São Paulo, sábado, 05 de abril de 2008

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Estudantes dormem no chão e dançam forró na 1ª noite de invasão na UnB

Ricardo Marques/Folha Imagem
Estudantes da UnB fazem o enterro simbólico de Timothy Mulholland durante protesto pela saída do reitor da universidade

JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O cheiro quase insuportável que emanava dos banheiros do gabinete do reitor da UnB (Universidade de Brasília) e a luz só de velas não desanimaram os cerca de 80 estudantes-invasores que decidiram passar a noite no local. Eles invadiram anteontem o gabinete do reitor Timothy Mulholland, por volta das 14h30, pedindo a saída dele e de seu vice, Edgar Mamya.
A Folha acompanhou as 18 primeiras horas da invasão, ao lado dos estudantes. Às 8h20 de ontem, foi convidada a se retirar. Durante a noite, foi possível identificar o cheiro de maconha no local.
O espaço foi informalmente dividido em quatro grandes ambientes e algumas áreas mais reservadas. Na entrada, o grupo dos rapazes "mais fortes" se concentrava em vigiar a porta e evitar uma possível entrada da polícia. Eles se revezaram em turnos e dormiram pelo chão.
O salão ao lado, utilizado como sala de assembléias, reuniu o maior número de estudantes que procuraram descansar.
Cerca de 50 deles se espalharam por cadeiras e pelo chão. Alguns conseguiram colchonetes e cobertas, recebidos por sistema de entrega içada pela janela. Esse foi o local escolhido pela repórter da Folha para passar a noite, acomodada num canto no chão e sem coberta.
Outros optaram pela sala do reitor propriamente dita. Enquanto alguns se esparramaram no sofá e nas poltronas mais confortáveis do gabinete, um estudantes decidiu dormir dentro do caixão usado para arrombar a porta e que foi colocado na mesa do reitor.

Ao vivo
O quarto ambiente da invasão -e certamente o mais animado- era o terraço, ao lado da sala do reitor. O local serviu para os estudantes dançarem forró, com banda ao vivo.
As conversas também se dividiram por ambientes. A sala do reitor foi espaço para debates sobre as atitudes "impróprias" do reitor e para um pouco de investigação.
Em gavetas, os estudantes acharam uma cópia original do programa Microsoft Office, o que deixou todos espantados. "É original!", disse um. Em seguida, o conteúdo das gavetas foi deixado como estava. "Deixa tudo aí", disse outro estudante.
Às 21h, os estudantes receberam um convite impresso para o "happy hour da ocupação", que seria realizado no andar térreo da reitoria com os que não puderam subir.
Quando a invasão completou dez horas, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), ex-reitor da UnB e ex-ministro da Educação do governo Lula, apareceu para conversar. O senador, no entanto, não foi duro com o atual reitor Timothy Mulholland.
Todos os estudantes acordaram cedo, por volta das 6h30. Uma das líderes da invasão, Catharina Lincoln, 20, acordou de bom humor. "Agora é que a gente vai ver quem é bonitinho de verdade", brincou, arrumando o cabelo.
Duas horas depois, a reportagem foi convidada a sair.


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