São Paulo, sexta-feira, 05 de maio de 2000


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PARANÁ
Soldados estavam em carro que teria sido amassado por integrantes do MST, segundo as investigações
PM atirou em sem-terra, diz delegado

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
da Agência Folha, em Curitiba


O delegado de Homicídios de Curitiba, Fauze Mahmoud Hussain, disse ontem que o tiro contra o sem-terra Antônio Tavares Pereira, morto na última terça, partiu de PMs que estavam em uma perua Veraneio amarela na BR-277.
Hussain irá requisitar hoje à Polícia Militar a apresentação da camionete, cujo capô, conforme informou, foi amassado pelos companheiros de Pereira.
Assim que souber quem eram os ocupantes da Veraneio -provavelmente um grupo de quatro soldados-, o delegado disse que irá descobrir o autor do disparo.
Baseado em suas investigações, Hussain afirmou que o confronto ocorreu às 8h15, quando o ônibus em que Pereira estava foi barrado pela PM, que teria pedido ao grupo que retornasse a Candói (360 km de Curitiba).
No caminho de volta, o ônibus de Pereira encontrou outros ônibus de sem-terra que seguiam para Curitiba. Ele e outros militantes do MST teriam descido do ônibus, contrariando os PMs. Segundo o delegado, os policiais não faziam parte do grupo que fora destacado para coibir o movimento.
"Houve disparos intimidatórios por parte da PM. Não houve intenção deliberada. Tanto que o projétil encontrado no corpo estava deformado", afirmou.
Hussain disse que Pereira foi levado ao Hospital do Trabalhador por um casal que dirigia um Chevette, que ficou impedido de trafegar pela rodovia BR-277 devido à manifestação do MST. O sem-terra Aparecido Alves, uma das testemunhas, acompanhou Pereira até o hospital. A polícia ainda não localizou o casal nem Alves.
A assessoria da Secretaria da Segurança do Paraná informou que o secretário José Tavares solicitou relatório a Hussain para tomar conhecimento dos novos fatos. Até ontem, a secretaria negava que o conflito tivesse ocorrido.
A assessoria do governador Jaime Lerner (PFL) disse que não há mudança na posição do Executivo. Segundo a assessoria, Lerner quer a apuração "concreta e urgente" das responsabilidades da PM e dos sem-terra.
Cerca de 200 pessoas acompanharam o velório e o enterro do agricultor Antônio Tavares Pereira, 38, ontem pela manhã, no assentamento Ilhéus, em Candói.
Entre as lideranças do MST, estava João Pedro Stedile, integrante da direção nacional do movimento. "O secretário (José Tavares) disse, em entrevista, que assumiria toda a responsabilidade pela ação que resultou na morte de um companheiro e deixou outro desaparecido. Então, ele que responda no banco dos réus por esse crime."


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