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HIDRELÉTRICA
Distância entre margens do rio Paraná chegará a 30 km, quando o lago da Porto Primavera estiver cheio
Obra de 17 anos causa desastre ambiental
RUBENS VALENTE
em Porto Primavera (SP)
A construção da hidrelétrica de
Porto Primavera, na divisa entre
Mato Grosso do Sul e São Paulo,
está provocando um desastre ambiental e social na região do rio Paraná e seus afluentes, segundo denúncias de promotores da Justiça e
ONGs (organizações não-governamentais).
A um ano da formação completa
do lago, que será o terceiro maior
do país, com uma área de 220 mil
hectares (o equivalente a 300 mil
campos de futebol), os peixes estão mais escassos, trechos de matas nativas apodrecem sob as
águas, e animais, ilhados, estão
morrendo de fome.
Perto da hidrelétrica, a foz do rio
Baía, considerada um "berçário"
natural de peixes, desapareceu sob
as águas. A distância de uma margem à outra do rio Paraná, que antes não passava de 700 m, já tem 7
km e deve chegar a 30 km em 98.
"Mas o maior dano é social.
Centenas de pessoas tiveram suas
vidas comprometidas com a construção da obra", disse o secretário
de Estado de Meio Ambiente de
Mato Grosso do Sul, Celso Martins, 38. No total , foram mais de
4.000 famílias afetadas pela obra,
que já dura 17 anos.
Raul Carlos Broguinaro, 47, representante dos agricultores em
Porto João André, em Brasilândia
(MS), com 300 famílias, disse que,
por duas décadas, a agricultura ficou estagnada -os bancos se recusam a oferecer empréstimos para financiar a agricultura, por causa do anunciado alagamento.
Para Sadi Baron, 23, da executiva
nacional do Mab -ONG que representa cerca de 1 milhão de atingidos pelas barragens no país-, a
população ribeirinha "é sempre
vista como um estorvo para a
obra". Segundo ele, mais de mil
pessoas que não fecharam acordos
com a Cesp (Companhia Energética de São Paulo) deverão ser expulsas pela inundação.
Há três semanas, um grupo de
pesquisadores, ambientalistas, representantes de prefeituras e dois
promotores de Justiça, batizado de
"Missão Verde", desceu 400 km
do Rio Paraná em 12 barcos para
ver a repercussão da obra.
Ao mesmo tempo, o governador
Mário Covas (PSDB) anunciava
em Rosana (SP) um acordo com as
empreiteiras para concluir a usina,
a um custo final estimado em R$
8,7 bilhões.
Os primeiros reassentamentos
trazem a ameaça do desemprego e
da desagregação das comunidades. Oleiros e pescadores, longe de
suas atividades, não conseguem se
adaptar à realidade da "Nova Porto 15".
O projeto da Cesp, inaugurado
em 93, recebeu 500 famílias do antigo distrito de Porto 15 de Novembro, no Mato Grosso do Sul, que
ficará alagado em 98.
Segundo o comerciante Eduardo
Alves, 40, a maioria da população
está desempregada. Ele recebeu
uma mercearia e R$ 14 mil da Cesp
como indenização, mas agora não
tem fregueses como tinha na antiga Porto 15.
"Os moradores ficaram perdidos. Lá (no antigo distrito) eles sabiam como trabalhar."
João Francisco Neves, 40, tem
quatro filhos e disse estar há um
ano e meio desempregado na Nova
Porto 15. "Tem muita casa fechada. O pessoal foi embora procurar
trabalho."
Atendendo pedido do promotor
Edival Quirino, a juíza de Bataguassu (MS) Elizabeth Anache
condenou a Cesp a criar um fundo
de desenvolvimento para o distrito. A juíza também obrigou a empresa a pagar R$ 2 milhões de multa para serem revertidos em programas ambientais.
O jornalista RUBENS VALENTE viajou a convite
do grupo "Missão Verde"
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