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INVESTIGAÇÃO
Esquema foi usado por PC Farias e para desviar verbas do TRT-SP
Banco "lava" dinheiro de corrupção
DA REPORTAGEM LOCAL
O esquema de lavagem de dinheiro por meio da agência do
Banestado (Banco do Estado do
Paraná, privatizado em outubro
de 2000) em Nova York, que movimentou US$ 30 bilhões entre
1996 e 1999, foi utilizado para "esquentar" dinheiro dos principais
casos de corrupção brasileiros da
década de 1990.
Pela agência passaram recursos
provenientes do esquema PC Farias, das negociações irregulares
de títulos públicos para pagamento de precatórios (dívidas judiciais), das obras do Fórum Trabalhista de São Paulo e do superfaturamento de obras viárias da Prefeitura de São Paulo durante a
gestão Paulo Maluf (1993-96).
A agência também foi utilizada
para a remessa ilegal de recursos
ao exterior feita pela fraudadora
do INSS Jorgina de Freitas, pelo
suposto contrabandista de Mato
Grosso João Arcanjo Ribeiro e pelos fiscais do Rio de Janeiro acusados de extorquir dinheiro de empresas, que têm US$ 36 milhões
depositados na Suíça.
Segundo a Folha apurou, todos
os esquemas de corrupção utilizaram-se dos mesmos doleiros, "laranjas", bancos e contas CC5 (de não-residentes) para "lavar" parte do dinheiro que desviaram.
As operações da agência de Nova York do Banestado foram investigadas por uma equipe da Polícia Federal chefiada pelo delegado José Francisco de Castilho Neto, que conseguiu a quebra de sigilo bancário de todas as suas
contas. Os dados permitiram a
confecção de um mapa da lavagem de dinheiro no Brasil, guardado sob sigilo pela PF.
Sob a alegação de falta de recursos, a Polícia Federal não concluiu
o rastreamento das contas no ano
passado. Agora, avalia a possibilidade de enviar outra equipe a Nova York para que ela conclua o
trabalho de rastreamento.
Caminho do dinheiro
Contas de "laranjas" foram
abertas em todo o país para receber os recursos que seriam enviados ilegalmente ao exterior. Os "laranjas" sempre são pessoas pobres que não teriam condições de
movimentar o dinheiro que passou em suas contas.
Doleiros, distribuidoras de títulos mobiliários e empresas abasteceram as contas dos "laranjas",
que serviam apenas para transportar o dinheiro até Foz do Iguaçu (PR), de onde ele era remetido
ao exterior por meio de contas
CC5, geralmente abertas em nome de bancos ou casas de câmbio
paraguaias.
Depois de passar pela fronteira,
os recursos eram enviados a contas de doleiros abertas na agência
do Banestado de Nova York.
Nos Estados Unidos, o dinheiro
era distribuído para contas de
narcotraficantes, de contrabandistas, de políticos corruptos e de
empresários sonegadores de impostos, abertas em paraísos fiscais
na Europa e no Caribe.
Geralmente essas contas não estão em nome dos verdadeiros donos do dinheiro "lavado". Costumam ser numeradas, ter nomes
fantasias ou estar em nome de
empresas "offshore" -com
ações ao portador e sede virtual
em paraísos fiscais, que não têm
registro sobre seus proprietários.
Uma CC5 do Interbanco (filial
paraguaia do extinto Banco Nacional) foi utilizada para a remessa de dinheiro do esquema PC e do TRT. A Split Distribuidora de
Valores Ltda., que pertencia ao
empresário Enrico Piccioto, foi
um importante canal dos recursos da obra do TRT, do esquema
dos precatórios e até das verbas
públicas desviadas na construção
das obras viárias contratadas pela
Prefeitura de São Paulo.
Banestado
Giovani Gionédis, ex-secretário
da Fazenda do Paraná e ex-presidente do Conselho de Administração do Banestado, diz que suspeitas envolvendo a agência de
Nova York e o Banco del Paraná
(filial paraguaia do Banestado)
eram assunto corrente.
Ele afirma que o banco não pode ser responsabilizado pelas operações de lavagem de dinheiro
que seus clientes realizaram. Diz
que o Banestado em Foz do Iguaçu e o Banco del Paraná foram
usados por operarem na fronteira
com o Paraguai.
A agência do Banestado em Nova York foi fechada em 1999, após
surgirem as primeiras suspeitas
de que ela era usada para operações de lavagem de dinheiro.
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