São Paulo, quarta-feira, 05 de abril de 2000


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Julgamento marca volta de criminalista ao tribunal

da enviada especial a Vitória


O julgamento de José Rainha marca a volta aos tribunais do júri do ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Evandro Lins e Silva, 88, considerado o maior criminalista brasileiro vivo.
Um dos autores da acusação contra Fernando Collor de Mello no processo de impeachment em 1992, Lins e Silva faz parte da história dos tribunais do júri no Brasil. Defendeu mais de 2.000 presos políticos durante o Estado Novo (1937-1945), sempre de graça.
Sua última atuação no Tribunal do Júri foi em 1979, na defesa de Doca Street, acusado pelo homicídio da socialite Angela Diniz.
Lins e Silva aceitou a causa de Rainha para atender a um pedido do coordenador nacional do MST João Pedro Stédille e do escritor português José Saramago, prêmio Nobel de Literatura e defensor da causa dos sem-terra.
A defesa de Rainha também é gratuita, e Lins e Silva pagou do próprio bolso sua viagem a Vitória. Levou com ele sete membros de sua família, entre os quais um neto, o advogado Tiago, 24, que o auxilia no plenário.
Foi de Lins e Silva a idéia de distribuir aos jurados um memorial do caso. O documento foi entregue nas casas dos jurados, e provocou protestos da acusação. Informado delas, Lins e Silva disse que distribui os memoriais há 70 anos: ""Não iria fazer chicana".
Para sustentação oral da defesa de Rainha, Lins e Silva buscaria argumentos nos ""sermões" do padre Antônio Vieira, em que o autor fala do dom da ubiquidade, ou seja, a capacidade de estar em dois lugares ao mesmo tempo: ""Rainha não é Deus para estar em dois lugares ao mesmo tempo".
A vitalidade e o entusiasmo de Lins e Silva, que fez questão de acompanhar os depoimentos e a leitura das peças do processo, surpreenderam o plenário, mas não seus familiares. ""Ele é muito entusiasmado. Ensina não só na profissão, mas também na vida. Sempre nos disse que o julgamento mais importante da sua vida é sempre o próximo", afirmou Tiago Lins e Silva.
Tiago afirmou não saber se seu avô pretende participar de outros julgamentos. ""Espero que ele ainda participe." O ex-ministro passou o Carnaval estudando o processo de Rainha e costumava ligar para os parceiros na banca da defesa para dar idéias sobre o caso.
A ida de Lins e Silva à tribuna era aguardada não só pela defesa, mas pela própria acusação e por dezenas de estudantes e advogados que lotavam o plenário. Um de seus livros, ""Salão dos Passos Perdidos", se encontrava sobre a mesa dos advogados de acusação.
Coordenador da defesa de Rainha até a entrada de Lins e Silva no grupo (hoje são sete advogados), o advogado Luís Eduardo Greenhalgh disse que se sente honrado com a parceria.
Segundo ele, os dois trabalharam juntos em 1989, no encaminhamento da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República.
""É um homem de reputação ilibada, e a própria presença dele na defesa já é um sinal da inocência de Rainha", afirmou Greenhalgh, que assistiu como estagiário a atuação de Lins e Silva no julgamento de Doca Street.
(FE)


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