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ELIO GASPARI
Um golpe anunciado na Venezuela
Há um cheiro de golpe vindo da Venezuela. Num cenário pré-eleitoral em que o presidente Hugo Chávez teve 70% das
preferências nas pesquisas, os
quatro grandes partidos da oposição decidiram boicotar a eleição
parlamentar de hoje.
Chávez batalha para conseguir
dois terços do Congresso, bancada necessária para lhe dar um
terceiro mandato de seis anos. A
oposição diz que abandonou a
disputa porque as urnas eletrônicas podem estar viciadas. Ela demonstrou que a coleta de impressões digitais dos eleitores permitiria a quebra do sigilo do voto,
mas o procedimento foi suspenso.
É difícil entender que um presidente queira sujar um resultado
que não tem razões para temer.
Mais difícil, sabendo-se que a
eleição está monitorada pela
União Européia e pela Organização dos Estados Americanos.
Chávez é um histrião com votos.
Já a plutocracia venezuelana,
que, em 2002, se associou a fraudes jornalísticas e a um golpe militar liberticida, é mais popular
em Miami do que em Caracas.
Em agosto passado, Chávez venceu um referendo com 58% dos
votos. Seus adversários governam
apenas dois dos 23 Estados do
país. Boa parte do vigor político
do resultado de hoje virá do comparecimento dos 14,5 milhões de
eleitores venezuelanos.
Quando a oposição abandona a
disputa eleitoral, prenuncia a
contestação da legitimidade do
resultado. Os oposicionistas que
abandonaram o pleito considerarão ilegítimo o Congresso que poderá dar a Chávez o direito de
buscar (nas urnas) um novo
mandato. Mais um passo, acharão legítima a idéia de derrubá-lo
com a ajuda de dois generais, dez
caixas e alguns mensalões. Aí é
que entra o companheiro Bush
com prepotência messiânica. Primeiro ouve-se o eco do que disse a
doutora Condoleezza Rice em
abril passado: "Democracia não é
só eleição". Na quarta-feira, o
porta-voz do Departamento de
Estado disse que nada tem a ver
com o absenteísmo venezuelano,
mas indicou que os Estados Unidos estão "preocupados" com a
possibilidade de que o direito ao
voto "esteja em perigo". Se ele
acha que perigo vem da oposição,
tudo bem, mas não é esse o caso.
O absenteísmo produz desastres. Há 42 anos, a esquerda venezuelana, inspirada pelo radicalismo cubano, boicotou uma eleição, metralhou eleitores e danou-se. Em 1924, depois do assassinato
de um deputado socialista, a oposição italiana abandonou o Congresso e instalou-se o Monte
Aventino, onde a plebe romana se
rebelara em 494 a.C.. Erro. Benito
Mussolini aproveitou o episódio e
radicalizou a ditadura ao fim da
qual penduraram-no de cabeça
para baixo num posto de gasolina
de Milão.
O ensino privado merece um lugar
Se o MEC não descobrir um
jeito de unificar a maneira como
trata as universidades públicas e
as privadas, cada uma delas penará seus defeitos sem propagar
virtudes. A Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes) promoveu um seminário para orientar
a criação de cursos de mestrado
e doutorado. Só para universidades públicas. A rede privada
ficou de fora. Ela tem 2,8 milhões
de alunos e 15% dos cursos de
pós-graduação, com mais de 15
mil estudantes.
O seminário, organizado pela
Universidade Federal de Minas
Gerais, durou um dia e seus 40
lugares foram nacionalmente
disputados. A Capes nada desembolsou com a iniciativa. A
exclusão das universidades privadas baseou-se na suposição de
que a criação dos novos cursos
de pós-graduação tramita em
culturas diferentes. Como tanto
a rede pública como a privada
devem se submeter ao julgamento do MEC, acaba-se na esquina
de seis com meia dúzia.
A idéia de que a rede privada é
um criadouro de bibocas sacrifica os bons departamentos de
universidades particulares e,
com isso, beneficia o que há de
pior no ensino superior. A Capes
promete um novo seminário para 2006. Com sorte, sem exclusões.
Os fundo$ dos fundos
Terça-feira começa uma nova fase de revelações das
CPIs. Sai o relatório parcial
das malfeitorias cometidas
nos fundos de pensão. Como as traficâncias com corretoras amigas vêm de longe, as novidades tirarão a
paz de tucanos e petistas.
Não existem no mundo
fundos de pensão com tamanha capacidade de investir em negócios que dão prejuízo.
Nuestro guia
Lula ainda não percebeu
que é presidente de uma República. Ele disse o seguinte
num discurso: "Imagine o
que significa se o Evo Morales ganhar as eleições na Bolívia. São mudanças tão extraordinárias que nem mesmo nossos melhores cientistas políticos poderiam escrever, porque não tinha livros antecedentes mostrando que isso seria possível".
"Nuestro guia" confunde
diplomacia com torcida de
futebol. Tendo reconhecido
que nunca leu um livro
(nem manual de regras gramaticais), não deveria emitir opiniões a respeito dos
assuntos internos de outros
países. O presidente do Brasil não tem nada que se meter na eleição boliviana. Tem
boliviano que acha o cocaleiro Evo Morales uma desgraça.
Maus modos
Vem aí o presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz.
Como subsecretário da Defesa dos Estados Unidos, foi
o animador da lorota das armas de destruição em massa
do Iraque. Enquanto estiver
em Pindorama, pode fazer o
que quiser, mas pede-se que
não lamba o pente antes de
arrumar o topete.
Para quem quiser conferir
(inclusive a cuspidinha posterior), a cena está no filme
"Farenheit 9/11", de Michael
Moore.
Saber, sabe
Para o bom andamento dos
assuntos da República, Lula
deveria chamar o Ministério
Público e contar tudo o que
tem chegado aos seus ouvidos. Mais: dizer aos seus amigos que passa adiante tudo o
que lhe contam.
A linha cotonete protege a
bolsa da Viúva e, por mais que
ele não perceba, resguarda a
biografia de Luiz Inácio da Silva.
Assim, quando ele disser
que não sabia de uma coisa, a
patuléia acredita.
Fritura consentida
A tropa do PT no Congresso
passou a brigar mais para preservar o sigilo bancário das
corretoras-companheiras do
que para proteger alguns sócios da República de Ribeirão
Preto.
Fritam Antonio Palocci na
chapa do Planalto com o óleo
das novas cumplicidades. Hoje, o ministro depende mais
dos admiradores que tem na
oposição do que dos companheiros y amigos do governo.
Por incrível que pareça, acredita nessa receita.
Eremildo e FFHH
Eremildo é um idiota e inaugurará o Comitê Fernando
Henrique Cardoso pela Reeleição de Lula. Funcionará no
Rio, na avenida Venceslau
Brás, 85, no hospital Pinel.
Doutor Venceslau, como Lula
e FFHH, foi um dos seis presidentes-exterminadores da
economia nos últimos cem
anos.
FFHH disse o seguinte de
Lula: "A política econômica
dele é a minha". Verdade, ambos estão na turma da ruína
dos 2% de crescimento da
economia.
Se a política de um é a do
outro e o PSDB se orgulha disso, quem gostou do desempenho dos tucanos deve votar
em Lula. Quem não gostou,
em tucano é que não deve votar.
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