São Paulo, segunda-feira, 04 de setembro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

QUESTÃO AGRÁRIA

Soldado condenado a 16 anos reclama de "abandono" da PM

Oficiais de Corumbiara receberam promoções
Jorge Araújo/Folha Imagem
O julgamento dos líderes sem-terra Cícero Pereira e Claudemir Ramos, condenados a seis anos e oito anos e meio, respectivamente



PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO VELHO

Os quatro oficiais da Polícia Militar de Rondônia denunciados à Justiça estadual pelo massacre de Corumbiara, em agosto de 1995, foram promovidos nos últimos cinco anos.
Um deles, José Hélio Cysneiros Pachá, já absolvido, foi promovido duas vezes. Tenente em 95, ele foi depois capitão e agora é major.
Todas as promoções foram por tempo de trabalho. Os soldados e cabos envolvidos não tiveram esse benefício. Ao contrário, alguns até reclamaram do fato de não terem tido assistência jurídica da PM durante a condução do processo. Foi o caso do soldado Daniel Furtado, condenado a 16 anos de reclusão, que disse ter sido "abandonado" pela corporação.
Subcomandante da operação, o então capitão Vitório Régis Mena Mendes vai se sentar a partir de hoje no banco dos réus do 1º Tribunal do Júri de Porto Velho na condição de major. Mena Mendes, que é acusado de participação por omissão em três assassinatos de sem-terra, é agora o coordenador de direitos humanos da PM de Rondônia.

Comandante da operação
O comandante da operação, José Ventura Pereira, foi promovido de major a tenente-coronel. Ele trabalha junto ao comando-geral. Ventura será o último a ir a julgamento. Ele vai responder por omissão na morte de um sem-terra, que teria sido retirado da base da PM, após o massacre, por pistoleiros armados.
O então tenente Mauro Ronaldo Flores Correia, que integrava na época a COE (Companhia de Operações Especiais), foi promovido a capitão e também passou a ser o comandante do 3º Batalhão em Colorado do Oeste.
Flores foi absolvido juntamente com Pachá, que era o comandante do grupamento da COE na operação, a pedido do promotor Tarcísio Leite Matos.
O procurador-geral de Justiça José Viana Alves pediu a anulação do julgamento dos ex-tenentes por entender que o promotor (afastado do caso por pedir o extermínio dos movimentos de luta pela terra no país) não permitiu que o júri conhecesse as provas que havia contra os dois oficiais.
Único sargento denunciado, mas absolvido a pedido do Ministério Público por falta de provas, Claudenilson Alves é agora tenente. Foi a única promoção obtida a partir da aprovação no curso de oficiais da PM. Ele deixou o quartel em Vilhena e trabalha no comando-geral, em Porto Velho.
A PM de Rondônia, por meio do seu assessor de imprensa, jornalista Lenilson Guedes, disse que "nada impede que os oficiais sejam promovidos enquanto as denúncias contra eles não forem transitadas em julgado".
A Justiça estadual acatou denúncia do Ministério Público contra 14 pessoas, sendo 12 PMs e dois líderes dos sem-terra. A ação de reintegração de posse da fazenda invadida resultou na troca de tiros entre Polícia Militar e sem-terra. Morreram dois policiais militares (um tenente e um soldado) e dez sem-terra, sendo três com tiros à queima-roupa quando já estavam dominados.

Líderes
Os líderes dos sem-terra Cícero Pereira Leite e Claudemir Ramos foram condenados a seis anos e oito anos e meio, respectivamente, pela morte dos PMs.
Entre os policiais, apenas os soldados Daniel Furtado e Airton Ramos (18 anos de reclusão) foram condenados.
Os jurados atenderam aos pedidos dos promotores, que alegaram falta de provas, e absolveram seis PMs. Um soldado foi absolvido por decisão do júri e um cabo teve a denúncia contra ele desqualificada, a pedido da promotoria. A última sessão do julgamento será na quarta-feira.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Polícia já prendeu 17 por 2 mortes em MS
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.