São Paulo, sexta-feira, 05 de maio de 2000


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ALAGOAS
Irmão de PC Farias, que terá pedida a cassação pela CPI do Narcotráfico, nega que pressionará deputados
Augusto insinua abrir segredos de PC

MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió


As ajudas ilegais de Paulo César Farias a políticos na campanha eleitoral de 1990 podem vir a ser usadas pelo deputado Augusto Farias (PPB-AL), irmão de PC, para não ter o mandato cassado pela Câmara.
Augusto, 43, disse ontem à Folha não se lembrar, "por enquanto", de parlamentares que receberam apoio de PC. "Isso lá na frente é que se pode ver."
Apesar da insinuação, o deputado afirmou que não é "delator" e que não pressionará deputados com as informações que tem.
Anteontem, disse que Róbson Tuma (PFL-SP), sub-relator da CPI do Narcotráfico, recebeu o equivalente a R$ 500 mil de PC em 1990. Tuma negou. Integrantes da CPI anunciaram em Alagoas que a comissão pedirá a cassação de Augusto, acusando-o de quebra de decoro parlamentar.
O motivo principal seria o deputado supostamente ter uma empresa, a Tigre Vigilância, em nome de testas-de-ferro.

Folha - Como o sr. vê a proposta da sua cassação?
Augusto Farias -
A cada dia a CPI está procurando um motivo para me envolver. Não tive envolvimento direto ou indireto com nenhum traficante. Foi o deputado Róbson Tuma quem teve a bandeira de a CPI vir a Alagoas. Era "vamos investigar o deputado, vamos agora execrar". Ele está usufruindo da CPI, como sub-relator, para me perseguir.

Folha - O sr. teme ser cassado?
Augusto -
A quebra de decoro é muito ampla dentro da Câmara, o regimento eu conheço. Se você for analisar por esse prisma, o Róbson Tuma está cometendo a mesma quebra de decoro, se é que existe, porque está expondo os meus sigilos para a imprensa.
A CPI não é soberana, pode sugerir. Até hoje não conseguiu provar nada contra a minha pessoa.

Folha - O sr. disse ter amigos que impedirão a sua cassação. Quem são eles?
Augusto -
O que eu quis dizer com "amigos" é que ontem recebi a solidariedade de mais de 20 deputados, dizendo que estou sendo execrado. A Câmara é justa. Não vai simplesmente cassar um parlamentar porque uma comissão sugeriu que ele quebrou o decoro.

Folha - O sr. pode dizer quem foram os 20 deputados?
Augusto -
Eu me reservo o direito de não citar.

Folha - O sr. falou em ajuda de R$ 500 mil de PC Farias para Róbson Tuma, em 1990, quando o real ainda não era a moeda brasileira. Qual teria sido o valor? US$ 250 mil, US$ 300 mil?
Augusto -
Fiz uma projeção. Fico no real para a população entender.

Folha - Quer dizer então que o seu irmão PC Farias de fato financiava campanhas que não apareciam na prestação de contas de políticos?
Augusto -
O Róbson Tuma é um caso concreto.

Folha - E essa era uma prática geral?
Augusto -
Eu não quero falar de prática geral. Digo que Róbson Tuma era uma coisa concreta.

Folha - Houve outros casos como o que supostamente envolveu Róbson Tuma?
Augusto -
Não sei.

Folha - O sr. só sabe dele?
Augusto -
Por enquanto, sim.

Folha - "Por enquanto" quer dizer que o sr. pode se lembrar de outros casos?
Augusto -
Não sei. Isso só lá na frente é que se pode ver.

Folha - Em 1990, PC foi fundamental no financiamento de campanhas eleitorais em todo o Brasil. O sr. pode usar essas informações para ajudá-lo na defesa na Câmara?
Augusto -
Não quero caracterizar isso como defesa.

Folha - Não pode usar as ajudas dadas por seu irmão como barganha política com deputados?
Augusto -
Não, não sou delator.

Folha - Teria muita gente para delatar?
Augusto -
Não.

Folha - Pouca gente?
Augusto -
Quem sabe?

Folha - Pessoas próximas a PC dizem que ele gravou muitas conversas telefônicas com políticos que lhe pediam favores. Teria gravações em vídeo, feitas na casa de Brasília. As fitas existem?
Augusto -
Isso é um caso sobre o qual eu não gostaria de falar.

Folha - Nem para dizer sim ou não?
Augusto -
Não gostaria de falar.

Folha - O jornalista Roberto Baía, funcionário da "Tribuna de Alagoas" (jornal pertencente a Augusto e parentes), fez uma previsão numa conversa gravada pelo delegado que presidiu o inquérito do caso PC em 1999. Baía falou que, se o sr. for cassado, a família acabará. O que isso quer dizer?
Augusto -
O senhor Roberto Baía não tinha procuração nem seria nenhum preposto meu. Minha intimidade com ele era quase mínima. O que ele falou foi por conta dele.

Folha - Ele continua sendo funcionário da "Tribuna"?
Augusto -
Sim.

Folha - O condomínio de fevereiro do seu apartamento foi pago com dinheiro saído da conta da Tigre Vigilância, que não está em seu nome. Isso não configura uma participação sua na empresa?
Augusto -
Não só o condomínio de fevereiro. Todas as quintas-feiras dou dinheiro a Marcos Maia (sócio da Tigre) para que ele faça os meus pagamentos pessoais. Não é crime ter ex-assessor e amigo que possa cuidar de suas contas.

Folha - A Operação Mãos Limpas, iniciativa italiana contra a máfia, descobriu na Europa movimentação financeira de PC Farias em contas operadas por narcotraficantes. Antes o sr. tinha conhecimento dessa movimentação?
Augusto -
Nunca soube.

Folha - Sabe de outras contas?
Augusto -
Nenhuma. Se elas existissem, iria doar seus recursos para instituições de caridade.

Folha - O sr. tem contas no exterior?
Augusto -
Queria saber como é que se abre.


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