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JANIO DE FREITAS
O sinal dos boatos
O governo está elaborando uma crise, lenta, gradual e seguramente. E, ao que
tudo indica, inconscientemente,
embora nada haja de percepção
e compreensão muito difícil.
Uma chuva de boatos, boatos
para todos os gostos, inundou o
ambiente nos últimos dias e chegou a dois resultados. Um evidente, que foi o reaparecimento
do ministro Antonio Palocci para servir um pretenso tranqüilizante, e outro, por ora menos
evidente, porém já mais eficaz,
que é o fortalecimento das razões criadoras dos boatos.
Palocci negou a possibilidade
de mudança na política econômica, negou divergências no governo em torno dessa política e
negou que seus dois principais
assessores, que de fato conduzem a política econômica, corram qualquer risco em seus poderes. Palocci pareceu convicto
de que desfazia os boatos.
Não foi geração espontânea
que os boatos surgiram e se propagaram com rapidez. Muitos
dos sinais que os produziram
vieram de dentro do governo
mesmo, e caíram no terreno
propício da insatisfação crescente no empresariado industrial e comercial, além de boa
parte do que chamam de base
do governo. Nesses territórios os
boatos prosperaram com ânimo
e facilidade.
A constatação inicial, portanto, é a da falta de fundamento
na negação, por Palocci, de divergências no governo motivadas pela política econômica e
acirradas pela recente recusa,
da Fazenda e do Banco Central,
de continuar, por mínimo que
fosse, a redução dos juros estrangulantes.
A constatação seguinte é mais
significativa. Palocci, em mais
uma reprodução da mesma entrevista que dá desde sua posse,
em vez de aplacar as insatisfações e aspirações que já transbordam sob a forma de boatos,
reafirmou, até com certo desafio, tudo o que as provoca. Ainda que nada pretenda conceder,
aos que anseiam pelo fim da paralisia econômica, não precisava levar tão longe a inabilidade
política.
A entrevista de Palocci predispõe os já inquietos para reagir
pior aos dados e fatos que confirmarão a continuidade do recessivismo -como o corte de
mais de um terço, agora mesmo,
dos já escassos recursos de investimento previstos no Orçamento
que mal começou a vigorar. Os
métodos de engodo governamental podem ser eficientes,
mas limitados, e se esgotam.
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