São Paulo, sexta-feira, 05 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

Polícia pela política

Em 2 dias como governador, Sérgio Cabral já provou de tudo um pouco, no conjunto de atos dos poderes públicos em relação à criminalidade

ESTÁ EM CENA mais um espetáculo da incapacidade, velha conhecida nossa, de entendimento dos poderes públicos quando se trata de restaurar, no cotidiano das cidades brasileiras, o sentido das expressões constitucionais "segurança pública", "direito de ir e vir", "preservação da lei e da ordem", e outras nascidas para os mesmos fins.
De uma parte, é mais uma evidência de que, onde há propósito de ação, não há planos, não há idéias amadurecidas, e mal se consegue distinguir, quando se consegue, entre vontade real e parolagem marqueteira. De outra, é tamanha a embromação, é um tal de tirar o corpo e jogar o problema para terceiros ou vigésimos, que as verdadeiras e boas disposições são sufocadas, espremidas por aquelas duas partes. E a criminalidade bandida eleva sua ferocidade a estágios ainda mais horrendos, prolifera por mais cidades, impõe novos costumes à vida urbana e vai em frente.
Em 48 horas como governador, Sérgio Cabral Filho já experimentou de tudo um pouco, no conjunto de atos dos poderes públicos em relação à criminalidade bandida. Como sinal positivo, a aparente disposição de três dos seus congêneres -o capixaba Paulo Hartung, José Serra e Aécio de Neves- de formar uma corrente de informação e de eventuais ações conjuntas, contra as interligações do crime nos Estados do Sudeste. Não é novidade, mas se for organizada e permanente, não faltam frutos a colher.
Não entendi a reivindicação de Cabral às Forças Armadas, de que patrulhem as redondezas dos seus quartéis, porque isso daria "maior sensação de segurança" à população do Rio. Só se os moradores da zona sul, do centro, da Barra e de outros bairros forem periodicamente aos subúrbios, para ver uns quantos praças à volta dos seus quartéis. Se isso der "sensação" já será alguma coisa, porque segurança, que interessa, jamais.
Bastou a Sérgio Cabral falar em participação das Forças Armadas, surgiram reações imediatas de militares. Não é certo que a participação deles seja positiva por princípio. Muito ao contrário. Foi sensato o então governador Cláudio Lembo, por exemplo, ao dispensar a entrada do Exército na crise aguda do crime em São Paulo: o problema solucionou-se sem aumentar o risco de mais violências do Estado. Foram os militares, porém, que impuseram ao texto do art. 142 da Constituição o seu papel de "defesa (...) da lei e da ordem". A menos que fosse só para se assegurar, desde logo, pretensa cobertura constitucional, ausente em tantos episódios, para a eventualidade de novas intervenções.
A presença imediata da Força Nacional de Segurança Pública, pedida por Cabral ao próprio Lula, só rendeu uma simpática reunião com o secretário federal de Segurança, Luiz Fernando Correa. Dos 7.700 integrantes da Força, foram oferecidos a Cabral menos de 10%, uns 500 a 600, com chegadas pingadinhas, e nada de entrar nas arenas. Vão estar nas divisas fluminenses. O que pode ser ótimo, porque as apreensões demonstram que o tráfico organizado do Rio é abastecido de drogas, munições e armas sobretudo por via da Presidente Dutra. A Força, no entanto, não foi criada para isso, como não foi essa a necessidade que moveu Cabral.
Dois dias são pouco tempo, sim. Mas já mostraram, como dizem, muito do mesmo. Tomara que os quatro governadores entendam que, antes da aproximação policial, têm que formar uma frente POLÍTICA pela segurança.


Texto Anterior: Presidente terá praia privativa e churrasqueira
Próximo Texto: Terceira via embola disputa pela presidência da Câmara
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.