São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2004

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REGIME MILITAR

Depoimentos podem levar a corpos de guerrilheiros do Araguaia

Peritos iniciam busca por ossadas

JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MARABÁ (PA)

Um grupo de peritos enviado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos a Tocantins inicia hoje trabalho para localizar corpos de integrantes da guerrilha do Araguaia que podem estar enterrados na cidade de Xambioá, a 502 quilômetros de Palmas.
A guerrilha foi um movimento armado de integrantes do PC do B que atuou na divisa dos Estados de Tocantins (na época, Goiás) e Pará. Foi combatida e derrotada pelo Exército entre 1972 e 1975. Segundo dados do Ministério da Justiça, 61 pessoas desapareceram na região durante o período.
O grupo é composto por três antropólogas argentinas, um geólogo da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e um geneticista do Laboratório de DNA da Universidade Federal de Alagoas.
Eles viajaram na tarde de ontem em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) de Brasília a Marabá (PA), acompanhados por integrantes da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos do Ministério da Justiça e familiares de desaparecidos no regime militar.
Hoje de manhã, o secretário nacional dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, chega a Marabá e parte de carro para Xambioá.
A ida ocorre depois de a revista "Época" ter revelado, no último final de semana, depoimentos de ex-soldados que indicaram locais onde podem estar enterradas ao menos quatro pessoas que participaram da guerrilha. No início da semana, Nilmário pediu para o local ser isolado.
De acordo com o geólogo Paulo Roberto Antunes Aranha, da UFMG, um radar terrestre que emite ondas eletromagnéticas para o solo e capta o retorno dessas ondas, facilitando com isso a identificação dos locais que possam conter covas, será usado durante o trabalho e nas escavações. Os trabalhos do grupo devem se estender até o dia 12.
Uma das pessoas que acompanha o grupo é a ex-guerrilheira Criméia Almeida, 57, que viveu na região do Araguaia de janeiro de 1969 até agosto de 1972, quando conseguiu fugir, grávida, para São Paulo. Para ela, as chances de encontrar os corpos desaparecidos aumentaram com os depoimentos dos ex-soldados. Ela teve um relacionamento e um filho com André Grabois, desaparecido no Araguaia.


Os jornalistas JOSÉ EDUARDO RONDON e ALAN MARQUES viajaram em avião da FAB, a convite da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, no trecho Brasília-Marabá (PA)


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