São Paulo, sexta-feira, 04 de outubro de 2002

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MÍDIA

Campanha na TV se valeu de ataques bem e mal sucedidos, explorou artistas e terminou em tom sentimental

Entre tapas e beijos

CLÁUDIA CROITOR
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT encerrou ontem sua campanha na TV ocupando o horário de Serra com imagens de dois ilustres tucanos: Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas.
Nos 8min de direito de resposta concedidos pelo TSE aos petistas, FHC -que foi praticamente ignorado em toda a propaganda tucana- afirmou, em uma entrevista, que ter diploma não é fundamental para governar, ao contrário do que sugeriu a propaganda de Serra. E Covas apareceu apoiando campanhas eleitorais do PT, inclusive junto a Lula.
"As relações de Covas comigo e com o PT sempre foram respeitosas", disse José Dirceu, presidente do partido, acusado pela propaganda de Serra de ter incitado uma agressão ao então governador paulista, morto em 2001.
Assim que terminou o direito de resposta, no entanto, FHC e Covas mudaram de lado. "Se Covas estivesse aqui, estaria pedindo votos para Serra", disse no horário tucano Lila Covas, viúva do governador -usado como cabo eleitoral de ao menos cinco candidatos nesta campanha.
FHC também participou do horário tucano à noite. "Meu candidato, o senador José Serra, é o melhor, o mais preparado", disse.

Novela das oito
Com uma média de audiência semelhante à dos últimos capítulos de uma novela das oito - 52 pontos no Ibope, ou 2,45 milhões de domicílios na Grande São Paulo-, o horário eleitoral ao longo de 45 dias transcorreu, como diz a música sertaneja, entre "tapas e beijos". De um lado, música, artistas, abraços e promessas. De outro, ataques, muitos.
A campanha de Serra, com o maior tempo de TV, 10min23s, foi a campeã na artilharia. Entre um sorriso de Gugu Liberato e uma música de Chitãozinho & Xororó, começou atacando Ciro Gomes. Mostrou frases polêmicas e comparou-o a Collor: "Mudança ou problema?", perguntava.
Ciro, que antes parecia ter lugar "garantido" no segundo turno, tentava responder aos ataques, com Patrícia Pillar, pedidos de desculpa e mais ataques. Comparou as promessas de Serra às de FHC, a quem acusou de não cumpri-las, chamou Serra de "o senhor da guerra" e o responsável pelo suicídio de mata-mosquitos. Mesmo assim, despencou nas pesquisas. E o alvo da artilharia tucana mudou então para Lula.
O que começou com a "inocente" pergunta "quem é mais preparado?", explorando a falta de diploma de Lula, terminou com acusações de que o candidato do PT "esconde o que pensa ou não sabe o que diz". A tática, mostraram as pesquisas, não deu certo.
Há duas semanas, os ataques cessaram completamente. No meio da trégua, Garotinho, até então ignorado por todos, foi atingido por um tiro de raspão vindo dos tucanos -foi acusado de mentir sobre propostas para o salário mínimo e de ser responsável pela crise da segurança no Rio. Mas continuou prometendo salário e aposentadoria "dignos" em seus 2min13s.
O líder Lula, imune ao tiroteio dos outros durante boa parte da campanha, limitou-se a mostrar suas propostas, ao som do jingle "Agora é Lula" e no clima "paz e amor". Só começou a se defender e atacar Serra dez dias depois de começar a ser seu alvo. Disse que o tucano desperdiçou sua chance de criar empregos. E que diploma, Collor também tinha.

Emoção
A inflexão emotiva voltou a predominar na reta final. Lula ressuscitou a campanha de 89, nos braços do povo, descrito como "líder verdadeiramente popular".
Pediu "permissão" para falar aos eleitores indecisos, a quem chamou de "meus amigos e amigas quase Lula".
Como aconteceu na última terça-feira, a campanha petista se encerrou ontem com mulheres grávidas andando por um campo, ao som do "Bolero", de Ravel, enquanto Chico Buarque dizia que "você pode escolher que tipo de país quer para seu filho".
Sem ataques, Serra também terminou sua participação na TV com um tom emotivo. O jingle que durante a campanha foi usado para confrontá-lo com Lula foi tocado mais lentamente, sem menção ao petista. O candidato citou até seu neto, "que vai nascer em janeiro". Um resumo das propostas de Serra foi apresentado, e o tucano repetiu que seu governo seria diferente do de FHC "no emprego e na segurança".
O tom só mudou no horário tucano do rádio, em que Lula não foi poupado. O analista político fictício Beto 45 afirmou que "chama a atenção a ausência de propostas concretas do PT. O discurso é feito exatamente para agradar às pessoas", e ainda questionou as alianças feitas pelo petista.
Ciro e Garotinho, atrás nas pesquisas, também tentaram emocionar o eleitor na TV. O pepessista apareceu rodeado pela família. E Garotinho terminou desejando que "Deus abençoe o Brasil".


Colaborou NOELI MENEZES SOARES, da Redação


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