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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ DEPOIS DA QUEDA
Ex-deputado, que poderá faturar R$ 15 mil com palestras, avisou aliados que mobilizará PT contra política econômica conservadora
Dirceu transfere "guerrilha" para dentro do partido
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Cassado, José Dirceu transferirá
a "guerrilha política" para dentro
do PT e entrará com tudo no circuito das palestras remuneradas.
O ex-ministro já avisou a seus
aliados que vai mobilizar o partido e a sociedade contra o conservadorismo na política econômica,
sobretudo durante a discussão do
programa de governo da campanha de reeleição do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Dirceu vai propagar o evangelho da "repactuação das forças sociais", jargão que tem usado com
freqüência. Deve assinar na semana que vem com uma empresa de
Brasília especializada em conferências. Segundo estimativas do
setor, pode faturar até R$ 15 mil
em cada uma.
Planeja ainda estrear um blog,
estuda proposta de ser articulista
de um jornal (não revela qual) e
recebeu convite do ex-ministro
da Previdência Raphael de Almeida Magalhães para integrar um
grupo de estudos sobre desenvolvimento. Além do livro, a ser escrito por Fernando Morais, em
que deverá expor "as limitações e
os erros do governo".
O alvo da nova militância de
Dirceu atende por Antonio Palocci. Desde que foi obrigado a deixar a Casa Civil, em junho, ele
uniu a defesa de seu mandato à
pregação de uma insurreição contra o "paloccismo" -a combinação de juros altos, superávit primário estratosférico e baixa execução orçamentária.
O ex-ministro teve quase 20 encontros com intelectuais, sindicalistas e militantes nos últimos três
meses, sempre pedindo que o ajudem a "fazer a disputa programática" interna. "Somos prisioneiros
de uma visão muito ortodoxa da
economia", disse, por exemplo, a
20 reitores de universidades federais em Brasília, em encontro reservado em novembro.
Influência
Dirceu está debilitado, mas ainda possui fiel séquito no PT. Exerce influência em parte da Executiva, como o tesoureiro, Paulo Ferreira, e o coordenador da estratégia eleitoral petista, Gléber Naime. Na Câmara, tem pelo menos
20 escudeiros, como Ângela Guadagnin (SP), João Paulo Cunha
(SP), José Pimentel (CE) e Nilson
Mourão (AC). E mantém boas relações com a CUT (Central Única
dos Trabalhadores) e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Dirceu diz não querer mais saber da política do PT, mas será
inevitavelmente tragado para o
debate interno, comenta um amigo próximo, em Brasília.
Mesmo sem exercer cargo de direção, que jura não querer mais, o
ex-ministro não abre mão do engajamento na campanha de Lula.
Deseja ser o porta-voz da resistência petista à possibilidade de, mais
uma vez, Palocci dominar o debate econômico, como fez em 2002.
"O Zé é um dos maiores estrategistas políticos desse país e uma
voz que o PT sempre vai parar para ouvir", diz o aliado Chico Vigilante, presidente do PT do DF.
É o que preocupa alguns petistas. A possibilidade de um Dirceu
solto, sem amarras no governo ou
no partido, correndo o país, minando a política de Palocci. Outros lembram que o ex-deputado,
mesmo no auge do poder, não teve força para alterar substancialmente os rumos do governo. De
qualquer forma, Dirceu promete
um debate respeitoso.
Por ora, a nova fase está congelada. Ele promete dedicar o mês à
família e ao livro. O primeiro trimestre de 2006 deve passar nos
EUA, com um amigo. Estará de
volta a tempo de participar do encontro partidário de abril que discutirá o novo programa de Lula.
Na semana que vem, Dirceu deve assinar contrato com a Ata,
uma agência de promoção de palestras sediada em Brasília. Há alguns dias, já antevendo a cassação, fez um primeiro contato. "Ele
seria um palestrante excepcional.
É bom analista e estrategista. Pode ser ouvido tanto por trabalhadores como por banqueiros", diz
o diretor da agência, Thales Leite.
Dois convites já apareceram, da
Argentina e dos EUA.
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