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NO AR
Prova cabal
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
O selo da Fox News
anunciava ontem:
- Alvo: Iraque. A fase final.
O canal que derrubou a CNN
da audiência nos EUA é como
um porta-voz da guerra. Dá a
entrevista coletiva do secretário
de Defesa cotidianamente. Ontem, ele dizia:
- Já demos provas. Essa fixação que as pessoas têm, esse negócio de prova cabal (smoking gun)... A questão é se Saddam
Hussein vai cooperar ou não. E
ele não coopera.
Era uma maneira de conter as
expectativas em relação as provas prometidas para hoje por
seu colega, o secretário de Estado. Mas era também um aviso
de que, com ou sem provas, a
guerra vem aí.
E a Fox News está com ela. A
emissora, que chegou ao Brasil
quando Rupert Murdoch assumiu o controle da Sky, mudou o
perfil da TV americana. Dizendo-se ele sim independente, contra o suposto domínio esquerdista na mídia, o canal foi a
vanguarda da crescente patriotada na cobertura.
A afirmação da Fox News foi
resultado da radicalização do
ambiente político pós-11 de setembro. A emissora deixou a
CNN para trás três meses depois. A CNN tentou seguir o modelo e só fez desfigurar de vez a
imagem que tinha.
A característica da Fox News é
carregar de opinião a cobertura,
tornando-a "vibrante". Faz escolhas provocativas. No dia da
eleição de George W. Bush, seu
comentarista foi o próprio primo do republicano.
O presidente do canal, escolhido por Murdoch, tem como
maior credencial o trabalho como assessor dos ex-presidentes
Richard Nixon, Ronald Reagan
e George Bush pai. O livro "Bush
at War" relata que ele já assessorou o próprio Bush filho, por
baixo do pano.
É esse o canal que deve comandar a cobertura da guerra,
se houver, o canal com mais e
melhores imagens, com acesso
às principais fontes.
E que o resto da TV no mundo
vai reproduzir.
É certo que haverá resistência.
A líder pacifista Míriam Leitão
nem se contém mais. Ontem
atacava as "atitudes tão grotescas, tão primitivas" do presidente, na Globo:
- Bush filho tem tomado decisões que tornam esta guerra
inaceitável. Uma foi nomear a
filha do vice para decidir o que
vai acontecer no Iraque após a
queda de Saddam Hussein. Ela
já disse que não quer eleições
por lá porque poderia colher
uma vitória islâmica. Prefere
um ditador amigo.
Mais significativa, na resistência, é a presença de equipe própria em Bagdá.
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