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Presidente critica "cínicos abastados"
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva discorreu ontem sobre ética
no seminário em Belo Horizonte
sobre Desenvolvimento com Ética e Responsabilidade Social.
Lula fez críticas aos "cínicos
abastados", que não se preocupam com justiça social, pregou a
necessidade de os países ricos
mudarem sua posição em relação
aos mais pobres e defendeu os
programas sociais de seu governo, citando-os como exemplos de
desenvolvimento com ética.
"A resposta do meu governo está nos programas que lançamos.
O Fome Zero é acima de tudo um
chamamento moral à sociedade
brasileira para extirpar uma chaga duplamente imperdoável em
um país com tanta abundância",
disse ele, que mencionou ainda os
programas Primeiro Emprego,
Bolsa-Escola e Microcrédito.
"Isso é mais do que uma realidade econômica, é um compromisso ético com o direito de cada
um construir sua vida com segurança e dignidade." Ele disse que
não basta eficiência econômica e
capacitação técnica para desenvolver o país: é preciso ainda ética
nas relações com a sociedade.
"Tenho reiterado à sociedade
brasileira que as duras e dolorosas
medidas econômicas adotadas
neste início de governo têm por
objetivo criar as condições para
deslanchar no círculo virtuoso de
crescimento sustentável", disse
Lula, cujo governo vem sendo
pressionado também por movimentos sociais, como o MST.
O discurso de Lula foi acompanhado pelo primeiro-ministro da
Noruega, Kjell Magne Bondevik,
que pediu compreensão dos países ricos aos dramas dos mais pobres, e pelo governador de Minas
Gerais, Aécio Neves (PSDB), que
empenhou total apoio à gestão de
Lula. Também estavam presentes
a ex-primeira-dama Ruth Cardoso e o presidente do BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento), Enrique Iglesias.
Lula relacionou ética ao apoio
efetivo dos países ricos. Disse que
nos eventos que participa pelo
mundo temas como livre comércio, globalização econômica e
trânsito livre do capital são recorrentes, mas que os pobres têm dificuldades de entrar no mundo
europeu e no mundo norte-americano. "Se for árabe, então, está
mais proibido ainda de transitar
no mundo", afirmou.
"Quando falamos de livre comércio, imaginamos que é uma
coisa que todos teriam igualdade
de disputar os mercado disponíveis. Mas aí percebemos que o livre comércio não é tão livre quanto às palavras escritas nos protocolos internacionais ou nos acordos que fazemos, porque percebemos que as economias mais ricas do mundo conseguem obstaculizar o livre trânsito da mercadoria dos países pobres, criando
tarifas que são praticamente proibitivas da competitividade livre."
Lula falava da necessidade de
integração latino-americana
quando relatou parte da conversa
que teve com o presidente George
W. Bush, na recente viagem que
fez aos EUA. "Disse a ele: "Olha, se
o mundo deseja a paz, deseja
combater o terrorismo, o narcotráfico, se o mundo quer viver em
tranquilidade, a reposta para isso
chama-se desenvolvimento. Sem
desenvolvimento não há governo
que consiga garantir a paz em seu
país ou no continente.'"
A corrupção também foi tratada
pelo presidente no seu discurso.
Disse que o combate à corrupção
é um "alvo central" do seu governo. Para Lula, a corrupção gera
"impunidade jurídica e ineficiência econômica, mas, acima de tudo, abala as bases da sociedade".
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