internacional de indisponibilidade, que é de 25%.
Este ano, a paralisação já atinge 60%, com tendência de agravamento, segundo revelou o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista. Dos 775 aviões da FAB, 449 estiveram parados no início da semana, sendo que desses cerca de 260 estão fora da escala de vôo há mais de 60 dias.

Frota
Se nada for feito, o comandante Baptista estimou que em dois meses apenas um terço da frota poderá continuar voando.
Os aviões Búfalo e os Hércules C-130, considerados os mais robustos da frota, já estão voando com restrições.
O quadro é mais dramático se for levada em conta a inflação dos últimos cinco anos e os cortes feitos no Orçamento deste ano.
Descontada a inflação, "sobrariam" cerca de R$ 82,7 milhões para investimentos.
Sobrariam, se nesse valor o governo não tivesse há duas semanas cortado mais 14%, a título de "contribuição para o ajuste fiscal". Se nada mais grave ocorrer, "sobrarão" cerca de R$ 71,2 milhões para a FAB investir neste ano.
Com esses recursos, a Força Aérea terá de manter e repor os cerca de 62 mil itens que mantém em prateleiras, que vão desde pequenos parafusos a turbinas.
A maior parte desses produtos é importada, o que significa gastos em dólar.
Outro agravante: boa parte da frota da FAB está fora de linha. Assim, peças de reposição dos Mirage franceses ou dos HS-125 ingleses são fabricadas sob encomenda, o que as tornam ainda mais caras.
De alguns aviões só não resta apenas a carcaça porque há uma ordem interna na Aeronáutica que impede que os aviões sejam "canibalizados".
De cada aeronave, somente podem ser retiradas até cinco peças.

Sucateamento
A análise mais detalhada nas previsões de investimento da Aeronáutica, com base nos dados levantados junto ao Siafi (sistema que permite o acompanhamento dos gastos do governo) pelo deputado Agnelo Queiroz (PC do B-DF), permite avaliar que chegaram a zero no ano passado os recursos destinados à modernização das aeronaves, que já vinham decrescendo nos quatro anos anteriores.
Também foi zero o investimento na aquisição de aeronaves, na manutenção de material bélico (como bombas e projéteis usados em treinamentos) e na aquisição de materiais individuais.
"Esse sucateamento é grave porque compromete a nossa própria soberania", afirmou Agnelo.
Pela falta de dinheiro, estão parados tanto os aviões utilizados na defesa aérea (Mirage, F-5, AMX, Xavante e Tucano) quanto os de transporte de pessoal e carga (Hércules, Búfalo, Boeing, Bandeirante, Brasília e Avro), além dos aviões de treinamento (Universal, Xavante e Tucano).

Transporte especial
No caso dos 53 AMX posicionados nas bases aéreas de Santa Cruz (RJ) e de Santa Maria (RS), 40 estão parados, envolvidos em sacos plásticos para evitar maior deterioração.
A Força Aérea afirma que, apesar disso, não há riscos para a soberania do espaço aéreo.
Segundo a Força Aérea, bastariam dois jatos em condições de vôo em cada base para interceptação aérea de emergência.
Não escapam da paralisação nem mesmo os aviões de transporte especial, destinados a deslocar as autoridades pelo país.
Dos dez Learjet utilizados por ministros, apenas dois funcionavam na quinta-feira.
Dos oito HS-125, também apenas dois estavam em condições de levantar vôo.
Dos dois aviões Brasília Vip, apenas um poderia ser usado.
Por enquanto, estão sendo preservados apenas os três Boeing 737-200 utilizados por FHC em suas viagens nacionais ou internacionais de curta distância.
Os quatro Boeing 707, o modelo conhecido por "Sucatão", deixaram de servir à Presidência da República depois que um deles teve pane no ar com o vice-presidente Marco Maciel a bordo e passaram a ficar disponíveis para o transporte de pessoal.


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