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JANIO DE FREITAS
Polícia pela política
Em 2 dias como governador, Sérgio Cabral já provou de tudo um pouco, no conjunto de atos dos poderes públicos em relação à criminalidade
ESTÁ EM CENA mais um espetáculo da incapacidade, velha
conhecida nossa, de entendimento dos poderes públicos quando
se trata de restaurar, no cotidiano
das cidades brasileiras, o sentido
das expressões constitucionais
"segurança pública", "direito de ir
e vir", "preservação da lei e da
ordem", e outras nascidas para os
mesmos fins.
De uma parte, é mais uma evidência de que, onde há propósito de
ação, não há planos, não há idéias
amadurecidas, e mal se consegue
distinguir, quando se consegue, entre vontade real e parolagem marqueteira. De outra, é tamanha a embromação, é um tal de tirar o corpo e
jogar o problema para terceiros ou
vigésimos, que as verdadeiras e boas
disposições são sufocadas, espremidas por aquelas duas partes. E a criminalidade bandida eleva sua ferocidade a estágios ainda mais horrendos, prolifera por mais cidades, impõe novos costumes à vida urbana e
vai em frente.
Em 48 horas como governador,
Sérgio Cabral Filho já experimentou
de tudo um pouco, no conjunto de
atos dos poderes públicos em relação à criminalidade bandida. Como
sinal positivo, a aparente disposição
de três dos seus congêneres -o capixaba Paulo Hartung, José Serra e
Aécio de Neves- de formar uma
corrente de informação e de eventuais ações conjuntas, contra as interligações do crime nos Estados do
Sudeste. Não é novidade, mas se for
organizada e permanente, não faltam frutos a colher.
Não entendi a reivindicação de
Cabral às Forças Armadas, de que
patrulhem as redondezas dos seus
quartéis, porque isso daria "maior
sensação de segurança" à população
do Rio. Só se os moradores da zona
sul, do centro, da Barra e de outros
bairros forem periodicamente aos
subúrbios, para ver uns quantos praças à volta dos seus quartéis. Se isso
der "sensação" já será alguma coisa,
porque segurança, que interessa, jamais.
Bastou a Sérgio Cabral falar em
participação das Forças Armadas,
surgiram reações imediatas de militares. Não é certo que a participação
deles seja positiva por princípio.
Muito ao contrário. Foi sensato o
então governador Cláudio Lembo,
por exemplo, ao dispensar a entrada
do Exército na crise aguda do crime
em São Paulo: o problema solucionou-se sem aumentar o risco de
mais violências do Estado. Foram os
militares, porém, que impuseram ao
texto do art. 142 da Constituição o
seu papel de "defesa (...) da lei e da
ordem". A menos que fosse só para
se assegurar, desde logo, pretensa
cobertura constitucional, ausente
em tantos episódios, para a eventualidade de novas intervenções.
A presença imediata da Força Nacional de Segurança Pública, pedida
por Cabral ao próprio Lula, só rendeu uma simpática reunião com o
secretário federal de Segurança,
Luiz Fernando Correa. Dos 7.700
integrantes da Força, foram oferecidos a Cabral menos de 10%, uns 500
a 600, com chegadas pingadinhas, e
nada de entrar nas arenas. Vão estar
nas divisas fluminenses. O que pode
ser ótimo, porque as apreensões demonstram que o tráfico organizado
do Rio é abastecido de drogas, munições e armas sobretudo por via da
Presidente Dutra. A Força, no entanto, não foi criada para isso, como
não foi essa a necessidade que moveu Cabral.
Dois dias são pouco tempo, sim.
Mas já mostraram, como dizem,
muito do mesmo. Tomara que os
quatro governadores entendam que,
antes da aproximação policial, têm
que formar uma frente POLÍTICA
pela segurança.
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