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ALAGOAS
Irmão de PC Farias, que terá pedida a cassação pela CPI do Narcotráfico, nega que pressionará deputados
Augusto insinua abrir segredos de PC
MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió
As ajudas ilegais
de Paulo César Farias a políticos na
campanha eleitoral
de 1990 podem vir a
ser usadas pelo deputado Augusto Farias (PPB-AL),
irmão de PC, para não ter o mandato cassado pela Câmara.
Augusto, 43, disse ontem à Folha não se lembrar, "por enquanto", de parlamentares que receberam apoio de PC. "Isso lá na frente é que se pode ver."
Apesar da insinuação, o deputado afirmou que não é "delator" e
que não pressionará deputados
com as informações que tem.
Anteontem, disse que Róbson
Tuma (PFL-SP), sub-relator da
CPI do Narcotráfico, recebeu o
equivalente a R$ 500 mil de PC em
1990. Tuma negou. Integrantes da
CPI anunciaram em Alagoas que
a comissão pedirá a cassação de
Augusto, acusando-o de quebra
de decoro parlamentar.
O motivo principal seria o deputado supostamente ter uma
empresa, a Tigre Vigilância, em
nome de testas-de-ferro.
Folha - Como o sr. vê a proposta da sua cassação?
Augusto Farias - A cada dia a
CPI está procurando um motivo
para me envolver. Não tive envolvimento direto ou indireto com
nenhum traficante. Foi o deputado Róbson Tuma quem teve a
bandeira de a CPI vir a Alagoas.
Era "vamos investigar o deputado, vamos agora execrar". Ele está
usufruindo da CPI, como sub-relator, para me perseguir.
Folha - O sr. teme ser cassado?
Augusto - A quebra de decoro é
muito ampla dentro da Câmara, o
regimento eu conheço. Se você for
analisar por esse prisma, o Róbson Tuma está cometendo a mesma quebra de decoro, se é que
existe, porque está expondo os
meus sigilos para a imprensa.
A CPI não é soberana, pode sugerir. Até hoje não conseguiu provar nada contra a minha pessoa.
Folha - O sr. disse ter amigos
que impedirão a sua cassação.
Quem são eles?
Augusto - O que eu quis dizer
com "amigos" é que ontem recebi
a solidariedade de mais de 20 deputados, dizendo que estou sendo
execrado. A Câmara é justa. Não
vai simplesmente cassar um parlamentar porque uma comissão
sugeriu que ele quebrou o decoro.
Folha - O sr. pode dizer quem
foram os 20 deputados?
Augusto - Eu me reservo o direito de não citar.
Folha - O sr. falou em ajuda de
R$ 500 mil de PC Farias para
Róbson Tuma, em 1990, quando
o real ainda não era a moeda
brasileira. Qual teria sido o valor? US$ 250 mil, US$ 300 mil?
Augusto - Fiz uma projeção. Fico no real para a população entender.
Folha - Quer dizer então que o
seu irmão PC Farias de fato financiava campanhas que não
apareciam na prestação de contas de políticos?
Augusto - O Róbson Tuma é
um caso concreto.
Folha - E essa era uma prática
geral?
Augusto - Eu não quero falar de
prática geral. Digo que Róbson
Tuma era uma coisa concreta.
Folha - Houve outros casos como o que supostamente envolveu Róbson Tuma?
Augusto - Não sei.
Folha - O sr. só sabe dele?
Augusto - Por enquanto, sim.
Folha - "Por enquanto" quer
dizer que o sr. pode se lembrar
de outros casos?
Augusto - Não sei. Isso só lá na
frente é que se pode ver.
Folha - Em 1990, PC foi fundamental no financiamento de
campanhas eleitorais em todo o
Brasil. O sr. pode usar essas informações para ajudá-lo na defesa na Câmara?
Augusto - Não quero caracterizar isso como defesa.
Folha - Não pode usar as ajudas dadas por seu irmão como
barganha política com deputados?
Augusto - Não, não sou delator.
Folha - Teria muita gente para
delatar?
Augusto - Não.
Folha - Pouca gente?
Augusto - Quem sabe?
Folha - Pessoas próximas a PC
dizem que ele gravou muitas
conversas telefônicas com políticos que lhe pediam favores.
Teria gravações em vídeo, feitas
na casa de Brasília. As fitas existem?
Augusto - Isso é um caso sobre
o qual eu não gostaria de falar.
Folha - Nem para dizer sim ou
não?
Augusto - Não gostaria de falar.
Folha - O jornalista Roberto
Baía, funcionário da "Tribuna de
Alagoas" (jornal pertencente a
Augusto e parentes), fez uma
previsão numa conversa gravada pelo delegado que presidiu o
inquérito do caso PC em 1999.
Baía falou que, se o sr. for cassado, a família acabará. O que isso
quer dizer?
Augusto - O senhor Roberto
Baía não tinha procuração nem
seria nenhum preposto meu. Minha intimidade com ele era quase
mínima. O que ele falou foi por
conta dele.
Folha - Ele continua sendo
funcionário da "Tribuna"?
Augusto - Sim.
Folha - O condomínio de fevereiro do seu apartamento foi
pago com dinheiro saído da
conta da Tigre Vigilância, que
não está em seu nome. Isso não
configura uma participação sua
na empresa?
Augusto - Não só o condomínio de fevereiro. Todas as quintas-feiras dou dinheiro a Marcos
Maia (sócio da Tigre) para que ele
faça os meus pagamentos pessoais. Não é crime ter ex-assessor
e amigo que possa cuidar de suas
contas.
Folha - A Operação Mãos Limpas, iniciativa italiana contra a
máfia, descobriu na Europa movimentação financeira de PC Farias em contas operadas por
narcotraficantes. Antes o sr. tinha conhecimento dessa movimentação?
Augusto - Nunca soube.
Folha - Sabe de outras contas?
Augusto - Nenhuma. Se elas
existissem, iria doar seus recursos
para instituições de caridade.
Folha - O sr. tem contas no exterior?
Augusto - Queria saber como é
que se abre.
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