|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Julgamento marca volta de criminalista ao tribunal
da enviada especial a Vitória
O julgamento de José Rainha
marca a volta aos tribunais do júri
do ex-ministro do STF (Supremo
Tribunal Federal) Evandro Lins e
Silva, 88, considerado o maior criminalista brasileiro vivo.
Um dos autores da acusação
contra Fernando Collor de Mello
no processo de impeachment em
1992, Lins e Silva faz parte da história dos tribunais do júri no Brasil. Defendeu mais de 2.000 presos
políticos durante o Estado Novo
(1937-1945), sempre de graça.
Sua última atuação no Tribunal
do Júri foi em 1979, na defesa de
Doca Street, acusado pelo homicídio da socialite Angela Diniz.
Lins e Silva aceitou a causa de
Rainha para atender a um pedido
do coordenador nacional do MST
João Pedro Stédille e do escritor
português José Saramago, prêmio
Nobel de Literatura e defensor da
causa dos sem-terra.
A defesa de Rainha também é
gratuita, e Lins e Silva pagou do
próprio bolso sua viagem a Vitória. Levou com ele sete membros
de sua família, entre os quais um
neto, o advogado Tiago, 24, que o
auxilia no plenário.
Foi de Lins e Silva a idéia de distribuir aos jurados um memorial
do caso. O documento foi entregue nas casas dos jurados, e provocou protestos da acusação. Informado delas, Lins e Silva disse
que distribui os memoriais há 70
anos: ""Não iria fazer chicana".
Para sustentação oral da defesa
de Rainha, Lins e Silva buscaria
argumentos nos ""sermões" do
padre Antônio Vieira, em que o
autor fala do dom da ubiquidade,
ou seja, a capacidade de estar em
dois lugares ao mesmo tempo:
""Rainha não é Deus para estar em
dois lugares ao mesmo tempo".
A vitalidade e o entusiasmo de
Lins e Silva, que fez questão de
acompanhar os depoimentos e a
leitura das peças do processo, surpreenderam o plenário, mas não
seus familiares. ""Ele é muito entusiasmado. Ensina não só na profissão, mas também na vida. Sempre nos disse que o julgamento
mais importante da sua vida é
sempre o próximo", afirmou Tiago Lins e Silva.
Tiago afirmou não saber se seu
avô pretende participar de outros
julgamentos. ""Espero que ele ainda participe." O ex-ministro passou o Carnaval estudando o processo de Rainha e costumava ligar
para os parceiros na banca da defesa para dar idéias sobre o caso.
A ida de Lins e Silva à tribuna
era aguardada não só pela defesa,
mas pela própria acusação e por
dezenas de estudantes e advogados que lotavam o plenário. Um
de seus livros, ""Salão dos Passos
Perdidos", se encontrava sobre a
mesa dos advogados de acusação.
Coordenador da defesa de Rainha até a entrada de Lins e Silva
no grupo (hoje são sete advogados), o advogado Luís Eduardo
Greenhalgh disse que se sente honrado com a parceria.
Segundo ele, os dois trabalharam juntos em 1989, no encaminhamento da candidatura de Luiz
Inácio Lula da Silva à Presidência
da República.
""É um homem de reputação ilibada, e a própria presença dele na
defesa já é um sinal da inocência
de Rainha", afirmou Greenhalgh,
que assistiu como estagiário a
atuação de Lins e Silva no julgamento de Doca Street.
(FE)
Texto Anterior: Questão agrária: Defesa de Rainha ameaça pedir anulação Próximo Texto: Evandro foi procurador-geral e ministro do STF Índice
|