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CPI DO BANESTADO
Diretores da instituição depuseram ontem
"Sacoleiras pressionavam o câmbio", diz BC para justificar regras das CC-5
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Representantes do BC (Banco
Central) disseram ontem aos integrantes da CPI do Banestado que
a mudança nas regras de movimentação das contas CC-5 (de
não-residentes), em 1996, para
cinco agências bancárias em Foz
do Iguaçu, foi feita para evitar que
a atuação dos sacoleiros provocasse pressão sobre o câmbio.
A mudança nas regras, autorizada inicialmente por Gustavo
Franco, então diretor da área internacional do BC, permitiu que
as agências do Banestado, Bemge,
Real, Banco do Brasil e Araucária
recebessem, em suas contas CC-5,
cujos titulares eram instituições
financeiras paraguaias, depósitos
em espécie superiores a R$ 10 mil
-limite válido para todos os outros bancos do país.
Conforme exposto pelo diretor
de Fiscalização do Banco Central,
Paulo Sérgio Cavalheiro, pelo
chefe do Departamento de Combate a Ilícitos Cambiais e Financeiros, Ricardo Liao, e pelo chefe
do Departamento de Capitais Estrangeiros e Câmbio, José Maria
Carvalho, ao trocar reais por dólares em Foz do Iguaçu e, com a
moeda internacional, comprar
em Ciudad del Este, os sacoleiros
estavam pressionando o câmbio.
Para conter a pressão, Franco
assinou uma portaria, em abril de
1996 permitindo que instituições
financeiras paraguaias, que em
Ciudad del Este trocavam reais
por dólares para comerciantes locais, pudessem depositar o dinheiro brasileiro diretamente em
contas CC-5 no Brasil.
A justificativa não convenceu os
congressistas. "Hoje [ontem] comecei a entender a importância
dos sacoleiros", afirmou em tom
de brincadeira o relator da CPI,
deputado José Mentor (PT-SP),
ressalvando, no entanto, que ainda precisa analisar documentos
para formar um juízo técnico.
Em investigação da PF (Polícia
Federal) e do Ministério Público,
o Banestado, por meio dessas
operações -que poderiam configurar lavagem de dinheiro-, remeteu US$ 30 bilhões para sua
agência de Nova York, primeira
parada do dinheiro antes de ser
enviado a paraísos fiscais.
"Esse número de US$ 30 bilhões
não é de conhecimento do BC. A
regulamentação [das CC-5] foi
normal, saudável e necessária ao
país", declarou Cavalheiro.
Os representantes do BC informaram que, em julho de 1996,
dois meses depois que as movimentações excepcionais foram
autorizadas em Foz do Iguaçu, a
instituição levantou os primeiros
indícios de irregularidades.
O fluxo do movimento financeiro mostrou descompasso com o
comércio com o Paraguai. Como
providências, fizeram uma auditoria em algumas operações e, em
abril de 1997, o caso foi encaminhado ao Ministério Público.
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