|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JUDICIÁRIO
Novo presidente do STF toma posse e prega acordo entre Poderes
Jobim defende Lula de ataque da OAB ao assumir o Supremo
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da
OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil), Roberto Busato, atacou o
governo, disse que "o Brasil é um
país inconstitucional" e criticou
especialmente a fixação do salário
mínimo em R$ 260. O discurso foi
feito na posse do ministro Nelson
Jobim como presidente do STF
(Supremo Tribunal Federal).
Por sua vez, Jobim encerrou a
cerimônia deixando claro que Lula contará, nos próximos dois
anos, com uma espécie de aliado
político no principal cargo do Judiciário. Ele pregou um acordo
entre os Poderes, defendeu que os
tribunais não interfiram nas políticas públicas e respondeu às críticas da OAB ao governo.
"Baixemos as armas, vamos ao
diálogo e ao debate democrático",
disse. No único trecho improvisado, afirmou: "Só os desalentados... se entregam ao discurso e à
retórica e não querem enfrentar
com lucidez o desenvolvimento
da nação e as melhorias para o
avanço e a inclusão que estão sendo feitas por este governo".
Antes dele, Busato havia dito
que o salário mínimo -aprovado
anteontem pela Câmara em R$
260- é inconstitucional porque
não atende sequer às necessidades básicas de uma pessoa. "Ano a
ano, o que temos é o reajuste de
uma ilegalidade, o reajuste da miséria, sob o mesmo e indefectível
argumento: a camisa-de-força do
modelo econômico-financeiro."
Após a solenidade, o ministro
Guido Mantega (Planejamento)
defendeu o governo. Para ele, não
é possível concordar com Busato
porque o reajuste do mínimo (de
R$ 20) é um dos melhores dos últimos dez anos. "Não vou dizer
que é excelente [o mínimo], mas é
razoável. Então nós estamos cumprindo nossa obrigação", disse.
Já o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva não quis comentar as declarações. Questionado, respondeu: "Hoje não. Entrevista é com
o Nelson Jobim".
O presidente da OAB também
protestou contra o excesso de
emendas à Constituição, chamando de "síndrome do reformismo", e o abuso na edição de medidas provisórias pelo governo Lula, dizendo que isso gera insegurança jurídica.
Essa não é a primeira vez que
Lula passa pelo constrangimento
de ouvir críticas a seu governo durante uma posse no STF. Há exatamente um ano, Maurício Corrêa assumiu a presidência do tribunal reforçando o lobby dos juízes contra o fim da aposentadoria
integral. Como de praxe, a OAB
também fez ataques.
Márcio Thomaz Bastos (Justiça)
disse discordar de "muitas coisas"
ditas por Busato. Afirmou que foi
um "bom discurso", que precisa
ser respeitado, mas optou por elogiar Jobim.
O procurador-geral da República, Claudio Fonteles, defendeu o
mínimo fixado.
Controle externo
Jobim, 58, vinha presidindo o
STF em caráter interino desde o
dia 10 de maio último, um dia depois de Corrêa completar 70 anos
e se aposentar. O mandato é de
dois anos. A vice-presidente será
Ellen Gracie Northfleet, a única
mulher no tribunal até hoje.
Jobim defendeu, no discurso, a
criação do Conselho Nacional de
Justiça, o órgão de controle externo, e a adoção da súmula vinculante, pela qual juízes das instâncias inferiores deverão seguir o
entendimento firmado pelo STF
em determinados temas, o que reduzirá o volume de recursos ao
tribunal. Essas são duas medidas
polêmicas previstas na reforma
do Judiciário, que está para ser
votada pelo plenário do Senado.
Na defesa da súmula vinculante,
ele afirmou que a lentidão da Justiça interessa a algumas pessoas,
em referência indireta aos advogados, que ganham com o adiamento do desfecho de causas judiciais. "Há aqueles que querem a
ineficiência, querem a manutenção da complexidade processual.
Tudo porque a morosidade lhes
assegura um subsídio oculto à sua
atividade", disse.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Habeas corpus põe em choque ministros do STF Índice
|