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QUAL TRANSIÇÃO?
Cerca de 300 líderes se reúnem hoje em PE para discutir posição da entidade em relação ao futuro governo
MST deve aprovar apoio "crítico" a Lula
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
Cerca de 300 líderes do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra) de todo o país
começam a discutir hoje, em Pernambuco, a posição da entidade
em relação ao futuro governo de
Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O
MST apoiou Lula nas eleições.
A tendência é que seja aprovada
uma postura intermediária para
não pressionar demais o governo
no início e, ao mesmo tempo, não
abrir mão de reivindicações históricas do grupo -como a invasão
de terras, que deve continuar.
Um indício disso são as declarações feitas à Agência Folha na
quinta-feira passada por Gilmar
Mauro, membro da coordenação
nacional do MST. Para ele, é "impossível" que Lula acabe com os
problemas da reforma agrária no
país em quatro anos. "É uma ilusão pensar que tudo vai ser resolvido. É impossível, nas condições
atuais (...) O que acredito é que
poderá haver avanços, se houver
participação popular", declarou.
O líder sem-terra defendeu que
o MST adote uma posição de "autonomia crítica" em relação ao
próximo governo. "Não podemos
adotar uma posição sectária, de
esquerda infantil, nem de alinhamento automático", disse. "Temos que cobrar e estimular ao
máximo o governo para que faça
as reformas necessárias."
A reunião, que termina quarta-feira, será realizada no assentamento da fazenda Normandia, na
zona rural de Caruaru, município
do agreste onde está a sede do
movimento no Estado.
Além da posição em relação ao
futuro governo, os sem-terra deverão discutir as reivindicações
que consideram prioritárias. Um
dos temas polêmicos que possivelmente estará em pauta é a lei
que suspende por dois anos o
processo de reforma agrária nas
propriedades invadidas.
Instituída por Medida Provisória em maio de 2000, a lei freou as
invasões, mas é considerada "ditatorial" pelo MST. Os sem-terra
tendem a pedir sua revogação a
Lula. A MP proíbe por dois anos
as avaliações e vistorias em terras
invadidas, exclui da reforma agrária os assentados que participarem de invasões e suspende todos
os processos em tramitação. Em
2001, o número de invasões foi de
173 -havia sido 463 em 1997.
Sobre as invasões de terra, Gilmar Mauro disse que elas deverão
continuar. Uma eventual trégua
do movimento, afirmou, "não está colocada em pauta".
Para ele, a concessão de uma
trégua "reduziria a questão a um
ato meramente político". O MST,
diz, considera as invasões "não
apenas um ato político, mas também parte de um modelo de reivindicações, como são as greves
para os trabalhadores urbanos".
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