São Paulo, segunda-feira, 04 de novembro de 2002

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QUAL TRANSIÇÃO?

Cerca de 300 líderes se reúnem hoje em PE para discutir posição da entidade em relação ao futuro governo

MST deve aprovar apoio "crítico" a Lula

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Cerca de 300 líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) de todo o país começam a discutir hoje, em Pernambuco, a posição da entidade em relação ao futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O MST apoiou Lula nas eleições.
A tendência é que seja aprovada uma postura intermediária para não pressionar demais o governo no início e, ao mesmo tempo, não abrir mão de reivindicações históricas do grupo -como a invasão de terras, que deve continuar.
Um indício disso são as declarações feitas à Agência Folha na quinta-feira passada por Gilmar Mauro, membro da coordenação nacional do MST. Para ele, é "impossível" que Lula acabe com os problemas da reforma agrária no país em quatro anos. "É uma ilusão pensar que tudo vai ser resolvido. É impossível, nas condições atuais (...) O que acredito é que poderá haver avanços, se houver participação popular", declarou.
O líder sem-terra defendeu que o MST adote uma posição de "autonomia crítica" em relação ao próximo governo. "Não podemos adotar uma posição sectária, de esquerda infantil, nem de alinhamento automático", disse. "Temos que cobrar e estimular ao máximo o governo para que faça as reformas necessárias."
A reunião, que termina quarta-feira, será realizada no assentamento da fazenda Normandia, na zona rural de Caruaru, município do agreste onde está a sede do movimento no Estado.
Além da posição em relação ao futuro governo, os sem-terra deverão discutir as reivindicações que consideram prioritárias. Um dos temas polêmicos que possivelmente estará em pauta é a lei que suspende por dois anos o processo de reforma agrária nas propriedades invadidas.
Instituída por Medida Provisória em maio de 2000, a lei freou as invasões, mas é considerada "ditatorial" pelo MST. Os sem-terra tendem a pedir sua revogação a Lula. A MP proíbe por dois anos as avaliações e vistorias em terras invadidas, exclui da reforma agrária os assentados que participarem de invasões e suspende todos os processos em tramitação. Em 2001, o número de invasões foi de 173 -havia sido 463 em 1997.
Sobre as invasões de terra, Gilmar Mauro disse que elas deverão continuar. Uma eventual trégua do movimento, afirmou, "não está colocada em pauta".
Para ele, a concessão de uma trégua "reduziria a questão a um ato meramente político". O MST, diz, considera as invasões "não apenas um ato político, mas também parte de um modelo de reivindicações, como são as greves para os trabalhadores urbanos".


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