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São Paulo, quarta-feira, 05 de fevereiro de 2003

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NO AR

Prova cabal

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

O selo da Fox News anunciava ontem:
- Alvo: Iraque. A fase final.
O canal que derrubou a CNN da audiência nos EUA é como um porta-voz da guerra. Dá a entrevista coletiva do secretário de Defesa cotidianamente. Ontem, ele dizia:
- Já demos provas. Essa fixação que as pessoas têm, esse negócio de prova cabal (smoking gun)... A questão é se Saddam Hussein vai cooperar ou não. E ele não coopera.
Era uma maneira de conter as expectativas em relação as provas prometidas para hoje por seu colega, o secretário de Estado. Mas era também um aviso de que, com ou sem provas, a guerra vem aí.
E a Fox News está com ela. A emissora, que chegou ao Brasil quando Rupert Murdoch assumiu o controle da Sky, mudou o perfil da TV americana. Dizendo-se ele sim independente, contra o suposto domínio esquerdista na mídia, o canal foi a vanguarda da crescente patriotada na cobertura.
A afirmação da Fox News foi resultado da radicalização do ambiente político pós-11 de setembro. A emissora deixou a CNN para trás três meses depois. A CNN tentou seguir o modelo e só fez desfigurar de vez a imagem que tinha.
A característica da Fox News é carregar de opinião a cobertura, tornando-a "vibrante". Faz escolhas provocativas. No dia da eleição de George W. Bush, seu comentarista foi o próprio primo do republicano.
O presidente do canal, escolhido por Murdoch, tem como maior credencial o trabalho como assessor dos ex-presidentes Richard Nixon, Ronald Reagan e George Bush pai. O livro "Bush at War" relata que ele já assessorou o próprio Bush filho, por baixo do pano.
É esse o canal que deve comandar a cobertura da guerra, se houver, o canal com mais e melhores imagens, com acesso às principais fontes.
E que o resto da TV no mundo vai reproduzir.
 
É certo que haverá resistência. A líder pacifista Míriam Leitão nem se contém mais. Ontem atacava as "atitudes tão grotescas, tão primitivas" do presidente, na Globo:
- Bush filho tem tomado decisões que tornam esta guerra inaceitável. Uma foi nomear a filha do vice para decidir o que vai acontecer no Iraque após a queda de Saddam Hussein. Ela já disse que não quer eleições por lá porque poderia colher uma vitória islâmica. Prefere um ditador amigo.
Mais significativa, na resistência, é a presença de equipe própria em Bagdá.


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