|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRISE DOS PODERES
Presidente participou de homenagem a Raymundo Faoro
Lula muda tom, mas volta a criticar justiça "subalterna"
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva aproveitou a homenagem ao
jurista Raymundo Faoro ontem
no Ministério da Justiça para criticar, ainda que de forma indireta, o
Poder Judiciário. Em discurso lido, Lula insinuou que o Judiciário
é uma instituição que funciona de
forma subalterna "ao gosto daqueles que a comandam".
A crítica dá sequência à defesa
que o governo faz do controle externo do Judiciário, mas reflete
uma postura mais amena do presidente. As declarações anteriores
de Lula -de que havia uma "caixa preta" no Judiciário e de que o
Judiciário não o impediria de destacar o Brasil- quase resultaram
em crises institucionais.
"É preciso recuperar o sentido
de Justiça para todos. É preciso
voltar a acreditar que as instituições existem para servir e não para serem subalternas ao gosto daqueles que as comandam", afirmou o presidente.
"Estou convencido de que trabalhar para democratizar a Justiça e o conjunto das instituições é a
melhor forma de preservar a memória de Faoro."
Ao chegar à sede do Ministério
da Justiça, que passou a se chamar
Palácio da Justiça Raymundo
Faoro, Lula cumprimentou e trocou rápidas palavras com os ministros Sepúlveda Pertence, do
Supremo Tribunal Federal, e Nilson Naves, presidente do Superior Tribunal de Justiça.
Após a cerimônia, Pertence avaliou que o discurso de Lula foi
"normal". Para ele, o mal-estar
entre os Poderes se deve às "declarações infelizes" que são utilizadas para prejudicar o Judiciário
na reforma da Previdência.
"Há declarações infelizes de setores que se aproveitam de uma
certa insatisfação social com o
funcionamento do Judiciário, que
é justa, para tratar essa matéria
previdenciária sem atenção aos
dados institucionais dela, que são
decisivos para a construção de
um Judiciário forte", disse, sem
especificar a que setores se referia.
Ao elogiar a atuação de Faoro
na presidência da OAB (1977-1979), Lula também criticou "setores da elite brasileira" que receiam a defesa dos mais necessitados. O jurista morreu no dia 15 de
maio, aos 78 anos.
A troca de farpas entre Executivo e Judiciário começou no final
de abril, quando Lula disse em Vitória (ES) que é preciso abrir "a
caixa preta do Judiciário".
As desavenças entre os Poderes
se acirraram com o envio ao Congresso da proposta de reforma
previdenciária que põe em risco
as aposentadorias integrais dos
juízes. Ao assumir a presidência
do STF, o ministro Maurício Corrêa criticou a proposta, sob aplausos e diante de Lula.
Na semana passada, Lula criou
um incidente ao afirmar que nem
o Congresso nem o poder Judiciário conseguirão impedi-lo de colocar o Brasil em posição de destaque.
Texto Anterior: CPI do Banestado: "Sacoleiras pressionavam o câmbio", diz BC para justificar regras das CC-5 Próximo Texto: Petista é acusado de desrespeitar tombamento Índice
|