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ELIO GASPARI
Viva Cristovam. Ele poupou a Viúva
Deve-se ao senador Cristovam Buarque uma exemplar demonstração de austeridade pessoal praticada pelo atual
governo. Como senador, tem direito a um salário de R$ 12.720,
mas dá expediente como ministro da Educação que remunera
R$ 8.280 mensais. Cristovam informou à mesa do Senado que ficará com o salário de ministro.
Seis outros companheiros ficaram com o salário de parlamentar. São pessoas que, tendo direito a tomar mais ou o menos da
Viúva, tomam mais. Decisão deles. Todos adultos. Chamam-se
Agnelo Queirós (Esporte), Anderson Adauto (Transportes),
José Dirceu (Casa Civil), Marina
Silva (Meio Ambiente), Miro
Teixeira (Comunicações) e Ricardo Berzoini (Previdência).
Austeridade, como nó de gravata, é uma coisa com a qual as
pessoas se preocupam, ou não. O
ministro Olívio Dutra devolve a
sua pensão de ex-governador do
Rio Grande do Sul e o presidente
Lula embolsa a sua aposentadoria de sindicalista perseguido pela ditadura (R$ 2.500). Ambos
adultos, ambos no exercício de
seus direitos.
Cristovam Buarque fez questão de ressaltar que sua decisão
não conteve nenhuma crítica
aos ministros que preferiram ficar no "Bolsa-Congresso". Ressaltado fica, mas não há lei que
obrigue o contribuinte a ser idiota. Se o deputado Ricardo Berzoini trabalha como ministro da
Previdência, qual salário ele deve receber: o de deputado (função que lhe foi dada pelo eleitorado, mas não pratica) ou de ministro?
A idéia de trabalhar num lugar (o ministério) recebendo salário de outro (o Parlamento)
ofende a lógica. Entre receber
mais ou receber menos, preferiram receber mais. Fizeram-no
no exercício de seu direito? Sem
dúvida. Esse é o problema da
Viúva. Sempre que lhe metem a
mão na Bolsa, seja em nome da
banca quebrada, dos usineiros
falidos ou dos parlamentares
atraídos para o ministério, ela
perde.
O PT está oferecendo novidades inquietantes à patuléia. Greve de transportes em São Paulo?
Coisa da vida, como a chuva.
Cadê a prefeita? Está em Paris,
com o consorte. Por coincidência, matando a fome no mesmo
restaurante onde estava o professor Fernando Henrique Cardoso. Fome Zero no Piauí? Ainda não ocorreu a um só hierarca
denunciar a espoliação do povo
da cidade de Guaribas pela sua
prefeitura (arrendada a um
mandarim local). Pretende-se
botar dinheiro da Viúva numa
comunidade onde há fome, mas
a prefeitura proíbe que se criem
galinhas e porcos naquilo que
por lá se entende por perímetro
urbano.
Falta ao governo uma demonstração coerente de carinho
pela bolsa da Viúva. Olívio Dutra (e Ciro Gomes) recusam-se a
embolsar pensões adicionais aos
seus salários de ministros. Cristovam Buarque recusa-se a ganhar como senador quando trabalha na função de ministro. Esses são os bons exemplos. Os outros são ruins. Não pelo custo,
pois cobram mixarias. É uma
questão de exemplo, de postura.
Entre Epitácio Pessoa e dom
Pedro 2º, a ética governista está
mais para Epitácio. Ele se aposentou aos 47 anos, por invalidez, como ministro do Supremo
Tribunal Federal. Aposentado,
elegeu-se senador e presidente
da República. Morreu aos 77
anos, com todas as pensões que a
República lhe devia. E dom Pedro 2º? Quando o golpe militar o
desterrou, ofereceu-lhe uma
pensão de 2.000 contos. Recusou-a.
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