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TRANSIÇÃO
Ao longo do governo FHC, deputados petistas apresentaram propostas que, agora, constrangem cúpula do partido
PT foge das propostas que fez na oposição
LUIZA DAMÉ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao longo do governo Fernando
Henrique Cardoso, a bancada do
PT no Congresso apresentou propostas que, depois da vitória de
Luiz Inácio Lula da Silva, constrangem a cúpula do partido.
São propostas que diminuiriam
arrecadação ou aumentariam
gastos, como reajuste salarial dos
servidores públicos de quase 70%
e salário mínimo de R$ 240.
Agora, a dois meses da posse de
Lula no Palácio do Planalto, a cúpula do PT já procura administrar
a nova realidade do partido, que
passou de estilingue a vidraça.
Os líderes do PT envolvidos na
transição evitam falar em valor do
salário mínimo para o próximo
ano e pregam, antes de qualquer
coisa, a necessidade de evitar gastos sem previsão de receitas.
Deputados petistas, porém, defendem os R$ 240 para o mínimo
propostos pela própria bancada
em junho, durante a discussão da
LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), que orienta a confecção do
Orçamento da União.
O aumento de R$ 40 (equivalente a 20% sobre os atuais R$ 200)
geraria uma despesa de cerca de
R$ 8,8 bilhões aos cofres públicos.
Já atuando como oposição, PFL
e PSDB exigem coerência do PT:
querem o mínimo de R$ 240. O
projeto de Orçamento de 2003
prevê aumento de R$ 11 (5,5%).
Com falta de dinheiro para investimentos, a bancada do PT terá de
encontrar recursos para aprovar
um índice maior.
Reajuste salarial dos servidores
públicos é outro tema na discussão do Orçamento. A proposta
traz 4% de aumento linear, mas o
PT ainda não definiu quanto vai
propor. Lula já avisou, em comício no dia 28 de setembro, que
não poderá recuperar as perdas
salariais de oito anos em um.
No final do ano passado, a bancada petista propôs a correção integral das perdas dos servidores
acumuladas desde 1995, além do
aumento linear de 3,5% concedido pelo governo. O índice proposto pela bancada era inferior ao pedido pelos servidores no final do
ano passado (75,48%), quando o
projeto foi apresentado.
Para manter receitas do governo federal, os petistas já admitem
apoio a projetos que aumentam
impostos, anteriormente combatidos pela bancada. É o caso da cobrança da alíquota de 27,5% do
Imposto de Renda da Pessoa Física, em vigor até 31 de dezembro.
O adicional (10% sobre a alíquota
de 25%) gera R$ 1,8 bilhão ao ano.
Em 1999, quando o governo
propôs a prorrogação do adicional até o final deste ano, a bancada
do PT votou contra. No final do
ano passado, a bancada insistiu
na correção integral da tabela do
Imposto de Renda -35,29%, o
que geraria uma queda na receita
de R$ 5,5 bilhões ao ano. O PT
acabou concordando com 17,5%.
Depois da posse de Lula, a bancada petista terá de enfrentar dois
temas tabus na atual legislatura:
reforma da Previdência e atualização da CLT (Consolidação das
Leis Trabalhistas).
O PT votou contra propostas do
governo FHC que mexiam no sistema previdenciário. Agora os petistas querem aprovar a reforma
da Previdência para equilibrar as
contas do setor, cujo déficit previsto para 2003 é de R$ 19,6 bilhões. Deputados e senadores do
PT terão de entrar na discussão da
reforma das leis trabalhistas e do
sistema sindical, defendida por
Lula. Até agora, no Congresso, os
petistas se posicionaram contra
mudanças propostas por FHC.
Nos dois casos, a explicação é a
mesma: as mudanças sugeridas
pelo governo FHC retiram direitos dos trabalhadores.
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