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São Paulo, quarta-feira, 05 de fevereiro de 2003

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QUESTÃO AGRÁRIA

Sem-terra, que bloquearam estrada, negam "sequestro"

MST mantém secretário de AL como refém por 5 horas

Maikel Marques/"Gazeta de Alagoas"
Com paus e foices, sem-terra correm em direção ao helicóptero da PM em estrada de Alagoas


EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

Em sua primeira ação de impacto no governo Luiz Inácio Lula da Silva, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) manteve ontem refém, durante cinco horas, o secretário da Agricultura de Alagoas, Reinaldo Falcão, em Olho d'Água do Casado (oeste do Estado), segundo a PM.
A coordenação estadual do MST nega a acusação da polícia, dizendo que o secretário permaneceu "por sua vontade" no trecho bloqueado por cerca de 400 sem-terra na rodovia AL-220, estando impedido apenas de levar seu carro. "[A barricada] é para o presidente Lula ver onde estão os problemas. É um alerta sem cobrança", disse Marcone Alves, da coordenação do movimento.
Os sem-terra, que segundo a PM estavam armados com pedaços de pau, facões e foices, só desbloquearam a estrada, por volta das 15h15, após três horas de conversa com membros da Comissão de Direitos Humanos da Polícia Militar, que viajaram de helicóptero à cidade a pedido do governador Ronaldo Lessa (PSB). A barricada havia começado às 4h.
Divididos em dois blocos no início do bloqueio, os trabalhadores rurais cercaram cerca de 12 carros, seis caminhões e quatro ônibus, que foram impedidos de deixar o local, segundo a PM. Houve congestionamento de 2 km em ambos os sentidos.
O secretário da Agricultura, que fazia inspeções em projetos na região, foi ao local por volta das 8h para tentar iniciar as negociações, mas não houve acordo. Segundo ele e a própria PM, seu carro também foi cercado pelos sem-terra. "Foram momentos tensos, pois não tinha como negociar nem deixar o local."
A PM conseguiu convencer os sem-terra a desbloquear a AL-220 após uma reunião entre representantes do MST e do governo estadual ser marcada para as 15h de hoje, na cidade vizinha de Delmiro Gouveia (289 km de Maceió). Um representante do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) estará no encontro "como mediador", segundo a assessoria do órgão.
Os integrantes do MST pedem ao governo federal, por meio do Incra, a instalação de infra-estrutura básica em dois assentamentos criados recentemente no Estado, além da desapropriação de terras para acomodar cerca de 500 famílias que estão acampadas há dois anos em estradas vicinais. O MST quer ainda que o governo forneça cestas básicas.
Segundo o presidente do Incra, Marcelo Resende, a atitude do MST está mais ligada à gestão FHC, já que a principal reivindicação trata da infra-estrutura dos assentamentos. Por sua assessoria, ele disse que o governo alagoano deverá responder à maioria dos pedidos dos sem-terra. "A maioria das reivindicações está ligada ao governo federal, mas vamos colaborar com a alimentação e enviaremos [à reunião] representantes dos setores de água e luz do Estado", disse Ronaldo Lessa.
Manifestações como a de ontem se tornaram rotina em Alagoas nos últimos anos. No oeste do Estado, há o predomínio de ações do MST. Na região nordeste, os protestos ficam por conta do Movimento dos Trabalhadores.
Ontem, após o desbloqueio da rodovia, os sem-terra caminharam até o centro de Delmiro Gouveia, onde foram alojados em uma escola municipal, onde aguardarão a reunião de hoje.

Colaborou GILVAN FERREIRA, free-lance para a Agência Folha em Delmiro Gouveia


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