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MÍDIA
Campanha na TV se valeu de ataques bem e mal sucedidos, explorou artistas e terminou em tom sentimental
Entre tapas e beijos
CLÁUDIA CROITOR
DA REPORTAGEM LOCAL
O PT encerrou ontem sua campanha na TV ocupando o horário
de Serra com imagens de dois
ilustres tucanos: Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas.
Nos 8min de direito de resposta
concedidos pelo TSE aos petistas,
FHC -que foi praticamente ignorado em toda a propaganda tucana- afirmou, em uma entrevista, que ter diploma não é fundamental para governar, ao contrário do que sugeriu a propaganda de Serra. E Covas apareceu
apoiando campanhas eleitorais
do PT, inclusive junto a Lula.
"As relações de Covas comigo e
com o PT sempre foram respeitosas", disse José Dirceu, presidente
do partido, acusado pela propaganda de Serra de ter incitado
uma agressão ao então governador paulista, morto em 2001.
Assim que terminou o direito de
resposta, no entanto, FHC e Covas mudaram de lado. "Se Covas
estivesse aqui, estaria pedindo votos para Serra", disse no horário
tucano Lila Covas, viúva do governador -usado como cabo
eleitoral de ao menos cinco candidatos nesta campanha.
FHC também participou do horário tucano à noite. "Meu candidato, o senador José Serra, é o melhor, o mais preparado", disse.
Novela das oito
Com uma média de audiência
semelhante à dos últimos capítulos de uma novela das oito - 52
pontos no Ibope, ou 2,45 milhões
de domicílios na Grande São Paulo-, o horário eleitoral ao longo
de 45 dias transcorreu, como diz a
música sertaneja, entre "tapas e
beijos". De um lado, música, artistas, abraços e promessas. De
outro, ataques, muitos.
A campanha de Serra, com o
maior tempo de TV, 10min23s, foi
a campeã na artilharia. Entre um
sorriso de Gugu Liberato e uma
música de Chitãozinho & Xororó,
começou atacando Ciro Gomes.
Mostrou frases polêmicas e comparou-o a Collor: "Mudança ou
problema?", perguntava.
Ciro, que antes parecia ter lugar
"garantido" no segundo turno,
tentava responder aos ataques,
com Patrícia Pillar, pedidos de
desculpa e mais ataques. Comparou as promessas de Serra às de
FHC, a quem acusou de não cumpri-las, chamou Serra de "o senhor da guerra" e o responsável
pelo suicídio de mata-mosquitos.
Mesmo assim, despencou nas
pesquisas. E o alvo da artilharia
tucana mudou então para Lula.
O que começou com a "inocente" pergunta "quem é mais preparado?", explorando a falta de diploma de Lula, terminou com
acusações de que o candidato do
PT "esconde o que pensa ou não
sabe o que diz". A tática, mostraram as pesquisas, não deu certo.
Há duas semanas, os ataques
cessaram completamente. No
meio da trégua, Garotinho, até
então ignorado por todos, foi
atingido por um tiro de raspão
vindo dos tucanos -foi acusado
de mentir sobre propostas para o
salário mínimo e de ser responsável pela crise da segurança no Rio.
Mas continuou prometendo salário e aposentadoria "dignos" em
seus 2min13s.
O líder Lula, imune ao tiroteio
dos outros durante boa parte da
campanha, limitou-se a mostrar
suas propostas, ao som do jingle
"Agora é Lula" e no clima "paz e
amor". Só começou a se defender
e atacar Serra dez dias depois de
começar a ser seu alvo. Disse que
o tucano desperdiçou sua chance
de criar empregos. E que diploma,
Collor também tinha.
Emoção
A inflexão emotiva voltou a predominar na reta final. Lula ressuscitou a campanha de 89, nos braços do povo, descrito como "líder
verdadeiramente popular".
Pediu "permissão" para falar
aos eleitores indecisos, a quem
chamou de "meus amigos e amigas quase Lula".
Como aconteceu na última terça-feira, a campanha petista se
encerrou ontem com mulheres
grávidas andando por um campo,
ao som do "Bolero", de Ravel, enquanto Chico Buarque dizia que
"você pode escolher que tipo de
país quer para seu filho".
Sem ataques, Serra também terminou sua participação na TV
com um tom emotivo. O jingle
que durante a campanha foi usado para confrontá-lo com Lula foi
tocado mais lentamente, sem
menção ao petista. O candidato
citou até seu neto, "que vai nascer
em janeiro". Um resumo das propostas de Serra foi apresentado, e
o tucano repetiu que seu governo
seria diferente do de FHC "no emprego e na segurança".
O tom só mudou no horário tucano do rádio, em que Lula não
foi poupado. O analista político
fictício Beto 45 afirmou que "chama a atenção a ausência de propostas concretas do PT. O discurso é feito exatamente para agradar
às pessoas", e ainda questionou as
alianças feitas pelo petista.
Ciro e Garotinho, atrás nas pesquisas, também tentaram emocionar o eleitor na TV. O pepessista apareceu rodeado pela família.
E Garotinho terminou desejando
que "Deus abençoe o Brasil".
Colaborou NOELI MENEZES SOARES, da Redação
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